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Marcela Leiros - AGÊNCIA CENARIUM

MANAUS (AM) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou na noite desta terça-feira, 10, que vai consultar cientistas para tratar sobre os impactos da repavimentação da BR-319 no meio ambiente e nos povos tradicionais que vivem no entorno. A declaração ocorreu após assinatura do termo de concessão do "Lote C" da rodovia à empresa LCM Construções. O trecho, de acordo com o governo federal, compreende 52 quilômetros da rodovia.

O Lote C, ou “Lote Charlie”, localizado entre o km 198 e o km 250, é visto com preocupação por pesquisadores por não possuir o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), licenciamento ambiental necessário para seu projeto de reconstrução. O EIA do projeto de reconstrução da rodovia cobre apenas o “Trecho do Meio” da rodovia, área que possui 405 quilômetros de extensão e está localizada entre os quilômetros 250,7 ao km 656,4.

"Nós estamos começando com 52 quilômetros, primeiro tem 20 depois tem mais 30. Nós vamos fazer todas as reuniões que forem possíveis, ouvir todos os cientistas que tivermos que ouvir, e a gente tem que ter noção de que a gente tem que fazer aquela estrada e garantir que a parte mais nobre da floresta amazônica não seja destruída por dinheiro", declarou.

Ao longo desta terça-feira, Lula e sua comitiva de ministros visitaram as comunidades de São Sebastião do Curumitá e Campo Novo, no município de Tefé, e Manaquiri, todas no Amazonas, para conversar com moradores. Em São Sebastião do Curumitá, o presidente disse que retomou as negociações com autoridades locais para concluir as obras do “trecho do meio”, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO).

Durante o discurso, o presidente disse que a seca no Rio Madeira impulsiona “a importância da rodovia” para que as capitais não fiquem isoladas. “Vamos preparar o Estado para que a gente possa entregar, definitivamente, a ligação entre Manaus e Porto Velho […] A rodovia não tinha a importância que tem quando o rio madeira tá vazio. Nós não podemos deixar duas capitais isoladas”, declarou.

O petista também falou em “parceria de verdade” com as autoridades locais para a conclusão do “trecho do meio” da rodovia. No final de agosto deste ano, uma decisão judicial confirmou a suspensão da Licença Prévia para a reconstrução e asfaltamento do “trecho do meio”. O pesquisador e doutor em Biologia, Lucas Ferrante, afirmou que o trecho alvo das discussões é um “hotspot do desmatamento”.

“O trecho central da BR-319 é considerado um hotspot de desmatamento, uma área com concentrações de taxas de desmatamento que superam em três vezes as taxas observadas para toda a Amazônia brasileira, conforme apontado por um estudo do periódico científico Land Use Policy”, destacou Ferrante.

O reasfaltamento do “Lote C” da rodovia, assim como do Trecho do Meio, contraria pareceres técnicos de pesquisadores, como Lucas Ferrante e Philip Martin Fearnside — que ganhou um prêmio Nobel por alertas a riscos do aquecimento global — que consideram a rodovia uma via para o colapso da Amazônia.