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Durante décadas, o rotavírus foi responsável por surtos de infecções gastrointestinais e diarreia, sobretudo em crianças menores de cinco anos. Com o controle por conta da vacinação isso mudou nos últimos anos, abrindo espaço para um vírus menos conhecido: o norovírus, a principal causa das diarreias provocadas por vírus no mundo.

O microrganismo tem sido apontado como causador do surto em FlorianópolisSanta Catarina, desde o início do ano. Mais de 3,2 mil casos de doenças diarreicas já foram registrados.

De acordo com os dados divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde de Santa Catarina até o dia 20 de janeiro, 12 amostras de material fecal para diagnóstico viral tiveram resultado positivo, sendo encontrado em nove amostras a presença de norovírus e em três amostras a presença de rotavírus. Todos os anos os norovírus causam cerca de 200 mil mortes e 685 milhões de casos, sendo as crianças a parte da população mais afetada.

A equipe do Laboratório de Virologia Aplicada da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) formada pelos biólogos e doutorando Rafael Dorighello, mestrandas Mariana Elois, Beatriz Savi, a farmacêutica Iara Guterres e o graduando Leonardo Pessi conversaram com o site da TV Cultura e explicaram a estrutura desse vírus.

“Tem vírus que possui uma estrutura externa chamada envelope e tem outros que não têm. A presença desse envelope geralmente colabora para que seja mais suscetível a temperatura, variação de PH e radiação ultravioleta e ele acaba mais facilmente sendo inativado. Os vírus não envelopados vão apresentar maior resistência a esses fatores e contaminam o ambiente, já que eles vão persistir na água, por exemplo, ou na superfície de alimentos”, explicam os profissionais.

Os especialistas dizem que o SARS-CoV, vírus da Influenza, e o HIV são um exemplo de envelopados pois não encontramos eles no ambiente contaminando as pessoas. O norovírus, assim como o rotavírus e a hepatite A, são vírus não envelopados e que contaminam a água e os alimentos e, assim, chegam até as pessoas.

No verão, geralmente, costuma ter um aumento da presença do vírus e toda a região do país está suscetível a isso dependendo da densidade populacional. Segundo os profissionais, esses vírus são liberados nas fezes e se os esgotos não tiverem um tratamento efetivo de saneamento básico ou caírem no lugar errado como em uma lagoa ou mar, ele vai disseminar as partículas virais ali.

Cerca de 14% dos surtos em países desenvolvidos acontecem por transmissão alimentar, uma proporção que pode ser maior em países de condições sociais mais vulneráveis. As frequentes mutações genéticas e recombinações do vírus, que possibilitam a uma pessoa se infectar mais de uma vez, dificultam o desenvolvimento de uma vacina.

“A pessoa pode se infectar inúmeras vezes, mas a densidade dos sintomas pode variar ao longo da sua vida, geralmente é em torno de um a três dias o período que a pessoa sofre os piores sintomas da infecção”, afirmam os profissionais.

Sintomas

Os sintomas da infecção por norovírus são vômito em forma de jato constantes, diarreia é típico desse tipo de vírus, manifestação de febre e desconforto abdominal.

“Ele é um vírus que se replica em células que estão presentes no intestino, chamadas de enterócitos. Elas têm várias funções e uma delas é auxiliar na absorção de água, então a dor abdominal vem em função dessa relação”.

Como prevenir

Segundo o Ministério da Saúde, o período de incubação é de 18 horas a 2 dias e a doença pode durar até dois dias.

As medidas de prevenção incluem práticas de higiene e de consumo adequado de alimentos, como lavar sempre as mãos antes e depois de utilizar o banheiro, trocar fraldas, manipular ou preparar os alimentos, amamentar e tocar em animais.

Desinfetar superfícies, utensílios e equipamentos usados na preparação de alimentos e não utilizar água de riachos, rios ou poços contaminados também contribui para evitar a infecção por norovírus.

Os estudantes afirmam que existe uma brecha na legislação que obriga a contagem de bactérias em água para consumo e onde as pessoas se banham, para ser considerada balneário.

“Isso é apenas de bactérias, a legislação garante que havendo surtos aí sim deve-se buscar qual é o vírus que está causando o surto. Isso é uma brecha complicada porque não há uma correlação entre a presença da bactéria em níveis aceitáveis ou não, e a presença do vírus. Só quando surge o problema de uma epidemia, de casos aumentando, que aí então é necessário olhar qual é o vírus, é uma demora muito grande”, conclui.