Fundação Padre Anchieta

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Televisão

Rádio

Nos últimos dias, cenas estarrecedoras foram veiculadas nas mais variadas mídias. Um homem soca uma mulher, a enche de tapas, a agride verbal e fisicamente, inclusive quando ela está com um bebê em seus braços.

A primeira coisa que pensei quando vi essas imagens foi “nossa, ela conseguiu fazer registros do momento”. A segunda foi “mesmo ele sendo famoso, uma pessoa pública, e, portanto, depender da relação com fãs, população geral e seguidores, não se importou com a gravidade dos fatos”.

A violência explícita neste caso é indiscutível. Será que a câmera estava escondida? Será que o agressor não sabia que estava sendo filmado? Minha conclusão depois de ver o posicionamento do DJ Ivis nas redes sociais é que ele simplesmente não se importava. Acreditava piamente que não sofreria represálias, que como muitos falam “não daria em nada”. Mas de onde vem tamanha sensação de segurança?

A segurança e autoconfiança neste caso vêm de como a sociedade brasileira encara os direitos das mulheres. E esse fato corrobora com alguns estudos sobre a violência contra mulheres, Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), ao menos 648 mulheres foram assassinadas no Brasil por motivação relacionada ao gênero no primeiro semestre de 2020. O índice representa um aumento de 1,9% em relação ao mesmo período, de janeiro a junho, no ano de 2019.

Já o Monitor da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher no Período de Isolamento Social, do Instituto de Segurança Pública (ISP), apontou cerca de 120 mil casos de lesão corporal decorrentes de agressão doméstica contra mulheres em 2020, já a pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP) mostra que 73% das vítimas de homicídio nesse período são mulheres negras.

A fala mais brilhante e simples em relação ao contexto foi da artista Zélia Duncan ao dizer que “todas as mulheres que conheço sofreram assédio em algum nível. Nenhum homem que conheço tem amigos assediadores. Não lhes parece misterioso?”. Eu somente acrescentaria, nenhum homem, mas também nenhuma mulher que eu conheço tem ou fala sobre amigos, conhecidos ou familiares assediadores ou que reproduzem de alguma forma essa violência. Mas como isso seria possível?

A conclusão óbvia, primeiro e antes de mais nada, é que, certamente, estamos naturalizando a violência contra a mulher. Segundo, como se diz em linguagem coloquial, estamos “passando pano”, nos eximindo em perceber e reagir a gravidade desse tipo de situação a depender de quem são as pessoas envolvidas. Terceiro, e talvez mais grave, pode ser que estejamos literalmente pactuando com a violência contra a mulher em todos os níveis, lugares e situações. Ou seja, o “DJ Ivis” dentro de cada um de nós está dizendo de forma declarada ou sutil, que entende quando uma mulher apanha, é agredida, espancada ou morta. Assim, em linhas simples, não ligamos, não saímos às ruas, não fazemos manifestações coletivas, não falamos sobre o assunto. Não deixamos de ser seguidores do agressor em redes sociais e buscamos justificativas nas atitudes da vítima.

Certa vez escutei que “somente acontece em uma sociedade o que é culturalmente aceito nela”. E o que é cultura? O que eu e você estamos construindo cotidianamente em nossas ações? Então, quando vemos um país no qual a cada dois minutos uma mulher é agredida, precisamos perguntar o que está acontecendo? Até quando vamos esperar parados pela mudança?

Até pouco tempo antes de terminar esse artigo, fui informada de que o DJ Ivis tinha sido preso. Mas ainda assim, fica a reflexão! Se houvesse somente o relato da ex-esposa, não houvesse vídeos com registros em imagem e outras formas de evidência como o laudo da lesão, o que teria acontecido? Eu e você precisamos mudar essa realidade hoje, não dá mais para normalizar esse tipo de situação, ou deixar cair no esquecimento. É preciso estar atento com tudo o que acontece ao nosso redor, combatendo todo e qualquer tipo de ação que prive outro ser humano do direito básico de ser e de existir em plenitude.