Convenhamos, qualquer que seja a circunstância, pedir aumento é algo delicado — para não dizer tenso, constrangedor e altamente desconfortável. Em meio a uma pandemia como a que estamos vivendo agora, piorou. Não por acaso, os especialistas sugerem uma autoavaliação completa para questionar a si mesmo sobre sua performance profissional.
Se chegar à conclusão de que realmente vem trazendo benefícios robustos para a empresa, mostrando valor adicional, contribuição e protagonismo, suas chances de ganhar o que está solicitando são consideráveis. Mas antes de partir para a ação, veja as recomendações a seguir.
As dicas “universais” continuam valendo
Sim, as inúmeras recomendações sobre como solicitar um aumento, amplamente disponíveis em livros e na internet, ainda devem ser levadas em conta antes de falar com seu gestor. Entre elas:
- revisitar sua avaliação de desempenho e seu plano de carreira, lembrando dos últimos feedbacks e se tem cumprido as metas;
- ter em mente os projetos relevantes nos quais você se destacou mais, de preferência envolvendo várias áreas ou a empresa toda;
- jamais usar motivos pessoais para tentar turbinar o salário, ou seja, nada de alegar ter acabado de comprar um apartamento ou ganhado mais um filho, estar endividado, e por aí afora;
- ser educado, objetivo e demonstrar segurança;
- evitar o tom emotivo ou impositivo, incluindo ameaças ou ultimatos velados;
- preparar-se para uma eventual negociação e ter em mente a porcentagem de aumento mínima que está disposto a aceitar;
- não esperar um retorno imediato, pois o chefe provavelmente precisará consultar outros gestores, além do RH.
Lembre-se que agora a reunião é virtual
Diferentemente do período pré-pandemia, tenha em mente que a conversa agora acontecerá através de uma tela, o que pode causar ainda mais timidez e nervosismo.
“Seja bom ou ruim, hoje o relacionamento profissional é quase 100% online e as pessoas precisam estar o mais à vontade possível com essa nova dinâmica de comunicação”, afirma José Augusto Minarelli, diretor-presidente da consultoria Lens & Minarelli e autor de sete livros sobre carreira e desenvolvimento profissional. “O lado bom é que as chamadas de vídeo permitem ter a seu lado uma lista com os argumentos preparados para a ocasião. Desse modo, você não vai esquecer nada.”
Escolha o momento com (muito!) cuidado
Levando em consideração um cenário pandêmico, escolher o timing ideal para pleitear um incremento de salário tornou-se algo fundamental. Para isso, a melhor estratégia é recolher o máximo de dados e informações sobre a situação financeira de sua empresa e como anda seu segmento de atuação.
“Em casos de pausa nas contratações, demissões em massa e cortes de custo a torto e direito, certamente não é a melhor hora para pedir um aumento de salário, mesmo que sua performance seja extraordinária”, diz Minarelli. “Se a organização está tentando sobreviver e se desdobrando para honrar seus compromissos com funcionários e fornecedores, esse tipo de atitude demonstra falta de sintonia com o negócio. A recomendação, portanto, é esperar por um momento mais oportuno.”
Prove suas conquistas e aponte para o futuro
Organize muito bem as evidências do seu sucesso. Comprove numericamente a diferença que você fez, como aumentou o lucro da companhia e gerou mais eficiência ou melhorou a satisfação dos clientes, por exemplo. Saber qual a sua posição aos olhos de seu gerente e das equipes também ajuda, e muito. Descobrir o seu valor no mercado, isto é, quanto outras empresas pagam por profissionais do mesmo nível, idem.
De acordo com os especialistas, reforçar e comprovar o seu valor durante o tête-a-tête com seu superior é essencial, sobretudo em tempos de crise intensa, nos quais as organizações costumam investir apenas no que é líquido e certo. Fernanda Albuquerque, coach de carreira e liderança, vai além.
“É preciso estar pronto para abordar não apenas as conquistas passadas, mas principalmente o futuro. Para expor seu genuíno desejo de continuar evoluindo, proponha assumir novas atividades e responsabilidades, demonstrando disposição e capacidade para tanto”, afirma ela. “A regra de ouro é apresentar uma visão do que quer construir, um plano para realizá-la e trazer seu chefe junto com você nessa jornada.”
Foi exatamente isso que Aline Cruz fez ao reivindicar o reconhecimento por seu trabalho no início deste ano. Na época, ela atuava como coordenadora da área de Capitalização de um grande banco internacional e resolveu batalhar por uma vaga de gerência.
Na hora H, além de citar numericamente todos os seus diferenciais e pontuar sua experiência em outros departamentos da empresa, ela fez comparativos de vendas e mencionou melhorias relacionadas a produtos e serviços, entre outros feitos.
“Mas o que de fato surpreendeu a minha superintendente foi eu ter apresentado espontaneamente durante a reunião um plano estratégico completo para a área”, diz Aline, que acabou conseguindo sua almejada promoção. E ela emenda: “Reconhecimento não se ganha, se conquista, mostrando do que é capaz e agindo no dia a dia de forma condizente com o novo patamar salarial ou a nova posição que deseja alcançar.”
Não foi dessa vez? Não desanime
Ao contrário de Aline, você infelizmente não conseguiu o seu tão sonhado reconhecimento? Esse é um risco que, mais do que nunca, se corre. Mas atenção: ao ouvir uma negativa, o importante é respirar fundo e manter o profissionalismo. Além disso, trate de não tomar decisões precipitadas, evite demonstrações de aborrecimento ou negativismo e continue entregando mais do que o esperado. Nesse caso, agradeça seu gestor, pergunte o que você pode fazer para ter sucesso em seu pedido no futuro e peça um novo encontro no prazo de seis meses. “Mas se você achar que está sendo enrolado e que não há aumento, tampouco promoção, à vista, com ou sem pandemia talvez seja hora de iniciar uma busca por outro trabalho que o valorize e estimule a crescer”, sugere Fernanda.
Dica bônus: mantenha a cultura do diálogo
Seja como for, conversar de forma apropriada com seu superior sobre eventuais pontos de melhoria e perspectivas futuras independe de hora marcada. Mesmo se achar que esse ainda não é o momento de falar sobre aumentos salariais, promoções e afins, nada o impede de, a qualquer tempo, dar início a um diálogo (livre de exigências e pressões) com seu chefe a respeito de expectativas mútuas.
Sem usar o tom imperativo, mas sim o condicional, a ideia é cultivar uma relação de confiança, bem como uma comunicação aberta e contínua, afirmam os especialistas. Além de caracterizar maturidade, interesse e proatividade, esse tipo de atitude contribui para aumentar suas chances de ser lembrado assim que a poeira baixar e os negócios voltarem a crescer. Que assim seja.
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