A gastrosquise ganhou repercussão após a modelo Cintia Dicker falar sobre a condição de saúde de Aurora, sua filha com o surfista Pedro Scooby. A doença é resultado de uma malformação congênita da parede abdominal do bebê, em sua porção próxima ao umbigo.
O parto aconteceu em 27 de dezembro, quando a modelo estava na 37ª semana de gestação. Em entrevista à revista Vogue, Cintia revelou que a gastrosquise foi identificada ainda durante a gravidez.
Logo após o nascimento, Aurora precisou passar por uma cirurgia para tratar da malformação. O site da TV Cultura conversou com Nathalia Pagan, cirurgiã pediátrica do Sabará Hospital Infantil. A especialista explica o que é a gastrosquise e por que deve ser tratada logo após o parto.
Segundo a médica, a doença acomete cerca de um a cada 2.500 nascidos vivos, ou seja, não é uma patologia incomum. A gastrosquise faz com que parte do intestino seja exposta pelo orifício aberto no abdômen, inclusive ao líquido amniótico durante a gravidez. O quadro pode levar a casos de inflamação ou infecção.
De acordo com o Hospital Sabará, a incidência dos casos é de 3 a 4 a cada 10 mil nascimentos. A cirurgiã pediatra afirma que a maioria dos registros não apresenta riscos de vida aos bebês.
“Em 95% dos casos dos pacientes com gastrosquise existe uma boa evolução de vida. Eles vão viver, não é uma doença que vai causar morte. Existem casos de malformações mais complexas que podem, na evolução, levar ao óbito, mas a maioria dos pacientes tem uma boa evolução. No entanto, o momento do parto é fundamental para o bebê”, ressalta.
O tratamento da gastrosquise acontece logo após o parto. Nathalia Pagan destaca que o nascimento pode ocorrer de forma normal ou cesárea, mas que é de extrema importância que a cirurgia para reparar a malformação seja realizada de forma emergencial.
O parto, segundo a especialista, deve ser acompanhado por um cirurgião pediatra, que logo após o procedimento, deve encaminhar o bebê ao centro cirúrgico para colocar as alças dentro do abdômen. “Quanto mais tempo as alças ficam expostas para fora, maior é a dificuldade para o retorno. Por isso, quanto mais precoce, mais fácil fica e menor o risco de complicações”, diz.
Em alguns casos, em que a cirurgia não pode ser feita com urgência, a especialista aponta que é possível colocar uma cobertura chamada de “silo”. Com isso, nos dias seguintes, os médicos empurram lentamente o intestino para dentro, para não causar nenhuma sequela, como a síndrome compartimental, que é o aumento da pressão intra-abdominal que atrapalha na ventilação dos pulmões e perfusão dos órgãos abdominais.
Em quadros mais graves, chamados de gastrosquise complexa, o bebê pode sofrer ainda com uma crise intestinal, ou seja, a interrupção do intestino em algum ponto.
Apesar de não apresentar grandes problemas após a cirurgia, é necessário que a criança seja acompanhada por médicos. A especialista afirma que bebês que operam de gastrosquise podem sofrer com algumas pequenas situações, como a dificuldade de alimentação nas primeiras três semanas e um risco maior de complicações abdominais.
Pré natal
A malformação é descoberta durante o pré-natal, Nathalia Pagan diz que é comum que a doença apareça a partir da 12ª semana de gestação. Durante os exames também é possível saber o grau da gastrosquise.
“A família precisa estar preparada para esse tipo de malformação, o bebê vai nascer em um ambiente preparado para ele que tenha um cirurgião pediátrico disponível 24 horas que possa atendê-lo. Além disso, outras malformações são diagnosticadas no ultrassom pré-natal e a importância disso tudo é que a criança possa nascer em um ambiente controlado”, acrescenta.
Informação
Mesmo não sendo uma condição rara, muitas pessoas possuem dúvida em relação à doença. A cirurgiã pediatra afirma que a exposição do caso de Aurora, filha de Cintia Dicker e Pedro Scooby, é importante para que o tema seja debatido e que a população fique cada vez mais ciente do quadro.
“Eu acho que a grande importância deles terem divulgado a patologia do bebê. Foi importante mostrar para a população que existem essas malformações, que elas não são incomuns. A divulgação gera conhecimento da população, por isso é importante”, finaliza.
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