Carol Veras - AGÊNCIA CENARIUM
MANAUS (AM) - A segunda edição da Marcha para Exu em Manaus está programada para o próximo sábado, 14. O evento terá início às 15h30 na Praça da Polícia, localizada na Avenida Sete de Setembro, Centro da capital amazonense, e contará com um cortejo em homenagem ao orixá, que sairá às 16h30, descendo pela Avenida 7 de Setembro e subindo pela Avenida Eduardo Ribeiro.
Organizada pela Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana (Aratrama), a ação cultural tem objetivo de promover visibilidade a esses povos e celebrar as entidades Èṣù Òrìṣà, Lɛ́gba Vòdún, Mpambu Njila, Exus Catiços e Pomba Giras.
Os participantes vão seguir para uma manifestação cultural, que acontece às 18h no Largo de São Sebastião, Centro, onde serão apresentadas performances de artistas, casas de axé, terreiros e centros de umbanda. Durante o evento, será realizado um concurso para o melhor traje de Exu Catiço e Pomba Gira, com premiação em dinheiro.
O evento é uma realização da Associação de Desenvolvimento Sócio Cultural Toy Badé, e conta com apoio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, da Manauscult e da Secretaria Nacional de Mulheres do PT. Os responsáveis técnicos pelo evento são o coordenador-geral da Aratrama, Alberto Jorge Silva, o secretário-geral, Jonathan Azevedo, e a coordenadora municipal, Mãe Maria de Jacaúna.
O orixá
No Candomblé, Exu foi a primeira divindade criada por Olodumaré, moldado a partir de um solo vermelho. Ele representa o elemento dinâmico responsável por impulsionar, mobilizar e transformar. A entidade atua como o elo de conexão entre Olodumaré e os humanos, sendo o mensageiro e intermediário, participando do início de tudo que existe.
Devido a essa relevância, o orixá é o primeiro a receber oferendas dos adeptos do candomblé. Já na Umbanda, ele não é considerado um orixá, mas sim uma entidade ou espírito de luz, cuja missão é ajudar seus protegidos e atuar como mensageiro dos orixás, guardião dos templos e terreiros, conduzindo energias pesadas, desfazendo demandas e abrindo caminhos.
De acordo com Alberto Jorge Silva, em uma parte da África Ocidental, que tem como expoentes a Nigéria, o Benin, o Togo e o Gana, existe um conceito teológico, filosófico e uma visão de mundo. "As nossas divindades, sejam elas da Nigéria, do Togo ou do antigo reino de Dahomey /ou Danxomè, hoje República do Benin, têm uma configuração muito diferente daquilo que é colocado pela cultura hebraico-cristã”, afirma.
Ele explica como divindades africanas como Exu foram injustamente associadas ao demônio da tradição cristã devido à influência de um bispo anglicano que traduziu a Bíblia para o Yorubá no século XIX. O organizador do evento também aborda como essa visão eurocêntrica contribuiu para a demonização de elementos das religiões africanas e como movimentos culturais estão combatendo essa visão distorcida, afirmando que o orixá não é o equivalente ao Satanás da cultura religiosa cristã, mas sim uma figura que representa comunicação e dinamismo.
"O que acontece é que, dentro desse processo de dominação religiosa, se utiliza a luta entre o bem e o mal para perpetuar esse pensamento. O bem seria representado por Jesus Cristo nas diversas versões religiosas, enquanto o mal precisa de um bode expiatório. Esse bode expiatório acaba sendo a nossa cultura africana, rotulada como ignorante e sem filosofia ou teologia", explica o religioso.
De acordo com a liderança religiosa, religiosa, esse evento é um símbolo da resistência afro-amazônica. "Quando saímos às ruas para dizer que Exu não é Satanás, estamos lutando contra essa demonização, que é o ponto central do nosso movimento", conclui.
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