O Museu de Arte de São Paulo (Masp) apresenta do dia 24 de março até 4 de junho a mostra “MAHKU: Mirações”, que irá ocupar o espaço expositivo no 2º subsolo do museu.
Com curadoria do diretor artístico Adriano Pedrosa, Guilherme Giufrida, curador assistente, e Ibã Huni Kuin, curador convidado, a exposição reúne cerca de 120 pinturas e desenhos em papel e tela, sendo três delas produzidas para a mostra, além de esculturas, áudios com cantos, vídeo documentário e uma pintura de grandes dimensões elaborada diretamente nas laterais da icônica escada/rampa vermelha que interliga o 1° ao 2° subsolo do museu, seguindo, assim, a tradição do coletivo de realizar uma intervenção artística nos espaços expositivos que ocupam.
“O sentido geral do grupo MAHKU parece ser criar caminhos sustentáveis, desenvolvendo a política de se associar para se fortalecer. Isto é, interessa-lhes produzir e facilitar a passagem entre mundos, sempre sob o risco e a consciência das distâncias e assimetrias, que podem ser controladas e guiadas pelo poder da contação, pelos cantos, pelas imagens que produzem, pelo sentido ético da sobrevivência de seus modos de existência”, reflete Giufrida.
Este diálogo entre diferentes culturas é um dos temas centrais de algumas das obras do coletivo, especialmente aquelas inspiradas no mito de kapewë pukeni, o jacaré-ponte, traduzido, por exemplo, na pintura Kopenawe pukenibu (2022), de Acelino Tuin Huni Kuin. O mito narra a história da passagem dos Huni Kuin pelos dois continentes, através do estreito de Behring em busca de sementes, moradia, conhecimento e terra. Depois de muita caminhada, o grupo se depara com um jacaré que, em troca de alimento, oferece ajuda para que eles possam atravessar para o outro lado.
O animal, avesso ao canibalismo, pede que o povo não mate um jacaré pequeno e que não lhe dê um deles para comer. No entanto, quando a variedade de animais se torna escassa, os Huni Kuin caçam o jacaré menor, traindo a confiança do jacaré grande, que submerge.
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Outro ser muito importante para os Huni Kuin é a jiboia, considerada a maior dos xamãs, mensageira e ser da transformação. Normalmente o animal está presente em suas pinturas, circundando as composições, seja de forma a perambular pela imagem, seja literalmente em suas bordas, acompanhando os ângulos perpendiculares do quadro ou em formas geometrizadas estilizadas.
A jiboia é a figura central no mito de surgimento de nixi pae, “a bebida sagrada”, representada na tela do acervo do MASP Yube Inu Yube Shanu [Mito do surgimento da bebida sagrada Nixi Pae] (2020). O mito narra o encontro de Yube Inu, um homem indígena, com Yube Shanu, a mulher-jiboia, e a acolhida do povo da jiboia a Yube Inu, que é introduzido ao ritual de nixi pae. Ele ingere a bebida sagrada, e, mais tarde, aprende a fazê-la e entra em contato com as músicas da serpente. Por um momento de ciúme de seu sogro, devido ao seu conhecimento adquirido, Yube Inu é mordido e acaba adoecendo, mas, antes de morrer, retorna ao seu povo de origem e ensina a receita da bebida.
No ritual traduzido como “cipó forte”, “embriagante” ou “fio encantado”, se institui a experiência de encontro com a jibóia. Trata-se de um ritual central na vida desse povo, que envolve toda a comunidade -- desde crianças de 6 anos até adultos e idosos. As mirações, experiências visionárias que aparecem durante os rituais, são traduzidas tanto nos desenhos e pinturas do coletivo quanto nos cantos que integram o cotidiano da aldeia Chico Curumim, na Terra Indígena Kaxinawá, do Rio Jordão, onde vivem os artistas do MAHKU.
“O ritual de nixi pae tem como objetivo principal conectar mundos, rememorar a todos daquela relação dos Huni Kuin com a jiboia, renovar a intimidade do encontro e relembrar as razões do desencontro narradas no mito”, reflete o curador assistente.
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A mostra pretende, portanto, ampliar o conhecimento sobre e com os Huni Kuin, assim como a compreensão da contribuição de sua obra para a arte contemporânea, além de celebrar a longa relação de trabalho entre o coletivo e o museu. Desde 2016, os artistas do MAHKU participam de exposições do MASP, o que é constatado na grande quantidade de obras de diferentes períodos de sua produção comissionadas e depois doadas ao acervo do museu. Os artistas já participaram das exposições como “Avenida Paulista” (2017), “Histórias da dança” (2020) e “Histórias brasileiras” (2022).
“MAHKU: Mirações" integra a programação anual do MASP dedicada às histórias indígenas. Este ano, a programação também inclui mostras de Carmézia Emiliano, Paul Gauguin, Sheroanawe Hakihiiwe e Melissa Cody.
Serviço
Endereço: Avenida Paulista, 1578 - Bela Vista.
Telefone: (11) 3149-5959.
Horários: terça grátis, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até às 17h); fechado às segundas.
Ingressos: R$ 60 (entrada); R$ 30 (meia-entrada).
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