Fundação Padre Anchieta

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MANAUS – O racismo, a violência e como a comunicação transmite estes assuntos foi o tema da conferência inaugural da oitava edição do Curso de Extensão Mídia, Violência e Direitos Humanos (MVDH). Muniz Sodré, jornalista, sociólogo, tradutor brasileiro e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), abordou pontos essenciais para a discussão, com uma análise da realidade brasileira atual.

“Eu vou entender violência não só como exercício de força destrutiva, descontrolada. Portanto, a violência anômica, dos crimes, assaltos, das mortes injustificadas, e a violência como condição social, o que eu chamo de estado da violência. No Brasil, essas duas se superpõem. Para vermos como isso acontece, em 2020, a polícia matou 17 pessoas por dia no Brasil inteiro. Isso é a violência anômica”, explicou. Essa diferença entre conceitos é um fator importante para a discussão sobre o racismo.

De acordo com Sodré, a questão racial é um exemplo da violência como condição social, que se tornou uma discussão primária na realidade social mundial, irrompendo o idealismo histórico que tem como prioridade a definição de estruturas geopolíticas para a construção de uma sociedade. Esse mesmo pensamento definia que a relação de classe, se fosse aferida principalmente pela estrutura socioeconômica, esgotaria as relações caracterizadas como raciais.

“Quer dizer, as relações raciais seriam um apêndice, uma coisa secundária a respeito da relação de classe. Ou então, essa linha histórica de pensamento, da esquerda, dizia que o que efetivamente importa é a análise de uma totalidade concreta no desenvolvimento contraditório dessa análise, onde o racismo figura como um item problemático, porém, um item menor dentro da luta anticolonial, posto a espera para que primeiro se equacionem os grandes trâmites geopolíticos de uma formação de sociedade qualquer, para que depois se cuide disso. Essa irrupção de agora é maior que isso”, explicou.

O professor relacionou a discussão também a Marx, que afirmava que o capitalismo deve substituir todos os antigos valores pelo pagamento em dinheiro para que a sociedade não se deixe levar pelo sonho dogmático. “Eu já argumentei em torno desse entendimento em trabalhos passados e eu lembro de Marx quando se referiu à Índia para dizer que a violência é a mãe da história. Marx dizia que o capitalismo deve subverter o mundo”, disse.

A discussão transcorreu e o professor também afirmou que, hoje, a mídia jornalística se molda de uma nova forma, sob uma nova conjuntura. A exposição de opiniões já não existe mais e foi substituída pela exposição de emoções.

“Vivemos uma democracia de emoções. Porque as opiniões estariam esvaziadas do poder retórico de conhecimento. Não há mais, realmente, nesse espaço público das redes, opinião. Há apenas chutes e emoção, cliques e emoção, likes e emoção. Então se alimenta a discussão sobre a modelagem de um novo tipo de jornalismo.

Sobre o curso

O curso irá abordar temas de grande relevância social, principalmente sobre a comunicação, democracia e racismo. Serão 16 aulas, transmitidas pelo canal do MVDH, no YouTube. O curso de extensão faz parte do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos Suely Souza de Almeida (NEPPDH), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os temas dos cinco módulos de aulas, que serão realizadas entre os meses de agosto e novembro, são: Comunicação e Democracia; Violência,classe e mídia; Violência, gênero e mídia; Violência, raça e mídia e Direitos Humanos.