No Provoca desta terça-feira (21), Marcelo Tas recebe Clayton Nascimento, ator, dramaturgo e educador, em cartaz com a premiada peça 'Macacos', e que ainda interpreta o personagem Caíto na novela 'Fuzuê', da Rede Globo.
Na entrevista, o artista fala sobre como foi receber elogios de Fernanda Montenegro, conta como foi um assalto racista que sofreu e comenta ainda a formação da segurança pública no Brasil. O programa vai ao ar na tela da TV Cultura, às 22h.
O ator começa a edição contando sobre um elogio feito a ele por ninguém menos que a atriz Fernanda Montenegro, que estava na plateia do espetáculo 'Macacos'.
“Tem um momento na peça que eu leio uma carta, um momento delicado para a plateia, e eu ouço uma voz vindo perto de mim e dizendo: ‘bravo menino!’. E, em cena, eu pensei: ‘eu conheço essa voz, mas devo seguir’. Quando acaba, Fernanda Montenegro levanta a mão e começa a dizer coisas maravilhosas: ‘você é um fenômeno, eu tenho 90 anos de teatro e nunca tinha visto isso. Você vai fazer isso para sempre, ainda bem que você é brasileiro’”, revela.
Clayton diz que antes de ser um artista as pessoas o viam como um "tipo perigoso".
“Um dia eu saio do cinema e vou para a Paulista, a avenida mais famosa da América Latina, eu paro num ponto de ônibus e surge um casal dizendo: ‘ele roubou nosso mercadinho’. E eu disse: ‘não, eu não roubei, você está me confundindo’. E surgiu uma mulher depois dizendo: ‘e me bateu depois’. Eu olhava para o ponto de ônibus e dizia que não era verdade: ‘vocês estão vendo que não é verdade, me ajuda’. Aí eu entendi, é a minha palavra contra de duas pessoas brancas. E ali eu fui punido, espancado e roubado no final”, conta.
O dramaturgo e educador explica que o episódio pode ser configurado como um assalto racista, já que o colocaram como um agressor social:
“A maioria dos corpos pretos quando são atacados dizem quase as mesmas frases: ‘você está me confundindo, olha meu documento, estou trabalhando’. E eu percebi que repeti séculos para tentar me safar de um modo saudável. Aí eu vou estudar bastante e eu leio Carolina Maria de Jesus dizendo: ‘Deus abençoe os brancos para que os pretos possam dormir em paz’ (...) e foi o que eu percebi, eu perdi o respeito, o cuidado com o meu próprio corpo quando um casal branco disse que eu era um ladrão e a sociedade acatou".
"Isso mexe com a gente, a partir das seis e meia da noite eu não ando mais nas ruas”, afirma Clayton.
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