Fundação Padre Anchieta

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Quando Fafá de Belém, Glória Pires, Astrid Fontenelle, Carla Vilhena e Renata Vasconcellos começaram a deixar os cabelos brancos aparecer no ano passado, muitas mulheres que estavam na quarentena viram que não estavam sozinhas. Assim como as celebridades, todas elas tiveram que dar um tempo na coloração que escondia os fios brancos – já que os salões de beleza ficaram mais de quatro meses fechados na pandemia.

“Eu já nem sabia que cor era o meu cabelo”, diz a professora de yoga Marina Godoy, de Rio Claro (SP). Ela, que já foi loira, ruiva, castanha, tem 39 anos e resolveu parar de usar coloração. Está deixando os grisalhos e brancos crescerem. “Sinto o cabelo mais saudável agora. Mesmo assim, estou cuidando mais deles, com máscaras e hidratação.”

Foi por isso que a L’Oréal, a gigante mundial dos cosméticos – e dona de quase metade do mercado de coloração para cabelos no mundo – decidiu também aderir a essa nova tendência. No final de janeiro, a companhia e a atriz Samara Felippo publicaram nas redes sociais uma espécie da transformação da atriz, que vinha deixando a tintura de lado desde março. A cabeleireira da L’Oréal Bella Carolina cortou e produziu o novo visual granny hair da Samara.

“Estou em uma fase radical que quero olhar mais para mim e me libertar dos padrões impostos, e quero ajudar outras mulheres também levantando a bandeira do esclarecimento, da autoestima e da libertação. Sempre tive fios brancos e pintei, mas fui inspirada por outras mulheres que assumiram e cá estou!”, disse a atriz.

Mas o que a L’Oréal ganha com isso?

Parece estranho a líder mundial em vendas de coloração apoiar consumidoras a assumir os cabelos brancos, não é? Tanto que a empresa perdeu 10% em vendas na divisão de produtos profissionais, que incluem as tinturas de salão, globalmente em 2020, segundo seu relatório de resultados.

Nacionalmente, segundo a Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), o consumo de colorações transitou dos salões para o lar. Com o setor de serviços fechados, boa parte dos consumidores de coloração passou a fazer a tintura em casa. Com essa mudança de comportamento, os kits de colorações permanentes tiveram aumento de vendas de 10,9%. Já as colorações semipermanentes (que saem com o tempo) tiveram um salto de vendas de 126% para as semipermanentes em comparação com 2019.

E isso foi muito bom para os fabricantes. Mas a marca francesa pensou diferente em relação a quem não quis aderir ao tingimento caseiro. Em vez de tentar convencer a consumidora a continuar cobrindo os brancos, partiu para a tática do “se não pode com eles, junte-se a eles”.

“Houve uma mudança de comportamento nas consumidoras buscando produtos para cabelos grisalhos e conseguimos enxergar claramente essa mudança nos resultados com um aumento de dois dígitos na venda de itens específicos para cabelos grisalhos, principalmente na parte de tratamento”, explica Debora Maciqueira, gerente de marketing de produtos L’’Oréal Professionnel, que tem uma linha chamada Silver, especifica para grisalhos. “Isso porque esse cabelo requer cuidados especiais para manter a saúde e vitalidade do fio. Características essenciais para um aspecto bem cuidado” diz ela.

Clayton Silverio, profissional do salão paulistano Cabelaria concorda. Antes da pandemia, ele quase não tinha clientes que não cobriam os cabelos brancos. Agora, cerca de 10% resolveram assumir o grisalho. “Muita gente tinha vontade, mas o processo de transição assustava. Como elas ficaram em casa, essa fase foi mais fácil de assumir. Agora, elas não querem parecer desleixadas. Por isso capricham num corte moderno e no tratamento dos fios, com hidratação e xampu antiamarelamento”, conta ele.

A transição, realmente, é a parte mais chata, segundo Marina Godoy. “O cabelo fica uma parte natural, outra branca, outra com a tinta desbotada. Fica tricolor”, lembra ela.

Até aí as marcas oferecem soluções. “Como o processo de transição pode ser demorado, resolvi acelerá-lo com a Bella e L’Oréal Professionnel, em quem confio de olhos fechados, e estou me sentindo poderosa!”, diz a atriz Samara Felippo, que teve parte dos cabelos descolorida e tonalizada para igualar a parte já colorida à crescida com os brancos.

“Deixar os brancos crescer não está ligado à falta de cuidado. Pelo contrário, são mulheres que vão se cuidar ainda mais para se sentirem confortáveis dentro do novo estilo que escolheram ter”, diz a executiva da L’Oréal. “Mas ainda assim estamos falando de uma parcela pequena das mulheres brasileiros. De fato, o grisalho ainda é um segmento nichado.”

Segundo a empresa, ainda não há dados recentes que mostrem o tamanho desse novo mercado. “Temos estudos de 2018, ou seja, não são recentes, e possivelmente esse dado mudou um pouco com a pandemia”, diz Debora. Na época, cerca de 5% das mulheres assumiam os brancos.

Com certeza, essa parcela aumentou. E deve continuar crescendo. “Acreditamos que, mais do que uma tendência como outras que vemos por aí, estamos falando muito mais de um movimento de libertação. Assumir os fios brancos têm muito mais a ver com libertação e autoexpressão do que efetivamente com moda e tendência. É bem parecido com o movimento das cacheadas. Então nesse caso não acreditamos ser algo que passe com a estação do ano ou a virada da coleção”, diz ela.

E a estrutura do fio branco é diferente?

Estruturalmente, um cabelo com fio natural é um cabelo que tem seus pigmentos naturais de cor. Já um cabelo colorido teve seus pigmentos de cor alterados e o depósito de uma nova cor cosmética. O cabelo grisalho ou branco, por sua vez, é um fio que parou de produzir pigmentos de cor. Geralmente tem a queratina de sua composição um pouco mais rígida do que a do cabelo natural. Por isso algumas pessoas têm a impressão de que o cabelo branco é mais grosso do que os demais.