Fundação Padre Anchieta

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Reprodução da internet
Reprodução da internet Arrigo Barnabé e o produtor musical e compositor Ronaldo Bastos. Ao lado, a capa do antológico álbum Clube da Esquina, de 1972. (Pedro Sato)

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A gente ouvia muito o Tommy, do The Who, que tinha essa idéia da ópera rock. O Clube da Esquina é uma espécie de ópera rock sem enredo, mas que acaba tendo uma lógica. Pra mim tem uma lógica perfeita!

Milton Nascimento mudou os parâmetros e criou um novo conceito para a música latinoamericana. Assim decreta Ronaldo Bastos, compositor e produtor musical, parceiro de Milton, com quem assina cinco faixas, além da produção do emblemático Clube da Esquina, álbum editado em 1972. “Milton tem uma presença. É impossível não notá-lo e não deixar com que ele te conduza a algum lugar”, declara o autor de “Cravo e canela” e “Cais”.

Clube da Esquina é um marco das Minas Gerais na discografia brasileira. Gravado no Estúdio Odeon, no Rio, “até hoje referência para engenheiros de som”, o álbum duplo (nada comum para a época) não tem o nome de Milton na capa e apresenta um “desconhecido” Lô Borges. Aliás, os dois garotos da fotografia foram flagrados da janela de um fusca, na beira de uma estrada de terra, pelo fotógrafo Cafi, que integrava a turma de cabeludos.

Eu estava lá

Ronaldo lembra de uma época em que as gravadoras funcionavam como núcleos de criação: “As gravadoras tinham estúdio, orquestras e maestros contratados, e tinham tempo”. Clube da Esquina foi gravado madrugadas adentro durante dois meses. “Eu estava em todos os dias da gravação. Era igual a beber água, viver. Nesse tempo não se separava essa coisa da vida com ir para o estúdio. Fazia parte”, recorda.

“Esses malucos tinham uma qualidade musical que todos respeitavam. Tinha uma inquietação também porque a gente era jovem e queria fazer a revolução de tudo. E estava com o pé na estrada, não tinha compromisso com nada. O compromisso era fazer uma coisa que a gente não sabia o que era.”


De nuvens e seu canto latino

“Pedras que rolam, objetos luminosos, nuvem no céu e raiz; são as primeiras imagens que me vêm com a lembrança daquela tribo de cabeludos que se reuniu em torno de Milton Nascimento. Rios, uns vinham com ele de Minas. Outros, como eu, foram arrebatados pela correnteza. Passamos a caminhar juntos”, assim Ronaldo Bastos introduz o Clube da Esquina em edição remasterizada lançada em 2007. “O Clube da Esquina é a imaginação no poder. Sensíveis a ele, multidões passaram a segui-lo e a encher estádios. O seu canto latino é a língua comum de novas gerações de artistas em todo mundo, especialmente na América Latina, onde sua arte provocou o renascimento moderno daquela música.”