Priscilla Peixoto – Da Cenarium
MANAUS – Nascida em Alagoas, capital de Maceió, a pequena Nicole Oliveira, de apenas oito anos de idade, é fascinada pela astronomia. A menina, carinhosamente chamada de “Nicolinha”, detectou nada mais, nada menos que cerca de oito asteroides – contados até o momento – e é a pessoa mais jovem a integrar a International Astronomical Search Collaboration (Iasc), programa da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa), podendo se tornar a astrônoma amadora mais nova do mundo a identificar asteroides.
Por enquanto, a jovem espera o resultado da avaliação para saber se os sete asteroides descobertos por ela, são inéditos. “Quero ser engenheira aeroespacial quando eu crescer, amo ver as estrelas que brilham no céu”, diz a pequena e provável astrônoma mais jovem do mundo.
De acordo com a mãe de Nicole, Zilma Janacá, a filha única começou a demostrar admiração pelo espaço desde muito cedo. Aos dois anos de idade, Nicolinha já pedia estrelas como brinquedo no lugar das tradicionais bonecas. “Ela ia para área externa da casa e fica olhando para o céu e pedindo estrela, só que você tem uma criança de dois anos pedindo isso, você não leva muito em consideração, né? Então, eu dava para ela algo de pelúcia, sempre que ela abria, dizia: ‘Essa não, aquela’ e apontava para o céu”, relembra a mãe de menina.
Inusitado
Zilma conta que o interesse de Nicole passou a ser levado mais sério, quando, aos quatro anos de idade, ela fez um pedido, no mínimo, inusitado aos pais. A criança propôs a troca das festinhas do próprio aniversário por um telescópio. “Ficamos surpresos e vimos que era o que ela queria mesmo, mas o telescópio é muito caro e não demos naquele momento. Nisso ela continuou lendo e se interessando pelo assunto. Três anos depois, o sonhado telescópio veio”, conta a mãe coruja.
Não é difícil encontrar nas famílias, jovens que acabam exercendo a mesma profissão que os pais, a convivência e admiração acaba, por vezes, influenciando na escolha dos profissionais desde a infância. Mas engana-se quem acha que no caso de Nicole é assim.
Tanto na família materna quanto paterna da menina astrônoma, não há qualquer função que remeta a área da astronomia ou sequer da ciência. Com mãe artesã e pai analista de sistema, a paixão da menina nordestina sempre foi algo admirado pela família que diz ser uma missão e motivo de felicidade para a criança.
Currículo e trajetória
Com apenas oito anos, “Nicolinha” já possui um currículo de gente grande e invejável. Aos seis anos, ela ingressou em um curso de astronomia pelo Centro de Estudos Astronômicos de Alagoas (CEAAL). Nicole era a única criança do curso. Ela já foi palestrante e uma das pessoas mais jovens do mundo a participar do International Astronomical Search Collaboration (Iasc – Programa de Colaboração de Pesquisa Astronômica Internacional, em tradução livre) da Nasa.
Além disso, a criança astrônoma é bicampeã da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica e abriu um canal no Youtube onde posta assuntos que abordam a temática para compartilhar com outras crianças. No canal, Nicole e mais duas coleguinhas fazem a programação e entrevistas que teve inclusive, participação de cientistas importantes como Marco Palhares, Alessandra Pacine e outros.
Durante a pandemia, Nicole também fundou, com ajuda dos pais, o clube de ciência Nicolinha&Kids. ” O clubinho é para compartilhar conhecimento e incentivar o estudo dela e de outras crianças. Ela é de fato estudiosa, mas isso não a impede de brincar e socializar. Infelizmente a pandemia prejudicou muito a socialização das crianças em geral, então essas atividades como o clubinho serviu como alternativa de distração também. Estudam e se divertem, ainda que virtualmente”, afirma Zilma.
Incentivo e mudança de rotina
Por conta do amor e dedicação ao mundo espacial desde a infância, mesmo que sem querer, Nicole Oliveira influenciou na mudança de rotina dos pais. A mãe de Nicole conta que para acompanhar a filha e a evolução constante da menina, teve que estudar também. O empenho no estudo foi uma forma de mergulhar no universo da filha para que ela nunca se sinta só.
“Eu me matriculei no mesmo curso que ela. Não entendia nada, mas foi bom, isso também é uma forma de incentivo pra ela e nos aproxima ainda mais. Eu via ela sozinha, enquanto as meninas queriam brincar de bonecas, percebia que ela brincava, mas queria mesmo era alimentar a sede dela pelo assunto lendo e aprendendo ou assistindo a vídeos no Youtube. Com a chegada da pandemia isso intensificou e não tem como não incentivar e vivenciar isso”, revela.
Atualmente, além dos pais, a menina disseminou o interesse pela astronomia nos tios e avós que também se informam com assunto para trocar uma ideia com Nicole. “É incrível ver os avós falando sobre asteroides de uma foram tão leve e divertida com ela, acaba que todo mundo aprende”, conta a mãe.
Asteroides
Em 2020, Nicolinha entrou no programa caça-asteroides, uma parceria do Iasc-Nasa com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Naquela fase, ela não conseguiu formar equipe, os pais então se inscreveram para ser a equipe da filha. “Não sabíamos nada e fomos nos virando, ela foi pegando instruções e conseguiu. Ela ficou toda feliz porque teve dois asteroides na preliminar”, lembra Zilma.
Em maio deste ano, abriu nova campanha e mudou a vida de Nicole que se destacou detectando, até então, sete asteroides, mas segundo a mãe provavelmente são mais corpos rochosos detectados pela filha. “Na sexta-feira passada, dia 13 de julho, saiu o último relatório de agosto nos informando que seriam oito asteroides detectados, nessa sexta, 20 de agosto saiu mais um relatório, mas ainda não li, pode ser que tenha mais para contar”, explica.
A detecção ainda não foi oficializada, mas se confirmados pela Nasa, ela poderá batizar “seus asteroides” e pode até entrar para o livro dos recordes, se tornando a mais jovem astrônoma amadora a detectar o tal corpo rochoso. O feito pertence até então a um rapaz chamado Luigi Sannino com 18 anos de idade.
“Acreditem no potencial dos seus filhos, os sonhos de criança podem levar a alçar voos mais altos, se não tiverem as asas cortadas. Quero ser engenharia aeroespacial, para construir foguetes e levar as pessoas para o espaço. É meu sonho”, finaliza a menina.
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