Fundação Padre Anchieta

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Com o comércio aberto há pouco mais de um mês na cidade de São Paulo, nem todo mundo deixou o isolamento social para fazer compras. Prova disso é o índice de isolamento social na capital, que tem se mantido em torno de 46%.

Para fazer as pessoas se sentirem mais seguras fora de casa, surge uma nova gama de produtos e serviços que promete esterilizar o ar, higienizar superfícies, limpar sapatos e aniquilar o medo do consumidor. A pergunta é: tudo isso funciona?

A diretora da empresa de esterilizadores de ar Baumer, Maria Eduarda Baumer, diz que nem tudo que está no mercado é efetivo contra o vírus. Mas há muito produtos, segundo ela, sendo desenvolvidos para melhorar a convivência das pessoas com essa e outras possíveis pandemias.

“Produzimos esterilizadores de ar há 40 anos para hospitais e laboratórios. Mas criamos recentemente uma linha para residências e estabelecimentos comerciais”, explica a executiva.

O que é um esterilizador de ar?

É um aparelho, segundo Maria Eduarda, que diminui o número de partículas, como poeira e poluição, gotículas de saliva, aerossóis, suspensas no ar. São essas partículas que carregam o coronavírus. Esses esterilizadores usam luz ultravioleta, ozônio e filtros para limpar o ar.

Podem ser usados em ambientes pequenos, como numa residência, mas também podem ser acoplados a elevadores, a sistemas de ar-condicionado de escritórios e shoppings centers. “O esterilizador diminui essas partículas suspensas no ar. Consequentemente, há uma redução de 80% da carga microbiana no local. E isso diminui a transmissibilidade do vírus”, afirma a executiva.

O investimento nesse novo sistema é alto. Por isso, muitas empresas estão alugando o equipamento. No caso do esterilizador para elevador, por exemplo, o custo inicial é de R$ 8.000. Para instalação no sistema de ar-condicionado, o preço mínimo, para uma área pequena, como 50 metros quadrados, é de R$ 10 mil, variando conforme o tamanho do projeto. Numa residência, o investimento inicial é de R$ 3.700.

“Estamos exportando muito, principalmente para a Europa. Lá, um sistema desse custa bem mais caro, em torno de 7 mil euros (cerca de R$ 42 mil). E por aqui, as pessoas ainda estão achando que a pandemia vai passar, que a vacina vai chegar já, já. Mas entre os europeus, eles já estão se adaptando a conviver com o vírus” diz Maria Eduarda.

Aqui, empresas de shopping center, segundo a executiva, estão muito interessadas nesse sistema. A Multiplan, diz ela, já estaria negociando a instalação no Shopping Anália Franco e no Shopping Morumbi, em São Paulo. A companhia, entretanto, não quis se pronunciar.

Arara para desinfecção de roupas

Outra empresa interessada num sistema parecido é a Renner. Mas em vez de esterilizar o ar, a companhia estaria de olho numa espécie de arara de roupas que esteriliza com ozônio peças usadas em provadores pelos consumidores. “Desta maneira, as pessoas poderiam provar antes de comprar vestuário, o que agora não é possível”, diz Maria Eduarda. Essa solução custaria em torno de R$ 13 mil. A Renner não comentou o assunto.

Tapetes sanitizantes

Por enquanto, as redes estão investindo em soluções mais prosaicas, como o termômetro na entrada das lojas e o já famoso tapete sanitizante. “Ele nada mais é que um tapete comum, com uma borda mais alta. O usuário, então, despeja no tapete uma solução de cloro e quando alguém chega e pisa nele, o calcado é desinfetado”, explica Cristian Piovezan, gerente de marketing da fabricante de tapetes Kapazi, de Curitiba (PR).

A empresa, com 40 anos de mercado, nunca vendeu tantos tapetes como agora: são mais de mil unidades por dia, para residências e estabelecimentos comerciais. O preço varia conforme o tamanho do tapete, mais os valores começam em R$ 64,90. “Nossas vendas refletem uma mudança de hábito. As pessoas estão mais preocupas com higiene”, afirma Piovezan.

Higienização de veículos

Aplicativos de transporte, como a 99, também querem oferecer uma sensação de segurança para seus clientes. Por isso, a empresa montou 15 bases de proteção contra a Covid-19 em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Salvador. Nessas bases o motorista pode instalar escudos de proteção plásticos que servem como barreira física entre ele e os passageiros. O dispositivo é gratuito, assim como o serviço de desinfecção dos carros de com um produto chamado Peroxy 4D, que mantém superfícies limpas por até 72 horas.

Algumas seguradoras, como a Porto Seguro, também estão oferecendo esse serviço de higienização para seus clientes.

Faxina microbiológica

E há empresas que fazem isso em qualquer automóvel, mediante pagamento. Criada e fundada durante a pandemia, a startup UVC Esterilização de Ambientes criou um novo serviço: a faxina que esteriliza os ambientes e carros. O serviço usa produtos químicos, luz ultravioleta, gás ozônio. O consumidor pode escolher entre os três processos ou pedir que todos sejam empregados.

“Muitas fábricas e escritórios estão nos contratando. Mas também muitas famílias, principalmente as que tiveram caso de covid-19 em casa, também”, diz Emilio Carlos de Muno, fundador da empresa. Ele diz que gastou R$ 20 mil nos equipamentos e, desde que começou funcionar, há três meses, já faturou o bastante para pagar o investimento inicial. O preço varia de R$ 300 a R$ 30 mil, conforme a área e o processo escolhido. Para carros, o preço é R$ 200.

Medição de temperatura

Em vez de colocar uma pessoa com termômetro para aferir um por um a temperatura dos clientes que chegam a um shopping, por exemplo, muitas empresas estão adquirindo câmeras térmicas, que são como uma aparelho fotográfico, que mede a temperatura de quem chega. As vendas dessas câmeras térmicas mais que dobraram de março a maio, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Segurança Eletrônica (Abese). Antes do início do isolamento social, as câmeras térmicas representavam 6,2% das vendas do segmento. Agora são 13,7% das soluções comercializadas pelo setor.

No aeroporto de Salvador, onde a câmera foi adotada, a temperatura de 700 mil pessoas foi avaliada durante a quarentena. Duzentas estavam acima de 37 graus e, dessas, 27 testaram positivo para covid-19.

Varinhas de UV

Na internet, um dos “hits” do momento são as varinhas de luz ultravioleta, que prometem limpar superfícies do vírus. Nos últimos 30 dias, segundo o Google, a busca por esse tipo de produto cresceu 70%. Elas custam de R$ 150 a R$ 250 e são importadas da China.

Mas nem tudo funciona

“Essas varinhas não são recomendadas”, diz o infectologista Pedro Mendes Lages, de São Paulo. “Para a desinfecção por UV acontecer, a exposição mínima é de 30 minutos. Passar uma varinha, então, não adianta nada. E, além disso, o UV não funciona em tecidos e, se usado na pele ou nos olhos, pode provocar sérios danos”, diz o especialista.

Ele alerta que muitas desses novos serviços e traquitanas anticoronavírus, não são eficazes contra o agente causador da covid-19.

Os tapetes sanitizantes, por exemplo, não têm influência na transmissão ou não do vírus. “Hoje, seis meses depois, já sabemos que a transmissão cruzada, que é aquela em que a pessoa põe a mão numa superfície contaminada e depois a leva para a boca ou olhos, é bem menor que a respiratória. E o tapete, nesse caso, é um cuidado exagerado, porque ninguém põe e amo no chão e depois na boca”, diz o médico.

“Toda ação é válida”, diz, entretanto, o infectologista Enio Zyman, também de São Paulo. “Promover a higiene sempre é bom, mesmo que não seja algo que tenha a ver com o vírus diretamente”, explica.

No caso do uso do ozônio, porém, existem dúvidas dos dois profissionais. O gás realmente esteriliza o ar. Isso é fato. “Mas não sabemos que dose de ozônio é suficiente para esterilizar o ar sem causar dano respiratório”, diz Zyman. “Se for pouco, pode ser ineficaz. Se for muito, pode prejudicar.”

Quando usado em conjunto com um sistema de ar-condicionado, é importante haver ventilação e renovação constante. “Mas mesmo assim, se uma pessoa contaminada entra num ambiente com esse sistema e tosse, o ar volta a ser contaminado”, diz Lages

E as tendas de descontaminação?

Os dois profissionais são unânimes em dizer que são inócuas. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou que não reconhece a efetividade de túneis, cabines ou tendas de desinfecção contra o coronavírus. A substância usada em muitas delas, a clorexidina, pode até ser tóxica.

“E é sempre importante lembrar que o problema maior não são as superfícies. O vírus se espalha pela respiração”, diz Lages.