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Marcela Leiros - AGÊNCIA CENARIUM

MANAUS (AM) - A CENARIUM antecipou com exclusividade, na segunda-feira, 9, dados do Programa Copernicus de Observação da Terra da União Europeia de que a Amazônia tornou-se a maior emissora de gases causadores do efeito estufa devido ao avanço do desmatamento e às queimadas. As informações foram analisadas pelo cientista Lucas Ferrante às vésperas da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Manaus (AM). O assunto ganhou repercussão nacional em jornais como o O Globo e CNN nesta quinta-feira, 12.

A conclusão foi baseada no volume de aerossóis e de monóxido de carbono — gases associados aos que causam o efeito estufa na atmosfera — captado na área da Amazônia Ocidental. Os dados, segundo o pesquisador, confirmam que as maiores taxas de emissões são desta região, sendo que a fumaça tem sido carreada pelos ventos para o Sul e Sudeste do Brasil, além de atingir países como Bolívia, Peru, Argentina e Uruguai.

Ferrante apontou, na análise "Às vésperas da visita de Lula, Amazônia se torna maior emissora de gases causadores do efeito estufa", que a construção de estradas na Amazônia Ocidental, como a rodovia BR-319, com o objetivo de facilitar a exploração de petróleo, tem gerado um aumento significativo no desmatamento e nas queimadas, comprometendo metas globais de combate às mudanças climáticas.

O cientista, que possui formação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal), Mestrado e Doutorado em Biologia (Ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), observou também que a expansão a construção de rodovias tem facilitado a invasão ilegal de terras indígenas e a migração de atividades de pecuária para áreas anteriormente preservadas da Amazônia.

"As áreas que concentram as maiores emissões devido às queimadas são acessadas pelas rodovias BR-163, BR-364 e BR-230 (Transamazônica), além da BR-319, que conecta Porto Velho a Manaus. A abertura dessas estradas tem impulsionado o avanço de grileiros e grandes pecuaristas sobre territórios indígenas, inclusive aqueles ligados a corporações como a JBS", discorreu Ferrante.

O cientista exemplificou, como um dos potencializadores do aumento dessa degradação ambiental, o "leilão do fim do mundo", considerado o maior leilão de Petróleo e Gás realizado no País, no qual foram oferecidos pelo menos nove blocos de petróleo para exploração na área da rodovia BR-319, entre Careiro e Autazes.

Amacro

Dados das Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicaram que a concentração de incêndios que tem gerado estas emissões ocorre principalmente na região Amacro, que inclui os Estados do Amazonas, Acre e Rondônia. Ferrante criticou a condução da crise ambiental no País pelo Governo Lula.

"Apesar do discurso frequente do presidente Lula, que responsabiliza principalmente os países desenvolvidos, especialmente os do G7, pela crise climática, essa retórica permite que países emergentes do G20, como o Brasil e a China, minimizem suas próprias responsabilidades no enfrentamento da questão. Na prática, a Amazônia Ocidental no Brasil, que abrange os estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, tornou-se a região com a maior concentração de emissões de gases de efeito estufa por área devido às queimadas", concluiu.

Queimadas

Em 24 horas, o Brasil registrou 5.363 focos de queimadas até esta quinta-feira, 12, de acordo com dados do sistema BDQueimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A Amazônia concentra a maioria das ocorrências, com 2.512 focos, 46,8% do total.

O Estado do Pará lidera o número de incêndios, com 1.484 focos registrados em 24 horas, seguido por Mato Grosso, com 1.057, e Tocantins, com 545.

Em agosto, o País teve o pior número de queimadas em 14 anos, com 68.635 ocorrências, o quinto maior da série histórica iniciada em 1998. Esse número representa aumento de 144% em relação ao mesmo período de 2023.