Nome expoente no cenário da música eletrônica nacional, Luciano Rodrigues de Carvalho Ferreira, mais conhecido como KVSH, tem traçado uma longa jornada como DJ e produtor, com os primeiros passos ainda no quarto de casa, na região metropolitana de Belo Horizonte, com um equipamento improvisado aos 16 anos. Hoje soma centenas de milhões de visualizações e plays em plataformas como YouTube e Spotify, com experiências únicas ao tocar em festivais como Tomorrowland, Lollapalooza, Ultra Miami, Planeta Brasil e Rock In Rio.
Tudo começou na infância, aos 6 anos de idade, quando ganhou uma bateria de presente dos pais. Até a adolescência, sonhava em formar a própria banda, mas as dificuldades de reunir um grupo comprometido e o surgimento de um interesse pelo gênero eletrônico, o levaram por um caminho diferente do esperado.
“Eu tomava bolo todo final de semana do baixista, do guitarrista, do vocalista, e aí meio que desisti de ser músico, falei ‘vou seguir uma vida normal, fazer uma faculdade’. Então um amigo meu começou a ir em festas de música eletrônica, e um dia virou pra mim e disse que os DJs e produtores estavam fazendo as próprias músicas e tocando elas no set. Na hora que escutei isso eu pirei, pensei ‘então quer dizer que posso ser minha própria banda? Não preciso de baixista e de outras pessoas pra conseguir criar meu próprio som?’, isso bugou minha mente”, relembra Luciano.
Na sequência, mergulhou de cabeça em todo tipo de material que pudesse encontrar sobre produção, que na época do início de plataformas como Orkut e Google Vídeos, era escasso. Todo o esforço valeu a pena quando viu o remix intitulado “Potter”, baseado na trilha sonora dos filmes de J. K. Rowling, viralizar no Facebook.
“Escutei a trilha sonora e percebi que precisava fazer um remix daquilo. Então produzi e publiquei no Facebook. Foi exatamente esse vídeo que me abriu portas para entrar em uma agência de São Paulo. Compreendendo as pessoas online, peguei a trilha sonora de “Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio”, que é um filme que eu amo, e remixei. Na época, tinha um funk que chamava “Deu Onda”, também remixei e funcionou pra caramba.”
Conheça o remix "Potter" produzido por KVSH:
Luciano ressalta a importância da internet no decorrer de sua carreira, e como pôde entender a reação do público sobre seus lançamentos. “Antigamente, os DJs produziam as músicas e o único feedback que tinham era na pista, então com a internet e o surgimento de redes como o Facebook e a aba de vídeos da plataforma, comecei a entender melhor do que as pessoas gostavam, como elas se expressavam. Com tudo isso, percebi que vivemos numa época em que não precisamos ir pra um show e tocar a música para saber a reação do público. Se eu pegar meus stories e mostrar o que estou produzindo, no mesmo instante as pessoas vão me dizer se a música é boa ou ruim. Então naquela época, compreendi que não posso fazer som só pra mim, tenho que entender o que essa geração de hoje está curtindo”.
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A evolução como produtor e a influência que tinha desde pequeno, com os pais ouvindo desde músicas de samba até hits internacionais da banda “Dire Straits”, o direcionou a ir na contramão dos produtores “tradicionais”.
“Em uma agência de São Paulo, comentei com um dos donos que queria fazer um remix de Natiruts, e ele disse que eu estava maluco, que a galera da eletrônica iria me odiar. Isso me deu um gás, e pensei que se eu tivesse escutado quem disse que a música do Harry Potter iria dar errado, eu não estaria aqui hoje. Fui lá e fiz o remix, e na época passou até a composição original no Spotify, e com isso apresentei esse grupo de reggae pra essa nova geração que não tinha nem noção quem era Natiruts.”
Com a pandemia surpreendendo todo o cenário musical em 2020, KVSH buscou ajudar novos produtores com lives em seu YouTube. Certo dia, durante as transmissões, recebeu um e-mail de um produtor de Florianópolis, sobre uma música que o faria explodir na cena internacional e o levaria ao maior festival do gênero eletrônico no mundo, o Tomorrowland. Na edição do ano passado, na Bélgica, Luciano se apresentou ao lado de Carola, outro nome de destaque na cena brasileira.
“Em 2020, a Sicko Drop foi meu maior hit, com quase 100 milhões de plays no Spotify, e foi a primeira música eletrônica brasileira a viralizar no TikTok. Eu e o Samuel (produtor de Florianópolis) mandamos ela pra várias gravadoras e nenhuma aceitou. Depois de dois meses da gravadora do Martin Garrix ter reprovado, o representante deles deu uma chance, e pediu para escolhermos uma dentre todas que tínhamos enviado para ser lançada. Pensei, ‘vamos nessa aqui que acredito muito’. Foi dito e feito, a música viralizou de uma forma absurda e aí começamos a ter essa abertura com o pessoal do Garrix. Com isso, eles me convidaram para tocar no Ultra e no Tomorrowland.”
Confira o set completo de KVSH e Carola no Tomorrowland Bélgica 2022:
Hoje, o DJ está de olho em outros gêneros que possam influenciar suas produções, como é o caso do trap em um dos lançamentos recentes, intitulado “Evoque Prata”.
“Creio que o trap seja a música eletrônica dessa nova geração, porque se analisar, são os mesmos softwares, os mesmos timbres, os mesmos plug-ins. Tiro o chapéu pra galera do trap, sou muito fã. Brinco que existe um gap gigante no mercado para o surgimento de um DJ desse estilo. Hoje no meu set, toco quatro, cinco músicas de trap e a casa vai abaixo.”
Em 2023, o talento mineiro de Nova Lima segue com o objetivo de inovar suas produções ao explorar cantos diferentes do país. “Quero cada vez mais furar essa bolha da eletrônica tradicional e mostrar pras pessoas que o Brasil é muito grande pra definir o gênero apenas no eixo sudeste/sul. Queremos falar de música eletrônica, então vamos pro norte, vamos pro nordeste, vamos pro centro-oeste, é isso que tenho feito como KVSH, buscando artistas diversos para novas collabs”.
Luciano está confirmado na próxima edição do Lollapalooza Brasil, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. No dia 26 de março, se apresenta junto ao duo Dubdogz.
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