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MANAUS (AM) - A participação de pessoas transgêneros na política brasileira ainda é considerada pequena, mesmo com avanços quantitativos nos últimos pleitos. Em Manaus, quatro dos 833 candidatos a vereador se identificaram como transgêneros, evidenciando a baixa representatividade na capital amazonense em comparação com o cenário nacional. Para ativistas da causa LGBTQIAPN+, o que compele essas candidaturas é, principalmente, o preconceito.

A eleição de 2024 é a primeira em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começou a levantar dados sobre a identidade de gênero dos candidatos a vereador. Em todo o Brasil, são 960 pessoas trans concorrendo às cadeiras de vereador, em um universo de 431 mil postulantes ao cargo. Os números refletem os desafios enfrentados pela comunidade para ter acesso aos espaços de poder, que lida com obstáculos sociais como preconceito e falta de apoio partidário para participar efetivamente da política.

A presidente da Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Estado do Amazonas (Assotram), Rebeca Carvalho, destaca que a associação, fundada em 2017 para prestar apoio social e educativo à população trans no Estado, atua de forma apartidária nas eleições, limitando-se a oferecer formação política para preparar e fortalecer as eventuais candidaturas das associadas.

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Mesmo com o apoio da Assotram, Carvalho aponta que as candidatas trans ainda enfrentam grandes desafios em uma eleição, sendo o preconceito estrutural um dos mais graves. E essa discriminação também se manifesta dentro dos próprios partidos. "Muitas vezes, as pessoas trans são usadas como candidatas laranja, sem o devido apoio econômico para competir de forma justa", afirma.

Em 2024, a associação realizou três oficinas de informação política, abertas a associados interessados em entender a política e o papel da política partidária. Rebeca Carvalho explicou que o foco dessas oficinas foi identificar candidatos com pautas e propostas voltadas para a comunidade trans.

"Não importa se o candidato é travesti, mulher trans ou cis, o essencial é que esteja comprometido em desenvolver políticas públicas para nossa classe", explica, destacando que embora a associação não formalize apoio a partidos ou coligações, mantém as portas abertas para qualquer candidato que deseje apresentar propostas à comunidade.

Desafio

Entre as quatro candidatas transgêneros que concorrem a uma das 41 cadeiras na Câmara Municipal de Manaus (CMM) está a bacharela em Direito Katryna Bernardos, do Partido Socialista Brasileiro (PSB). De acordo com ela, os maiores desafios na campanha são o preconceito, a falta de visibilidade e a resistência da sociedade em aceitar a diversidade. Ela ressalta que a desinformação sobre questões LGBTQIAPN+ ainda é significativa, tornando o diálogo mais difícil e exaustivo.

Katryna Bernardo (Reprodução/Instagram)

Além disso, a candidata afirma que sua motivação em entrar na campanha eleitoral deste ano foi, de algum modo, tentar levar uma voz ativa e representativa para a câmara municipal, com a intenção de promover projetos de lei que assegurem a igualdade de oportunidades, o combate à violência e à discriminação, além de políticas voltadas para a saúde, educação e empregabilidade das pessoas trans. “Há uma carência de políticas públicas voltadas para a inclusão e proteção dessa comunidade, o que intensifica as dificuldades”, completa.

Segregação

Para a assistente social e ativista Joyce Gomes, a representatividade trans na política é vista como um avanço significativo para o fortalecimento dos direitos básicos dessa população. Ela aponta que, embora o número de candidaturas trans tenha aumentado nas últimas eleições, ainda há desafios como a segregação das identidades femininas e a exclusão de pessoas transgêneros dos espaços de poder.

"A política tem essa base na segregação das identidades femininas, e quando a gente nota que tem aumentado relativamente o número de candidaturas trans, isso é um ganho muito significativo, porque isso representa esse acesso à cidadania", disse.

Para Joyce, a presença de pessoas trans na CMM é fundamental para a criação de políticas públicas eficazes voltadas às pessoas LGBTQIAPN+. "Uma política eficiente parte de alguém que conhece a base, e as pessoas trans têm essas vivências de exclusão e segregação", destacou.

No entanto, Joyce também alerta sobre a existência de candidaturas laranjas em alguns partidos, que acabam prejudicando a viabilidade de candidaturas trans reais. Apesar das dificuldades, ela ressalta que o crescimento de candidatos transgêneros marca uma conquista importante no acesso a espaços políticos que, anteriormente, eram negados à população trans.