Fundação Padre Anchieta

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Os números da covid-19 no Brasil não são resultado de um quadro uniforme em todo o território, e sim da soma de uma grande variedade de situações locais. Cada estado tem suas circunstâncias, e, dentro de cada estado, as cidades estão em estágios diferentes.

Uma das metáforas que têm sido usadas para a situação é a comparação com um incêndio florestal. Sempre surgem novos focos e, quando um foco começa a ser controlado, outros ganham força. O incêndio só começa a diminuir de verdade quando há mais fogo sendo controlado do que fogo surgindo.

A situação da covid-19 nas últimas semanas, no Brasil, tem sido de equilíbrio entre esses dois lados, o do fogo que aumenta e o do fogo que diminui. Isso tem mantido a média diária de novos casos regularmente entre 40 mil e 45 mil, e a de mortes em torno de mil.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), os números indicam que o país alcançou um platô, ainda que em patamar alto, e essa é uma oportunidade para assumir o controle da pandemia.

Prejuízo acumulado

A variedade de situações entre as cidades de um mesmo estado fica muito clara em São Paulo. Na capital, a média semanal de mortes caiu 20% nas últimas três semanas, de 109,1 para 88,7.

Enquanto isso, em Franca, a 400 km da capital, o número de óbitos dobrou só na última semana, chegando a 18. Para os especialistas, não há dúvida de que esse dado está associado ao baixo índice de adoção ao isolamento social verificado na cidade: 34%, contra a média de 45% no estado e de 46% na capital. Esse índice é medido por meio de um convênio entre as operadoras de telefonia e o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicos).

A combinação entre o aumento rápido de mortes e a alta taxa de ocupação dos leitos de UTI, que chegou a 90%, causou o “rebaixamento” de Franca nos critérios do Plano São Paulo, do governo do Estado. Ao passar da fase laranja para a vermelha, a cidade entrou em situação de alerta máximo, em que apenas os serviços essenciais podem continuar funcionando.

A situação levou a Aif (Associação do Comércio e Indústria de Francaf), que representa 3,5 mil associados, a cobrar publicamente atitudes da prefeitura para minimizar os efeitos da covid-19 na cidade – especialmente a criação emergencial de novos leitos de UTI, medida vista como essencial para sair o mais rápido possível da fase vermelha.

“A gestão municipal equivocada ocasionou o rebaixamento de Franca na classificação do Plano São Paulo e, com isso, o setor comercial e as milhares pessoas que dele dependem mais uma vez estão sendo penalizados”, disse o presidente da Acif, Tarciso Bôtto, em pronunciamento tenso na Câmara de Vereadores.

A cidade já perdeu 10.200 empregos de carteira assinada desde o início da pandemia. Caso a fase vermelha permaneça por um longo período, a projeção da Acif é de que mais 5.700 vagas serão fechadas até o final do ano. O prejuízo estimado até o momento para o setor produtivo da cidade é de R$ 610 milhões. Por conta do “rebaixamento”, será de pelo menos R$ 152 milhões adicionais apenas na segunda quinzena de julho.

Protocolos rigorosos

A relação direta entre a colaboração da população e o controle do número de casos e de mortes fica evidente no caso de São Sebastião, conhecido destino turístico do litoral paulista. Com o melhor índice de isolamento do estado na semana passada, 58%, a cidade contabiliza dez mortes até agora e tem a situação momentânea sob controle.

As regras de isolamento social são apoiadas por 81% dos moradores da cidade – e 64% declararam, numa pesquisa feita pela prefeitura, que só estão saindo de casa quando extremamente necessário.

“A grande maioria das pessoas aqui está levando a pandemia muito a sério, por conscientização ou por medo”, confirma Alessandra Regina Santos, 49 anos, proprietária da Bem Bonita, uma loja de roupas femininas instalada em um shopping do centro da cidade.

Depois de mais de dois meses fechada, período em que algumas clientes continuaram sendo atendidas por delivery, a loja foi reaberta no dia 1º de junho. Desde então, vem seguindo protocolos rigorosos, incluindo a proibição de experimentar as roupas no local e a limitação de uma pessoa por vez dentro do estabelecimento.

A loja tem recebido apenas dez clientes por dia, em média – frequência bem abaixo do habitual, algo que fez o faturamento cair para menos da metade do que costumava ser antes da pandemia. “Pelo menos o negócio está girando”, conforma-se Alessandra. “Eu só reabri a loja por uma questão de sobrevivência, mesmo. Se fosse possível continuar mais tempo em casa, eu continuaria”, acrescenta a empresária, que toma remédios para arritmia cardíaca, o que a coloca no grupo de maior risco.

Cuidados redobrados

Enquanto a maior parte dos paulistas já convive há algum tempo com as notícias de mortes por covid-19 nas vizinhanças, essa sensação está chegando só agora para muitas pequenas cidades do interior.

É o caso de Ariranha, que, com 10 mil habitantes e 63 casos oficiais da doença, registrou esta semana a primeira morte – a de uma senhora com 78 anos, que já tinha problemas de saúde. Mesmo assim, a notícia foi de grande impacto para a população.

“A gente tinha a esperança de que ninguém aqui fosse morrer por causa desse vírus”, diz Giovana Cristina Garcia, 46 anos, sócia do restaurante Ranchão, um dos mais conhecidos da cidade.

O restaurante já vinha atendendo só com delivery e agora, com a notícia da primeira morte, vai cuidar ainda mais das medidas de segurança. “A gente percebe que a doença vai se aproximando aos poucos. Eu não conhecia ninguém com covid, mas agora já tem o tio da namorada do meu filho”, conta Giovana.

Dos 645 municípios do estado de São Paulo, 218 ainda não registraram mortes por covid-19. E nove deles continuam numa situação que está cada vez mais soando como ficção científica: sem casos confirmados da doença.