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Reprodução/ Flickr Ministério da Saúde
Reprodução/ Flickr Ministério da Saúde

A poliomielite é uma doença causada pelo poliovírus. Conhecida popularmente de pólio ou paralisia infantil, pode infectar adultos e crianças por meio do contato direto com fezes, a transmissão ocorre, principalmente através da contaminação de água.

Entre os anos 1960 e 1980, o país registrou um surto da doença, pela facilidade da contaminação, contabilizou mais de 26 mil casos do vírus entre 1968 e 1989, antes da erradicação. A transmissão da poliomielite acontece de algumas formas: a mais comum é o contato entre pessoas, por meio da via fecal-oral, por objetos, água e alimentos contaminados com fezes de doentes. Além disso, é possível transmitir por gotículas (ao falar ou espirrar).

O último caso de pólio no Brasil foi registrado em 1989. Alguns anos depois, em 1994, ganhou o certificado de doença eliminada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). A erradicação do vírus aconteceu em paralelo com o avanço e adesão da vacinação. A primeira imunização foi criada pelo médico americano Jonas Salk, a vacina injetável é feita com o vírus morto/ inativado. A segunda, do pesquisador polonês Albert Sabin, é feita de vírus atenuado, e é aplicada de forma oral.

No entanto, apesar da grande adesão à vacinação contra a pólio, nos últimos anos, a taxa de imunização caiu, o que apresentou alerta aos especialistas. Ao site da TV Cultura, a infectologista Raquel Stucchi, professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), falou sobre os riscos da baixa vacinação, de um possível surto da doença e das sequelas.

A principal sequela da poliomielite é a paralisia flácida. A especialista explica que o membro fica paralisado, uma vez que fica mais flácido, às vezes imóvel. “Pode acometer mais frequentemente nos membros inferiores, mas os quadros mais graves podem ter um acometimento na cadeia nervos, responsável pelo controle da respiração, que pode levar a quadros de uma paralisia da musculatura respiratório e os pacientes podem vir a óbito porque não conseguem se mexer, não conseguem mexer para respirar”, diz.

Após a infecção, não há cura para tratar a poliomielite. A única forma de prevenir a doença, de acordo com a infectologista, é a vacina. “Uma vez que o paciente entra em contato com o vírus da poliomielite, não há nenhuma proteção, o risco de adoecimento ele é grande, então só pensamos em poliomielite quando tiver o aparecimento de paralisia flácida, daí é realizada a investigação. A investigação é através da pesquisa do poliovírus nas fezes da pessoa com o sintoma”, completa.

A preocupação com o avanço da doença surgiu pela diminuição da vacinação, a partir de 2018. Naquele ano, a cobertura era de 89,54%. Em 2019, de 84,19%. Em 2020, foi para 76,05% e, em 2021, caiu para 66,62%. A baixa cobertura acendeu um alerta preocupante na comunidade médica.

Os dados da Organização Pan-Americana da Saúde mostram que seis países, além do Brasil, voltaram para a lista de alto risco para a volta da poliomielite: Brasil, Bolívia, Equador, Guatemala, Haiti, Paraguai, Suriname e Venezuela. O órgão afirma que a baixa vacinação é preocupante. A doença não aparece no continente há 30 anos.

"Esses países, que representam 32% da população com menos de um ano de idade das Américas, têm sustentado uma baixa cobertura de vacinação e sistemas de vigilância fracos, o que representa uma ameaça de emergência do vírus e a subsequente circulação dele", afirma a Opas.

O vírus continua ‘ativo’ em apenas dois países, no Afeganistão e Paquistão, que contabilizaram cinco anos nos últimos 12 meses.

Como a especialista explicou, a vacina é a única proteção contra a infecção do vírus. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) indica três doses contra a poliomielite e mais dois reforços. A primeira dose é aplicada a partir dos 2 meses de vida. As outras duas aplicações são indicadas nos 4 e 6 meses. O primeiro reforço 15 e 18 meses e o segundo reforço entre 4 e 5 anos de idade.

Cobertura vacinal

A especialista Raquel Stucchi cita três motivos para a diminuição na taxa de vacinação: a pandemia, a falta de campanhas e a desinformação, que aumentou a desconfiança das vacinas.

A infectolgista explica que a pandemia da Covid-19 é o principal motivo da diminuição da adesão. Segundo elas, nos últimos dois anos, o país registrou uma baixa na cobertura vacinal. No início a orientação era de “de ‘fique em casa’. não saia e tudo é de risco, não aglomere, muitos pais tinham receio de levar os seus filhos para vacinar”, destaca.

Com a presença da pandemia no mundo, e o crescimento expressivo de casos no Brasil, o reflexo foi logo sentido nos postos de saúde. As salas de vacina permaneceram fechadas por um longo tempo, haja visto que foi necessário uma reorganização nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), privilegiando o atendimento dos sintomáticos respiratórios por determinado ponto, segundo a médica.

Mas é importante destacar que pandemia não é a única explicação, visto que a queda na cobertura vacinal era observada bem antes da pandemia. “São dois motivos principais: o primeiro é que não tivemos uma realocação de horários de atendimento nas salas de vacina. Então as salas de vacina normalmente começam no meio da manhã, e termina por volta das 18h “, diz a especialista.

Segundo Raquel, o horário “inviabiliza” a vacinação das crianças, uma vez que os pais que trabalham não conseguem levar os filhos para se imunizar. “Ou ele trabalha ou ele vacina, e ele acaba optando, ainda mais na situação em que nós vivenciamos nos últimos anos, por trabalhar”, completa.

A segunda razão citada é a falta de informações sobre a doença. A infectologista aponta que “vacina foi vítima de seu próprio sucesso”. De acordo com ela, quando a sociedade não ouve mais falar sobre determinadas doenças, gera uma sensação de que não existem mais, o que diminui o sentimento de medo.

“Primeiro os pais não sentem que a doença é tão importante e acham que ela nem existe mais. A outra é que os pediatras acabam muitas vezes não insistindo tanto na importância da vacinação, não cobram tanto assim a verificação da carteirinha e atualização da carteira vacinal’’, acrescenta.

Ela afirma ainda que as escolas também têm papel na fiscalização da carteirinha, uma vez que muitas vezes é item obrigatório para se entrar em uma rede de ensino. Falta, segundo a especialista, a verificação das vacinas tomadas ou não pelas crianças, Raquel acrescenta que seria importante ter uma pessoa responsável apenas para fazer a análise.

O terceiro motivo citado é a desinformação. Assim como as notícias falsas em relação à vacina contra a Covid-19, o movimento foi observado com outros imunizantes. A desconfiança em relação às vacinas aumentou, os efeitos colaterais, a segurança e eficácia e talvez até da indicação da vacina são questionados”, explica. Apesar de não ser a razão principal pela queda na cobertura, também tem sua atuação.

Campanha de vacinação

O crescimento da cobertura vacinal depende, segundo a infectologista, de campanhas. Raquel relembra que no passado, na época da erradicação, havia mais informações sobre a vacina e campanhas públicas do Ministério da Saúde incentivando a imunização. Hoje, ações como essas estão em falta.

“A gente tinha mais propaganda veiculadas por rádios e televisão do que a gente tem agora. Faltam mais campanhas públicas até de dias de vacinação, um alerta ou colocar também para as escolas a obrigatoriedade de verificação da carteira. Aliado a esses fatos falta campanha pública do Ministério da Saúde, do PNI incentivando a vacinação, reforçando a vacinação para combater todas essas doenças” acrescentou.

O Brasil pode voltar a ter surto de poliomielite?

A infectologista Raquel Stucchi diz que não é cedo para o país se preocupar com uma possível crise da doença. Apesar do último caso ter sido registrado em 1989, a baixa taxa de vacinação no Brasil e nos outros países podem indicar um sinal de alerta. Devemos alertar a população de que há casos nos países aqui ao redor. A transmissão é muito fácil, porque se faz através de contaminação de rede de água e esgoto, então o reaparecimento da pólio ,onde ela já tinha sido eliminada, traz grande preocupação. A nossa baixa cobertura vacinal é um alerta, um indicativo de que sim, podemos vir a ter em um futuro próximo casos de paralisia infantil no nosso meio novamente”, finaliza.