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Marcela Leiros - Da AgênoCENARIUM

MANAUS (AM) - Em meio à corrida pela reeleição, o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), enfrenta uma situação "delicada" com o indiciamento do senador Eduardo Braga (MDB/AM) por corrupção. Isso porque Braga é um dos principais apoiadores da campanha de Almeida, relação que se fortaleceu ao ponto do prefeito recriar uma extinta secretaria para alocar um importante aliado do senador: o empresário Jesus Alves.

Jesus Alves e Eduardo Braga (Reprodução)

Extinta em 2013, a Secretaria Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários (Semhaf) voltou a funcionar dez anos depois, em 2023, e passou a ser comandada por Alves. O empresário foi candidato a deputado estadual nas eleições de 2022 e ficou próximo da vaga, com 33 mil votos, perdendo o lugar para Cristiano Dângelo.

Anúncio, na imprensa, da nomeação de Jesus Alves como secretário (Reprodução/Acrítica)

A recriação da Semhaf e a posterior nomeação de um nome ligado ao senador mbdista coincidiu com a escolha de Braga, no ano passado, como presidente da comissão da Medida Provisória (MP) 1.162, que recriou o "Minha Casa, Minha Vida". A MP virou lei em julho de 2023.

Com a "parceria", o prefeito de Manaus anunciou, em novembro de 2023, o programa “Morar Melhor”, para contemplar quatro mil famílias, e 4.680 unidades habitacionais da prefeitura contratadas pelo "Minha Casa, Minha Vida". A promessa era contemplar 1,2 mil residências ainda no ano passado.

Reportagem na Revista Cenarium; foto mostra Jesus Alves, David Almeida e Eduardo Braga (Divulgação)

Neste ano, em agosto, a Caixa assinou contrato de R$ 174,4 milhões para construção de empreendimentos do programa do governo federal em Manaus, com a proposta de construir 960 unidades habitacionais na cidade de Manaus. Cada unidade habitacional recebeu investimento de até R$ 170 mil.

Eduardo Braga (com o microfone) e David Almeida (ao lado esquerda de Braga) na assinatura do contrato de R$ 174 milhões (Divulgação)
Cidadão Manauara II

Em quatro anos de gestão, o prefeito de Manaus entregou 500 apartamentos do Conjunto Residencial Cidadão Manauara II, etapa B, no bairro Santa Etelvina, zona Norte da capital. Conforme mostrou a CENARIUM, em 2021, a inauguração da obra ocorreu sob o escândalo de que familiares da filha de David Almeida, Fernanda Aryel Almeida, foram contempladas com unidades do habitacional.

A obra fazia parte de uma parceria entre a prefeitura e o governo federal, então sob o comando de Jair Bolsonaro (PL), que participou da inauguração em Manaus. Duas tias de Fernanda Aryel, que possuíam remunerações de até R$ 4 mil em cargos comissionados da Prefeitura de Manaus, foram contempladas no “sorteio” da Caixa Econômica para receberem apartamentos no residencial Manauara.

Na época, a denúncia gerou pressão sobre o prefeito. A possível irregularidade na seleção de famílias beneficiárias de unidades habitacionais do "Minha Casa, Minha Vida”, em Manaus, virou inquérito no Ministério Público do Amazonas (MPF-AM), mas foi arquivado por "ausência de indícios".

Leia também: ‘Lava Jato’: principal aliado de David Almeida, Braga é indiciado pela PF por corrupção
Eleição

Antes apoiador do ex-presidente Bolsonaro, David Almeida se aproximou dos senadores Braga e Omar Aziz (PSD/AM), que têm forte interlocução com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Embora sejam filiados a partidos de centro-direita, os parlamentares, que apoiaram Lula nas eleições presidenciais de 2022, caminham ao lado de Almeida nas eleições municipais deste ano.

A relação de Braga e Omar com David Almeida com quase gerou um candidato a vice-prefeito diferente de Renato Júnior (Avante) na chapa puro-sangue. O ex-secretário de Infraestrutura foi confirmado como vice de Almeida no início de agosto, após os senadores do Amazonas abrirem mão da indicação de outro nome diante da imposição do mandatário municipal para emplacar o amigo e correligionário.

Indiciamento

A Polícia Federal indiciou Eduardo Braga, líder do MDB no Senado, pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ele é investigado, junto ao senador Renan Calheiros (MDB/AL) e o ex-senador Romero Jucá (MDB-RR), por favorecer o antigo grupo Hypermarcas, atual Hypera Pharma, em troca de pagamentos de propina.

Eduardo Braga e David Almeida (Reprodução/Redes sociais)

As informações são do site UOL. A reportagem citou que o relatório final do inquérito diz que a antiga Hypermarcas pagou cerca de R$ 20 milhões para os senadores, por intermédio do empresário Milton Lyra, também indiciado, que foi apontado pela Polícia Federal como lobista intermediário do MDB.

Em contrapartida, os senadores teriam atuado em favor da Hypermarcas em um projeto de lei que tramitou no Senado nos anos de 2014 e 2015 sobre incentivos fiscais a empresas. A investigação ainda aponta que o senador Renan indicou um nome para a diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com o objetivo de auxiliar nos interesses do grupo empresarial dentro da agência.

O inquérito é um desdobramento da "Operação Lava Jato" e havia sido aberto em 2018, a partir da delação premiada de Nelson Mello, à época um dos diretores da antiga Hypermarcas. Ele admitiu que firmou contratos fictícios com empresas indicadas por Milton Lyra, sem prestação de serviços, com o objetivo de repassar os valores