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Reprodução/Instagram Medina #10
Reprodução/Instagram Medina #10

Na última segunda-feira (24), o surfista Gabriel Medina, tricampeão do mundo, anunciou que não participará da primeira etapa da Liga Mundial de Surfe, que começa neste sábado (29). Ele justificou a decisão ao afirmar que a prioridade no momento é o bem-estar de sua saúde mental. Na última quarta-feira (27), se tornou público o término do relacionamento do atleta com a modelo Yasmin Brunet. Os dois eram casados há dois anos.

O brasileiro publicou um texto no Instagram sobre a decisão de não participar da competição e, em um dos trechos, explicou a situação. “Somado corpo, tenho questões emocionais que estou precisando lidar”.

Este é mais um episódio que ilustra a importância do cuidado com a saúde mental dos atletas de alto rendimento. No ano passado, alguns casos reacenderam também o debate. Nos Jogos Olímpicos, Simone Biles, maior ginasta da história, decidiu se afastar de quatro finais em Tóquio por conta de problemas emocionais. A desistência da atleta foi um marco e serviu para desconstruir certos tabus, como o de que também é necessário discutir assuntos mais sérios no esporte, como depressão e ansiedade.

Após a repercussão da decisão da ginasta norte-americana, a FIFA, em conjunto com a Organização Mundial de Saúde (OMS), lançou uma campanha para estimular os jogadores de futebol, principalmente os que estão nas categorias de base, a procurar ajuda quando necessário.

De acordo com a entidade, metade dos problemas de saúde mental, considerando a população em geral, aparece perto dos 14 anos. O estudo só reforça a importância das entidades esportivas investirem em equipes preparadas para lidar com o emocional dos atletas, sobretudo os mais novos.

Na opinião de Júnior Chávare, dirigente de futebol, com experiência em trabalhos voltados à captação e formação de jogadores ao profissional em clubes como São Paulo, Grêmio e Atlético Mineiro, atualmente o futebol brasileiro tem olhado mais para os departamentos psicossociais. “Para as instituições que trabalham sério esta questão, são setores que envolvem a psicologia, tanto pessoal como esportiva, que são importantíssimos nas categorias de base. Por onde passei eu sempre trabalhei fortemente isso e não tenho dúvida que é fundamental”, conta.

Esse problema no futebol não aparece apenas nas categorias de base. Segundo um estudo da Federação Internacional de Atletas (Fifpro), cerca de 23% dos jogadores em atividade têm transtornos do sono, 9% relataram que sofrem de depressão e outros 7% apresentam sintomas de ansiedade.

O atacante Michael, ex-Flamengo, revelou ter sofrido com depressão e pensamentos suicidas em 2020 devido a pressão por parte de torcedores rubro-negros. Depois de receber todo o apoio de companheiros de equipe e staff do clube, o jogador se recuperou, teve uma das melhores temporadas da carreira no ano passado e alcançou a marca de 14 gols no Campeonato Brasileiro.

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Para Marcelo Segurado, executivo de futebol do Santa Cruz, com formação em sociologia e geografia pela Universidade Católica de Goiás, a importância dos psicólogos, em função das cobranças serem cada vez maiores, é tão grande quanto a do preparador físico, nutricionista, entre outros membros dos clubes. “É fundamental que a saúde mental dos atletas seja monitorada e tratada, assim como a saúde física. Sabemos que jogadores e treinadores precisam estar fortalecidos mentalmente e com o bem-estar preservado para conseguirem desempenhar bem suas funções”.

No Brasil, o Fortaleza é um dos clubes que tem um departamento voltado para dar suporte emocional e psicológico aos atletas no dia a dia. Para a psicóloga do time principal, Liana Benício, lidar com os aspectos mentais, psicológicos e emocionais contribuem para um melhor desempenho dos jogadores dentro de campo.

“Quando não estamos com a cabeça boa, isso atrapalha a nossa vida e o rendimento. Precisamos de um profissional da área, tirando a ideia do senso comum do papel do psicólogo. Quando há um profissional capacitado na área, especialista em psicologia esportiva, ele consegue cuidar da saúde mental dos colaboradores, jogadores e comissão técnica, como também trabalha a parte psicológica para o aumento do desempenho, como concentração, atenção, lidar com pressão”, explica.

A psicóloga também aborda sobre certos tabus que existem no futebol quando o assunto é saúde mental. “Talvez seja a modalidade esportiva que tenha mais preconceito e resistência. Apesar disso, as equipes estão trazendo profissionais dessa área para conversar, dialogar e cuidar. Vejo que, lentamente, está sendo desconstruído. Entendo que isso tem a ver com o desenvolvimento cultural, porém, é apenas questão de tempo. Estamos conseguindo 'quebrar' muitas barreiras”, acrescenta.

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Jogos eletrônicos

No cenário dos e-sports, os esportes eletrônicos, as equipes também precisam tratar da saúde mental dos atletas, uma vez que os mesmos também lidam com o estresse dos jogos e com uma rotina exaustiva de treinos, que podem durar muitas horas.

Claudio Godoi, especialista em Psicologia Esportiva para Esportes Eletrônicos e em ansiedade pela Faculdade de Medicina da USP, atua na Team Liquid, uma das principais equipes de Rainbow Six do país. Ele detalha o trabalho psicológico que faz na linha esportiva de alta performance.

"A gente tem um objetivo e deixamos claro para todo mundo, como um combinado, porque senão até o sacrifício não tem sentido. Para você sacrificar alguma coisa por uma causa, e conseguir aguentar uma rotina puxada e estressante, é preciso uma causa clara e que envolva todo o grupo. Trabalhamos com alguns processos para avaliar o que rende mais, o que às vezes desgasta mais, e otimizar essas horas. Estabelecemos uma rotina para ter essa potencialização e trabalhamos em cima disso, visando os objetivos tendo claro esse propósito para que tudo valha a pena”, esclarece o especialista.

Recentemente, a equipe que o psicólogo atua teve de lidar com uma situação delicada. Paulo psk1”, um dos melhores jogadores de R6 do mundo, viveu um drama ao precisar disputar as partidas com o pai internado com Covid-19.

“Neste caso foi preciso um acompanhamento mais próximo. Creio que essa noção de que problemas individuais têm que ser tratados sem atrapalhar os outros é uma visão deturpada do que é uma equipe. Minha função é auxiliar essa pessoa a, no meio do turbilhão, conseguir tomar as melhores decisões, além de direcionar no que ela precisar para um atendimento de saúde, de suporte profissional, ou até mesmo indicações para médicos, auxiliar a própria família e o apoio como amigo. É algo que todo mundo trabalha como equipe”, conclui o psicólogo.

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