A galeria Vermelho apresenta de 19 de junho a 31 de julho a nova exposição individual de Marcelo Cidade. Em “A retórica do poder”, o artista reúne novos trabalhos da série de mesmo nome, na qual se apropria das emblemáticas Black Paintings de Frank Stella como base formal para uma crítica ao emprego da arte como estratégia de dominação.
Em 1959, quando os Estados Unidos se impunham como império econômico e cultural, o artista norte-americano Frank Stella apresentou sua série Black Paintings no MoMA. Ao rejeitar as tendências ditadas pelo expressionismo abstrato, suas pinturas prepararam o terreno da arte para os artistas do movimento minimalista, que surgiu na década de 1960. “A retórica do poder” é o título escolhido por Marcelo Cidade para a série de quatro objetos no qual o artista se apropria das emblemáticas Black Paintings de Stella como base formal para uma crítica acerca do emprego da arte como estratégia de dominação
Sobre a base geométrica da exposição, Cidade suspende objetos e cria uma alegoria à situação política e social que vive o Brasil. Cada uma das quatro peças conta com uma narrativa simbólica acerca dos problemas que o país e o mundo atravessam.
“É um trabalho que tem camadas. Não é só o minimalismo, mas o minimalismo como ponte para pensar o hoje, pensar como a influência norte-americana ainda está por trás. Ela não estava tão presente durante o governo Lula. Agora temos novamente a mão dos EUA que não permite que o Brasil supere a pobreza, e que nos obriga produzir commodities. Então nós temos de forma velada no sistema da arte um jogo de poder”, comenta o autor das obras.
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Em “Brasil aSSima de todos”, peça que não participa da exposição, Cidade dispõe uma garrafa de Coca Cola vazia, um tênis Nike usado, uma baioneta e um capacete verde militar, associando o militarismo e a cultura popular.
Em “Deus aSSima de todos”, um escapamento de carro sustentado por uma haste horizontal faz alusão ao desenvolvimento fordista, mas também à religião. De certo ângulo pode-se associar essa forma a uma cruz ou a um corpo.
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Na obra “Fordlândia”, o artista dispõem correias dentadas de borracha como em uma lojinha apontando para a importância deste material dentro do sistema industrial: a engrenagem do capitalismo relacionado ao extrativismo da borracha dos anos 1950, na cidade de Fordlândia (Pará), na Amazônia.
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Já em “O menino da porteira”, Marcelo Cidade reúne uma direção de automóvel, um berrante e fones de ouvido usados que aludem ao bolsonarismo e ao “realismo agro” da exploração do meio ambiente.
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“Acho que esta série tem várias camadas. “O menino da porteira” tem uma questão meio dadaísta. O próprio berrante que é um chifre de uma animal junto com esse cacareco de fio enrolado, com uma direção que não é um volante novo. Você tem novamente uma exaltação ao fordismo com elementos do automóvel junto com um berrante que hoje em dia tem um símbolo político bem particular do Brasil, que vai além do agro e que aparece como símbolo dessa nova direita”, diz o artista.
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