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Fabyo Cruz – AGÊNCIA CENARIUM

BELÉM (PA) – Moradores da Região Metropolitana Belém (RMB) se depararam, nesta semana, com um aumento significativo da presença de fumaça no ar. A situação, que despertou preocupações, é resultado de uma combinação de fatores atmosféricos, agravada pela prática de queima de resíduos no Lixão do Aurá, localizado no município de Ananindeua.

À CENARIUM, o professor coordenador do Programa de Pós-Graduação em Gestão de Riscos e Desastres Naturais na Amazônia (PPGGRD) da Universidade Federal do Pará (UFPA), Bergson Moraes, explica que a presença dessa fumaça está diretamente relacionada a condições meteorológicas específicas, como a inversão térmica, somadas a práticas inadequadas de queima.

“O fogo, a queimada e o incêndio são fenômenos diferentes. O fogo é uma transformação química, a queimada é uma prática agrícola para preparar o solo, e o incêndio ocorre quando o fogo foge do controle”, diferencia Moraes. No caso de Belém, ele pontua que a combinação de ventos calmos, baixa umidade e pressão atmosférica estável impede que o material particulado suba para camadas mais altas da atmosfera.

Efeitos da inversão térmica

Moraes esclareceu que a inversão térmica é um fenômeno climático no qual uma camada de ar quente se posiciona sobre uma camada de ar frio, impedindo que poluentes subam para a atmosfera superior. “Nos últimos dias, Belém enfrenta um período de inversão térmica. O que era para subir, chega em uma certa camada e retorna para a superfície. E com o vento calmo e a atmosfera estável, esse domo de material particulado e gás permanece próximo ao solo”, explicou.

Queima de resíduos e impactos na qualidade do ar

A prática de queima de resíduos é outro fator que contribui para o aumento da poluição na região. “A queima de lixo, muito comum na nossa região, lança tanto gás quanto partículas sólidas na atmosfera. Com as condições atmosféricas atuais, esses poluentes não conseguem se dissipar, afetando a qualidade do ar que respiramos”, detalhou o professor.

A situação é agravada pelo período seco anômalo que Belém atravessa. “Estamos passando por um período seco extremo, com cerca de 14 a 15 dias sem chuvas significativas. Isso aumenta a chance de novas queimadas e a persistência da fumaça na atmosfera”, acrescentou Moraes.

Desafios na detecção e combate a incêndios

Além das condições atmosféricas, o professor criticou a falta de conhecimento técnico em algumas abordagens de monitoramento de incêndios, como as realizadas por meio de satélites. “Os satélites têm limitações na detecção de focos de incêndio em áreas menores, o que pode gerar dados imprecisos. Ferramentas mais apuradas, como as desenvolvidas por laboratórios especializados, são essenciais para uma análise mais detalhada”, afirmou.

Moraes destacou ainda a importância de ações preventivas, além das reativas: “A mudança climática está aquecendo o sistema e intensificando esses fenômenos. As autoridades precisam investir mais em prevenção e monitoramento para evitar que problemas como esses se repitam”.

Bergson Moraes conclui ao dizer que a situação exige atenção e medidas urgentes para mitigar os impactos da fumaça na saúde da população, principalmente nas primeiras horas da manhã, quando as condições atmosféricas são mais propensas a concentrar poluentes próximos ao solo.