Fabyo Cruz - AGÊNCIA CENARIUM
BELÉM (PA) - O Pará registrou 42% da retirada de madeira sendo realizada sem a devida autorização dos órgãos ambientais, em 2023, conforme informou o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Dados coletados pelo Sistema de Monitoramento da Exploração Florestal (Simef) apontam que a exploração ilegal aumentou de 17,8 mil hectares (entre agosto de 2021 e julho de 2022) para 21,8 mil hectares (entre agosto de 2022 e julho de 2023), o que corresponde a um aumento de 22% da prática criminosa nesse período.
A pesquisa foi conduzida junto ao Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e Instituto Centro Vida (ICV). Após analisarem a extração de madeira por meio de imagens de satélite, os cientistas verificaram a existência de planos de manejo que regulamentavam a atividade nessas regiões, emitidos pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas), pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio) ou pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB).
No total, o Estado do Pará registrou 52,1 mil hectares de desmatamento devido à extração de madeira entre agosto de 2022 e julho de 2023. Esse intervalo é conhecido como o "período de desmatamento" da Amazônia, por conta do padrão de chuvas característico na região. Em comparação com o período anterior, entre agosto de 2021 e julho de 2022, quando foram identificados 38,5 mil hectares de desmatamento por extração de madeira no estado, houve um aumento de 35%.
Aumento de exploração em áreas autorizadas
No que diz respeito somente à área autorizada para exploração, o mapeamento indicou um aumento ainda mais significativo. A extração de madeira, realizada com planos de manejo aprovados pelos órgãos ambientais, cresceu de 20,6 mil hectares, entre agosto de 2021 e julho de 2022, para 30,2 mil hectares no período de agosto de 2022 a julho de 2023, o que representa um aumento de 46%. Ao se comparar com a área total explorada no último ano, a atividade correspondeu a 58%.
O pesquisador do Imazon Dalton Cardoso destacou que “o aumento da exploração madeireira realizada a partir de planos de manejo autorizados pelos órgãos ambientais é positivo, pois a atividade legalizada precisa ser feita de forma sustentável, gerar empregos e pagar impostos”. No entanto, ele alertou que “a cada cinco hectares com extração de madeira no Pará, dois são ilegais, o que gera danos ambientais, ameaça aos povos e comunidades tradicionais e enfraquece o setor madeireiro".
Extração ilegal é maior em imóveis cadastrados
Imóveis rurais cadastrados no Sistema de Gestão Fundiária (Sigef), no Cadastro Ambiental Rural (CAR), no Sistema Nacional de Certificação de Imóveis (SNCI) ou no Programa Terra Legal foram responsáveis por 72% da extração ilegal de madeira no Pará entre agosto de 2022 e julho de 2023. Nesses imóveis, foram detectados 15,6 mil hectares de exploração madeireira não autorizada, representando um aumento de 17% em comparação ao período anterior, quando foram registrados 13,3 mil hectares de atividade ilegal. “A partir dos dados disponíveis nesses cadastros, os governos podem aplicar as devidas punições pela extração não autorizada de madeira”, explicou Dalton Cardoso.
A segunda maior concentração de extração ilegal ocorreu em assentamentos, onde foram identificados 3 mil hectares de exploração não autorizada no período de agosto de 2022 a julho de 2023, correspondendo a 14% da área total mapeada com ilegalidade. Esse número é mais de três vezes maior do que o registrado no período anterior, quando foram detectados 823 hectares de extração irregular em assentamentos.
“Esse crescimento pode ter sido resultado tanto de invasões quanto da falta de assistência adequada para a realização do manejo florestal comunitário, o que destaca a necessidade de ações públicas para proteger e desenvolver a produção sustentável nesses territórios”, comentou o pesquisador do Imazon.
Em terras não destinadas e vazios cartográficos, a exploração ilegal foi de 2,3 mil hectares entre agosto de 2022 e julho de 2023, uma redução de 13% em comparação com os 2,6 mil hectares registrados no período anterior. “Essa redução é positiva, mas precisa ser intensificada, pois a retirada de madeira nessas áreas está relacionada à grilagem de terras. A destinação dessas áreas para a conservação é essencial para combater esse e outros crimes ambientais”, concluiu o pesquisador.
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