Fundação Padre Anchieta

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Há muitos anos, comunidades como a asiática, a árabe e a judaica já sabiam qual era a receita para melhorar o nível econômico de seu povo: gastar seu dinheiro com os empreendedores de seu próprio nicho social.

Isso acontece há milênios em toda parte do mundo. A formação de bairros étnicos em grandes cidades é, de certa forma, prova disso: a Liberdade em São Paulo, a Little Italy em Nova York, a Chinatown em São Francisco.

Recentemente, o conceito foi adotado também pela comunidade LGBT e nasceu aí o conceito de pink money. “Na pandemia, fala-se muito do ‘compre do bairro’, que tem o mesmo princípio”, diz Giovanni Beviláqua, analista técnico do Sebrae Nacional (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

Agora, chegou a vez do black money: o movimento que pretende fazer com que os negros fortaleçam o comércio de empreendedores pretos.

“O black money começou nos Estados Unidos”, conta Adriana Barbosa, empresária dona da Feira Preta, um marketplace digital (antes da pandemia era presencial) de empreendedores negros. “Nos EUA, o processo de colonização foi diferente. Quando os negros foram libertados, eles ficaram apartados dos brancos. Não podiam frequentar os mesmos lugares. Então, precisaram construir suas próprias escolas, seus próprios supermercados, suas próprias fábricas”, conta.

Apesar de nefasto, esse apartheid teve uma consequência positiva: economicamente, uma parcela da população negra forçadamente cresceu e se desenvolveu. Hoje, algumas das maiores corporações americanas são propriedades de empresários negros. Uma delas é a TV One, que nasceu da compra da Comcast, em 2015.

Por aqui, esse tipo de ação afirmativa também é possível – e necessária –, defende Alan Soares, um dos fundadores do Movimento Black Money, uma organização que tem várias frentes de atuação para fomentar o empreendedorismo negro. “Mesmo representando 54% da população brasileira e movimentando R$ 1,7 trilhão por ano, a comunidade negra ainda é 75% da faixa dos 10% mais pobres”, diz ele, citando dados levantados pelo Instituto Locomotiva de novembro de 2018.

A matemática é simples: se no Brasil existem 14 milhões de empreendedores negros, conforme levantou o Instituto Locomotiva com dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), esses negócios podem ser impulsionados pela renda da dos consumidores negros, que movimentam os tais R$ 1,7 trilhão por ano.

Círculo do dinheiro

“E não só pelos negros: pelos outros consumidores que são antirracistas”, diz o estilista Isaac Silva. Ele é negro, faz moda de inspiração africana, indígena e brasileira e vende para todos os públicos. “Hoje, 60% dos meus clientes são negros. A outra parcela, é antirracista. E eles adoram comprar de pessoas negras artigos que tem a ver com nossa história. Isso não é apropriação cultural. É black money, é dar forca economia para a comunidade preta”, diz ele.

Uma de suas clientes mais famosas é a arquiteta, escritora, palestrante e feminista negra Stephanie Ribeiro, apresentadora do reality show Decore-se. Ela usa bijus e figurinos de Isaac em seu programa do canal de TV a cabo GNT. Foi ela também quem fez o projeto arquitetônico da loja de Isaac. Um bom exemplo de circulação do dinheiro na mesma comunidade.

E os consumidores, pelo que indicam os dados da pesquisa, são a favor disso. O levantamento identificou que 67% dos consumidores negros preferem marcas e empresas que tenham valores parecidos com os deles.

Esse movimento, segundo Beviláqua, do Sebrae, é muito importante para dar escala aos empreendedores negros e fazê-los crescer. E os dados do Locomotiva, mais uma vez, fomentam isso: 82% dos empreendedores negros não têm CNPJ. A maioria dos empreendimentos são pequenos e informais. Comércio e serviço são os principais segmentos desses empreendedores.

“É um modo de corrigir desigualdades sociais históricas com as quais o país convive há seculos”, diz Patrícia Santos, cofundadora do EmpregueAfro, uma consultoria de recursos humanos e diversidade que, entre outras ações, ajuda grandes empresas a contratar profissionais negros.

“O black money vai um pouco além do movimento de inclusão e de diversidade nas empresas, por exemplo. É a economia preta que ajuda a melhorar a qualidade de vida e consequentemente o nível de educação da comunidade. Com mais gente negra com boa formação acadêmica, aumenta a representação preta em outros extratos sociais”, explica ela.

O estilista Isaac Silva

Escala social

Isso já vem acontecendo há algumas décadas, desde que o sistema de cotas começou a ser implantado nas universidades brasileiras. Os negros, por meio da educação, foram subindo na escala social. Subindo na vida.

Mas a desigualdade ainda é gritante. Hoje, 13% dos negros estão nas classes A e B. Coisa que não existia há 50 anos, por exemplo. Mas eles ainda são 50% da classe C e 37% das classes D e E, segundo o Locomotiva.

Por que é preciso dar uma forcinha?

“Os empreendedores negros são mais vulneráveis”, diz Mauro Oddo, técnicos de planejamento e pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). “Entre dois empreendimentos similares, na mesma região e sob as mesmas condições econômicas, o que pertence ao empreendedor negro sofre mais”, afirma o economista.

Há mais dificuldade para formar capital de giro, para conseguir empréstimos e muitas vezes até para formar clientela, segundo Oddo. “É o racismo estrutural, aquele que a gente repete por costume, sem perceber, que atrapalha.”

Preconceito

Muita gente ainda estranha a presença de pretos nas rodas mais altas da sociedade. A paulista Gisele Camargos, por exemplo, é empresária e formada em análise de sistemas. É dona da Conta Pra Ela, uma loja de calçados femininos especializada em números grandes, em Osasco (SP). “Enquanto vendedora, na loja, nunca percebi preconceito porque talvez tenha sido sutil. Mas, enquanto compradora, houve casos de dúvidas quanto ao fato de eu ser de verdade a dona do negócio. Duvidam que eu seja a proprietária”, conta.

O que já existe de black money no Brasil?

O Movimento Black Money, do Alan Soares, por exemplo, lançou durante a pandemia uma marketplace só de empreendedores negros, assim como a Ferira Preta, da Adriana, que foi criada em 2008.

Maquininha

Soares também lançou em 2019 a Pretinha, uma maquininha de pagamentos para empreendedores negros. “Só que com uma pandemia, os atendimentos presenciais caíram muito e o faturamento das empresas também. Então a gente tem as maquininhas, elas estão sendo comercializadas, mas no momento estamos focando no engajamento digital. No próximo trimestre teremos novidade também na área de fintech”, diz Soares, sem dar mais detalhes sobre essa nova empresa.

ContaBlack

Já existe um banco criado por negros para negros. É o contablack.com.br, criado pelo publicitário Sérgio All em 2017. Ele empreendia desde pequeno e teve várias empresas na área de eventos e games. Chegou a produzir grandes shows como os do U2 e Black Eyed Peas. Mas depois de pedir empréstimo em um banco e ter sido recusado, decidiu montar ele mesmo seu próprio banco. Mas não foi assim do dia para noite que as coisas aconteceram. All levou 20 anos elaborando o projeto é só conseguiu inaugurar o ContaBlack depois que, em 2013, foi promulgada a Lei nº 12.865/13, que alterou o S`B (Sistema de Pagamentos Brasileiro), permitindo a criação das fintechs. Apresentou o projeto para vários investidores e assim começou a atuar. Mais da metade de seus clientes são negros.

Viagens sem preconceito

Em 2016, o carioca Carlos Humberto Silva lançou a plataforma Diáspora Black, um site com cursos, experiências, hospedagens e pacotes turísticos com um selo de garantia: a de que os turistas que usarem um dos serviços vendidos pela Diáspora não vão sofrer preconceito quando estiverem, por exemplo, desfrutando de férias em um hotel fazenda.

De toucas de natação à base para maquiagem

O site Daminhacor também é um marketplace da Economia Preta. Mas um pouco mais específico: lá o consumidor encontra produtos bem de nicho para pessoas negras, como maquiagem para pele negra, touca de natação criada para cabelos afro e também chapéu de formatura para quem tem cabelão.