“É uma coisa de doido, eu acordava, entrava no TikTok e tinham cinco mil novos seguidores, uma coisa que eu não esperava de forma alguma”. “Foi uma coisa despretensiosa, nem editei o vídeo. Postei e quando eu vi, milhares de curtidas e comentários entrando”. “Nem nos meus maiores sonhos eu imaginava ter esse alcance todo. Me chocou bastante, claro, de uma maneira positiva, fiquei muito feliz”.

Esses relatos, de conversas exclusivas para o site da TV Cultura, são de três professoras que produziram conteúdo de idiomas para a rede social TikTok e que, em pouco tempo, viram seus vídeos viralizar na rede. A primeira delas é Suzanna Sanchez, de 25 anos, conhecida como "Suzanna Ensina". Filha de mãe brasileira e pai americano, Suzanna se mudou para o Brasil ainda jovem e se adaptou ao português ao longo dos anos. Ela conta que, há seis anos, seu único emprego foi de professora de inglês e desde sempre notava certos erros e dificuldades em comum em seus alunos brasileiros.

Foi dessas dificuldades em comum que surgiu a ideia de gravar vídeos: “O primeiro vídeo que eu fiz era sobre a pronúncia da palavra ‘world’ (mundo, em tradução), que é uma palavra que meus alunos brasileiros sempre têm problema”, diz Suzanna. Atualmente com mais de 140 mil seguidores e 800 mil curtidas no TikTok, ela diz que não esperava ter o alcance que teve, ainda mais em pouco tempo. “Eu comecei no final de outubro e foi muito repentino, é uma coisa de doido, eu entrava no TikTok e tinham cinco mil novos seguidores”. 

A segunda professora é a carioca Simone Porfiria, 40, professora de português há 16 anos. Seu perfil no TikTok, inicialmente utilizado para diversão e vídeos de comédia, ganhou destaque quando ela começou a gravar vídeos com dicas de português. Ao contar sobre como decidiu gravar vídeos, Simone diz que começou “com vídeos no Instagram por um apelo, amigos pediam muito pelo fato deles acharem que meu jeito de explicar facilitava, diziam que eu deveria levar para internet e alcançar mais pessoas”.

A professora começou então a utilizar o Instagram como espaço para tirar dúvidas de português e, em paralelo, surgiu o TikTok durante a quarentena. Já com alguns seguidores por conta de seus vídeos cômicos e dublagens, Simone decidiu levar as dicas para a rede social também, e se surpreendeu com o retorno: já contabiliza 51 mil seguidores e 470 mil curtidas no TikTok. “Foi uma coisa despretensiosa. Postei e quando eu vi, milhares de curtidas e comentários entrando. Recebi comentários do tipo ‘nossa, agora eu entendi’, ou ‘poxa faz mais’, acho que meu caminho é esse mesmo. Eu sempre costumo brincar que foram eles que escolheram esse caminho pra mim, não eu que fiz isso”, conta Simone.

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A Elza Lacerda, conhecida como Teacher Elza, também tem uma história parecida na rede social. Durante a quarentena, a professora de inglês de 36 anos teve que reinventar suas aulas assim como todos na educação em 2020. “Uma coisa é o presencial que é muito mais fácil de prender os alunos, mas o online também tem muitos recursos e eu acabei me adaptando a esse formato de uma maneira tranquila”, diz Elza.

Foi durante uma de suas aulas online que seu primeiro vídeo viralizou: “No meio da aula meu filho mais velho vem e diz que, em 24 horas, bateu mil visualizações. E meus alunos apostando quanto que ia estar no final da aula (risos)”. Elza decidiu continuar a postar os vídeos e atualmente possui mais de 430 mil seguidores e 2,5 milhões de curtidas no Tik Tok. “A demanda por aula particular depois dos vídeos foi tanta que o pessoal da escola se apavorou, perguntando se eu continuaria com eles. Nem nos meus maiores sonhos eu imaginava ter esse alcance todo, fiquei muito feliz”, completa.

Mesmo com os vídeos viralizando, Elza não deixou a escola no primeiro momento. "Quando eles questionaram se eu continuaria com a escola, eu disse que sim, claro, tenho pé no chão e conta para pagar", diz. Por outro lado, a visibilidade impulsionou a demanda pelas aulas particulares. "Eu não tive férias em momento algum, o pessoal que trabalha na escola estava todo de férias e eu trabalhando, produzindo conteúdo".

Conteúdos didáticos viralizando

Muito do sucesso de conteúdos e dicas sobre idiomas em redes sociais como o TikTok está ligado à acessibilidade e à linguagem. Simone, professora de português e formada em Letras, afirma que pretende continuar com os vídeos por ter achado uma forma simples de atingir mais pessoas. “Acho que o que me dá um diferencial é não ficar usando muito os termos técnicos. Eu vejo que a maioria das pessoas tem um pouco de trauma ouvir muito adjunto adnominal, adjunto adverbial, vocativo, e tudo mais”, explica.

Ela completa dizendo que com os recursos de vídeos rápidos com dicas, consegue trazer as explicações para a realidade do dia a dia, abrindo mão dos termos técnicos e utilizando algo lúdico. Simone conta que lê “comentários nos vídeos como ‘nossa passei a vida inteira tentando entender e agora eu consegui’. Quando a gente começa a jogar vários termos técnicos, tem pessoas que têm certo bloqueio”.

A Teacher Elza reforça a importância de ensinar de forma descontraída: “Aquelas dicas de como aprender inglês dos vídeos eu usei todas na minha vida e uso hoje em aula. Eu ensino de uma maneira muito descontraída, eu faço piada, eu dou dicas, porque isso ajuda e estimula a pessoa a aprender, ela vê que não é tão difícil. Eu gosto de passar sempre que o inglês não é complicado, a gente complica”, completa Elza.

Suzanna também vê a importância de alcançar cada vez mais gente de uma forma leve como o TikTok. Mesmo vivendo de dar aulas particulares de língua inglesa, ela sabe que “aula particular é uma coisa que não é acessível para muitas pessoas e que inglês é uma coisa indispensável hoje, não é nem um diferencial mais. Então era uma coisa importante pra mim levar conhecimento para mais pessoas que talvez não tenham condições nem de aula particular, nem de um curso de inglês, e assim por diante”. 

Mesmo que o TikTok não assuma o papel principal nas rendas de professores como a Suzanna, a Simone e a Elza, a rede ajuda na divulgação de seu trabalho, uma vez que a demanda por aulas particulares, nesses casos, aumentou após a viralização. Esse movimento incentiva os usuários a aprender determinado idioma e quebra bloqueios do aprendizado com seu lado lúdico.