Fabyo Cruz – AGÊNCIA CENARIUM
BELÉM (PA) – O período eleitoral no Pará tem sido marcado por uma preocupante escalada de violência armada. Candidatos, colaboradores e simpatizantes estão sendo alvo de ataques, o que coloca em perigo a integridade física daqueles envolvidos no processo eleitoral e evidencia um cenário de insegurança política na região.
No último domingo, 8, a candidata à prefeitura de Mãe do Rio, Lays do Sabá (PP), viveu momentos de tensão ao sofrer um atentado a tiros. O veículo da postulante foi alvejado em um posto de combustível no município. Lays, seu marido e um funcionário buscaram refúgio em uma loja de conveniência até a chegada da polícia. Apesar dos danos materiais, ninguém se feriu. "Sofri um atentado que quase custou a minha vida", escreveu nas redes sociais.
Outro episódio de violência ocorreu em 21 de agosto em Belém, capital do Estado. Uma troca de tiros nas proximidades de um comitê político, no bairro do Bengui, resultou na morte de um homem e ferimentos em outro. No dia seguinte, em Marituba, na Região Metropolitana de Belém (RMB), a prefeita Patrícia Alencar teve sua propriedade atacada a tiros. Ela não estava no local, e ninguém ficou ferido.
"Tomei conhecimento de um incidente ocorrido no sítio de minha propriedade, local que utilizo para descanso com minha família [...] a investigação esclarecerá todos os detalhes", escreveu a mandatária em nota.
A escalada da violência também atingiu Barcarena, município localizado na Grande Belém, onde o candidato a vereador Franklin Costa sofreu um atentado no dia 17 de agosto. Durante a noite, tiros atingiram a casa onde Costa estava com a família, deixando marcas nos portões, muros e no carro da residência. Nenhuma pessoa ficou ferida, mas o incidente gerou preocupação entre os moradores.
"Repudio veementemente qualquer tipo de violência e reforço minha determinação em lutar incansavelmente por uma sociedade mais justa e segura para todos", disse o postulante em nota.
No Sudeste do Pará, o candidato à reeleição para vereador em Nova Ipixuna Regis Santana foi alvo de um atentado próximo à residência dele, no último 13 de abril, quando dois homens em uma motocicleta dispararam contra ele. Meses depois, a Polícia Civil prendeu o vereador João Barros Filho, conhecido como "Joãozinho Barros", e um pistoleiro, suspeitos de participação no ataque.
Impacto da violência política em ano eleitoral
Os casos de violência armada no Pará são reflexo de um período eleitoral turbulento, onde as disputas políticas ultrapassam o campo das ideias e invadem o cotidiano dos candidatos e da população. A escalada de atentados reforça a necessidade de uma resposta efetiva das autoridades para garantir a segurança e a integridade do processo democrático.
Em entrevista à CENARIUM, o advogado eleitoralista e criminalista Paulo Nascimento destacou a importância da atuação das autoridades de segurança pública, especialmente das polícias investigativas, no combate à violência durante o período eleitoral. Segundo ele, a agilidade nas respostas aos atentados políticos é essencial para responsabilizar tanto os executores quanto os mandantes desses crimes.
Nascimento enfatiza que a celeridade nas investigações é fundamental não só para punir os culpados, mas também como medida preventiva. "Quanto maior a celeridade, melhor será a possibilidade de responsabilizar o causador do dano, o causador daquele atentado", explicou o advogado. Ele também ressaltou a necessidade de envolver as forças de inteligência das polícias Civil e Federal para monitorar atentados e planejamentos criminosos.
“Muitas vezes esses atentados são praticados por mais de uma pessoa, o que poderia se entender como uma associação criminosa, inclusive”, destacou. Nascimento aponta que, em contextos onde um grupo resolve eliminar ou ameaçar candidatos para impedir que se destaquem politicamente, há uma clara configuração de associação criminosa, elevando o risco e a gravidade dos atos violentos.
Além das consequências diretas sobre as vítimas, a violência eleitoral tem impactos significativos sobre o eleitorado e o cenário político local. Nascimento aponta que tais atos podem desestimular a participação de novos candidatos e a introdução de novas vertentes políticas, o que afeta a representatividade. “Isso pode fazer com que impeça novos candidatos, isso pode gerar um impacto onde não permitirá a ascensão de novos nomes”, afirmou.
Contudo, o advogado também vê um aspecto positivo na condução eficaz das investigações: a possibilidade de demonstrar para a sociedade o quão prejudicial determinado grupo pode ser para o município. Segundo Nascimento, ao expor que grupos violentos estão dispostos a cometer crimes durante a campanha, fica evidente que esses candidatos representam um malefício à comunidade. “Assim como pode fazer com que o eleitor perca opções, ele também pode demonstrar que uma eventual opção posta ali como candidato é, na verdade, um exemplo de um malefício para o município porque são pessoas que lidam com crimes ainda no período da campanha”, concluiu.
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