Após um surto na Europa e diversos casos espalhados pelo planeta, o que preocupa a Organização Mundial de Saúde (OMS), a varíola dos macacos também já chegou ao Brasil. Causada pelo vírus monkeypox, a doença tem origem no centro-oeste da África.
Infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Raquel Stucchi aborda os possíveis riscos da doença ao Brasil, em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura.
Risco do monkeypox ao Brasil
Raquel avalia que, mesmo que os pesquisadores ainda saibam muito pouco a respeito da doença, sua eventual chegada ao país seria mais um motivo para nós, aqui no Brasil, reforçarmos o uso de máscaras.
Apesar de reconhecer o risco, a médica também destaca que não há potencial para uma nova pandemia. “Pode ser que tudo isso mude na semana que vem, mas hoje, não”, aponta. Um dos principais fatores que não alçam o perigo da varíola dos macacos ao mesmo nível que o da Covid-19 é o fato de que sua capacidade de transmissão é muito menor.
"O impacto, em termos de saúde pública, é esperado que seja infinitamente menor”, frisa a infectologista. “Provavelmente não (há potencial para que a varíola dos macacos se torne uma pandemia). A não ser que neste momento haja uma grande mutação do vírus, o que não é esperado, pela característica de ser um vírus de DNA. Geralmente, eles são muito mais estáveis”, completa Raquel.
“Não é o momento de grande alarde. Acho que é o momento de as pessoas saberem que essa doença existe, saber que, se tiver alguma lesão na pele, se começar a aparecer alguma bolha, precisa buscar um atendimento médico presencial. Eventualmente, pode ser o monkeypox. E aí se isola, vai tentar fazer o diagnóstico, mas sem grandes alardes”, enfatiza.
A infectologista ainda critica o descaso com que o ocidente encara o continente africano. Para ela, "a gente não presta atenção no que acontece na África. Isso é uma crítica, a gente não olha para a África, só quando surge uma variante ou alguma doença que vem para cá."
Diferenças da varíola humana para a varíola dos macacos
A consultora da SBI disse que “a principal diferença é a gravidade da doença em si. Na varíola humana, eram duas formas de apresentação. Uma forma de apresentação mais leve, mas outra muito exuberante, onde você tinha um número de lesões que fazia com que você não tivesse nem pele sã. A pessoa que estava com as lesões ficava até deformada”.
“Você podia ter essas lesões até em órgãos internos, como pulmão. Você poderia ter encefalite”, ressalta Raquel ao falar sobre a doença já erradicada.
“A varíola dos macacos costuma ter um número de lesões muito, mas muito menor, mesmo na forma mais grave. É muito menor do que a gente vê na varíola humana. Normalmente, no período ali de cinco dias, sete dias, as lesões já secaram e involuíram. Pode até deixar nenhuma cicatriz”, conclui a médica.
Mutações do vírus
Segundo a infectologista, o aumento do número de casos em todo o planeta faz com que “a gente fique pensando se há alguma mutação no vírus da varíola dos macacos que o tenha tornado mais transmissivo”.
Ela ainda coloca que há dois "grandes tipos" da doença, e os casos fora do continente africano correspondem, em sua maioria, ao "menos grave".
Raquel também explica o que mutações e variantes de um vírus original significam, na prática. "Às vezes, algumas alterações podem favorecer que ele tenha um jeito diferente de causar a doença e de se transmitir”, afirma.
A médica também alega que, quando o vírus se reproduz, o novo indivíduo deveria ser igual ao seu antecessor. No entanto, em algumas oportunidades, novos vírus são gerados com pequenas diferenças com relação ao vírus original, o que não implica em novas funções ou mais riscos, necessariamente.
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