As hepatites, doenças que provocam a inflamação do fígado, são causadas por cinco tipos de vírus (nomeados das letras A à E). A hepatite autoimune, por sua vez, é uma doença rara, relacionada a alterações no sistema imunológico, que causa inflamação crônica no fígado. Quando não tratada, pode evoluir para mau funcionamento do órgão.
A jogadora de futsal Pietra Medeiros, de 20 anos, foi vítima da doença e morreu no dia 19 de agosto. A atleta fazia parte do Taboão Magnus, de Taboão da Serra (SP).
O sistema imune de pacientes com este tipo de hepatite reconhece as células do fígado como estranhas, e por isso as ataca. As consequências são a inflamação crônica do órgão, o desenvolvimento de fibrose hepática, que são cicatrizes no fígado, e também a cirrose.
De acordo com a hepatologista Raquel Fraga, os vírus da hepatite são transmissíveis, mas a hepatite autoimune não, por isso se acredita que ela seja um misto de uma base genética associada a algum gatilho ambiental.
“Por exemplo, eu tenho uma predisposição genética para produzir autoanticorpos, com algum gatilho ambiental que pode ser: uma infecção viral, gripe, covid, uma vacina ou um medicamento que tem usado, alguma coisa no ambiente que disparou essa autoimunidade e isso é um mecanismo que é comum em todas as doenças autoimunes”.
Mesmo assim, de acordo com o IBRAFIG, não é comum que pessoas da mesma família desenvolvam a doença.
Segundo a hepatologista, a doença acomete em torno de duas pessoas a cada 100 mil. “Já é considerado uma doença rara. No Brasil, a doença corresponde a apenas 5% das causas de transplante hepático e dessas pessoas com diagnóstico de hepatite autoimune, 20% apresentam falência hepática aguda, foi o que aconteceu com a com a Pietra”.
“Geralmente a população mais acometida pela doença no mundo são mulheres entre 25, 30, 35 anos de idade. Quanto mais jovem mais grave ela tende a ser ”, conclui a Dra.
Sintomas
Os sintomas são exatamente iguais aos de qualquer hepatite. “Pode sentir fadiga, mal estar, cansaço, falta de apetite, dor abdominal e o que chama mais atenção como alguma doença no fígado é o olho amarelo, conhecido como amarelão e pode ter febre baixa também”, explica a médica.
Diagnóstico
Segundo a hepatologista, o diagnóstico é feito por um conjunto de fatores. "A gente começa com um quadro clínico, exames para ver o que que tá acontecendo, esse cansaço, falta de apetite, essa dor abdominal ou até o amarelão que já surgiu, vai fazer exame de sangue, tem alterações nas chamadas ‘enzimas hepáticas’. Faz uma ecografia de abdômen, o fígado pode estar normal ou às vezes ele está um pouquinho aumentado na apresentação inicial de hepatite autoimune.
“Em conjunto com exames laboratoriais e quadro clínico se sugere uma doença autoimune, mas o diagnóstico exato é através de biópsia hepática'', conclui.
Tratamento
A hepatite autoimune não tem cura mas tem tratamentos para controle na maior parte dos casos. "A gente usa medicamentos que vão diminuir a resposta imune da pessoa, chamados imunossupressores. O médico que vai definir os remédios, um habitual é que a pessoa responde ao tratamento”, diz a médica.
"Se a pessoa não tratar ela tem uma sobrevida em 5 anos de 50%, agora se ela tratar ela tem uma chance muito boa de uma sobrevida de mais de 90%. então assim o tratamento é muito efetivo na maior parte dos casos”.
Segundo a Raquel, mesmo que doença fique em remissão por um período e que depois desenvolve complicações na sequência, às vezes precisa de transplante hepático
“A sobrevida do transplante em um contexto de hepatite autoimune, ela tende a ser melhor que em outras doenças, então ela chega com uma sobrevida pós transplante próximo a 80% em 10 anos”.
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