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Acervo digital/Grupo de pesquisadores de Maria Firmina dos Reis
Acervo digital/Grupo de pesquisadores de Maria Firmina dos Reis

Em 11 de agosto de 1860, nas primeiras páginas do jornal A Moderação, anunciava-se o lançamento do romance Úrsula, assinado por Maria Firmina dos Reis, professora pública em Guimarães, município do estado do Maranhão.

Nascida em 1822, Firmina é considerada por muitos a autora do primeiro romance abolicionista de autoria feminina da língua portuguesa. Além disso, seu livro é considerado o primeiro romance publicado por uma mulher negra em toda a América Latina.

Apesar do atual prestígio, a escritora foi abafada pela história, como afirma a escritora, revisora e idealizadora da Editora Feminas, Sandra Regina de Souza. "Estudei Letras na USP, e em todo o curso, nunca ouvi falar da Maria Firmina", conta em entrevista ao site da TV Cultura.

Neste ano, Maria Firmina dos Reis será homenageada pela Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), além de ser tema de duas mesas na programação principal do evento e de ter sido parte de um ciclo de debates em parceria com o Sesc, realizado em outubro deste ano. A escritora, professora e historiadora, Joice Aziza, diz que esse trabalho de resgate tem muita relevância para a literatura nacional, sendo que "parece que não faz muito tempo, mas há tem 40 anos, com a retomada dos escritos feita pelo historiador José Nascimento Morais Filho, que vem sendo repercutido só agora", afirma. 

A editora Sandra de Souza, faz um aparato dos escritos nacionais, relembrando Machado de Assis e outros autores, "vejo como a Maria Firmina foi excluída da literatura brasileira por muito tempo. E continua sendo, na verdade, não a estudamos, basicamente não estudamos mulheres, mulheres negras. Estive por muito tempo no ramo da editoria e é um mercado muito feminino, mas, ao mesmo tempo, não vemos elas sendo publicadas", comenta. 


O contato de Firmina com a literatura começou cedo, em 1830, quando mudou-se para a casa de uma tia um pouco mais rica, na vila de São José de Guimarães, no Maranhão. Aos poucos, a jovem tomou contato com referências culturais e outros de seus parentes ligados ao meio cultural, como Sotero dos Reis, um gramático popular da época, vindo assim o gosto pelas letras.

A editora Sandra de Souza comenta sobre a importância de ter figuras como Maria Firmina em um Festival como a Flip. “Eu me descobri negra quando aconteceu a morte da Marielle (...) Foi ali que pensei ‘poderia ser eu’, e me entendi como uma mulher negra. A literatura me ajudou muito nisso, foi esclarecedor”.

"Olha como o racismo é cruel, por causa dessa sistema tivemos o abafamento de uma mulher, que foi a primeira a criar uma escola mista, por exemplo. Em seu romance, ela conta a história de uma negra com família estabilizada, onde os brancos eram 'vilões' e não faziam o que era bom aos olhos de Deus, isso era uma afronta", diz a historiadora Joice Aziza, e finaliza dizendo, "espero que a Flip seja um divisor de águas. Eu acredito que o festival vai fazer as pessoas lerem mais mulheres negras, ou é pelo menos isso que espero". 

Ressaltando a importância de dar mais atenção a literatura feminina nacional, a editora Sandra de Souza comenta sobre seu novo projeto. "A ideia da editora Feminas, veio justamente em publicar mulheres. E estamos com o projeto Flores de Baobá (Dandaras), que diz respeito a essas escritoras negras, alavancar a voz delas. Assim como me descobri mulher e negra, assim como sempre estive ligada à cultura, sei que muitas mulheres também vão se identificar com essas autoras, e se aproximar de Maria Firmina".

FLIP 2022

Uma das principais atrações no evento será a participação da escritora francesa Annie Ernaux, de 82 anos, atual ganhadora do Nobel de Literatura e autora de Os Anos e O Acontecimento. Além dela, a escritora e professora da Universidade de Columbia, Saidiya Hartman, uma das principais referências intelectuais da diáspora africana, fará parte da mesa na Flip.

Entre os nomes nacionais, destaca-se a escritora Cida Pedrosa, poeta vencedora do Jabuti deste ano. As autoras publicadas pela editora Feminas também estarão presentes, entre elas a historiadora Joice Aziza, e as autoras Lúcia Leal, Samira Calais, Benedita Lopes e Catita.

A Festa Literária também será palco dos lançamentos de Goma, de Carina Castro (Projeto Dandaras); Das Raízes à Colheita, do conjunto Flores de Baobá (Dandaras); Mulheres assentadas, Tamiris Volcean (VOX FEMINA).

A editora Sandra de Souza afirma que a Flip será uma oportunidade para as pessoas conhecerem essas novas escritoras, e não deixar que a história de Maria Firmina se repita, "é preciso ler e conhecer essas mulheres, e essa será a oportunidade", finaliza a revisora.

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