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O dia 4 de março é reservado no calendário mundial para falar sobre a obesidade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu a data com o objetivo de disseminar conhecimentos sobre a doença e de combater o estigma social a respeito do assunto.

O Brasil e o mundo vivem uma alta nos casos de obesidade. Um relatório divulgado pela revista The Lancet, no final de fevereiro, mostra que a doença mais do que dobrou entre adultos e quadruplicou entre crianças e adolescentes de 5 a 19 anos, no período entre 1990 e 2022.

Em parceria com a OMS, a análise revela que 879 milhões de adultos viviam com obesidade em 2022. Em 1990, o número de adultos obesos era de 195 milhões.

Se o cenário mundial é visto com preocupação, aqui no Brasil não é diferente. De acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2024, que reúne dados de 186 nacionalidades, publicado no início deste mês pela Federação Mundial de Obesidade (World Obesity Federation, na sigla em inglês WOF), o Brasil tinha 34% (15,58 milhões) do público de 5 a 19 anos convivendo com excesso de peso em 2020.

A endocrinologista Lívia Lugarinho, diretora do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e membro do Departamento de Obesidade Infantil da Abeso, vê os números com atenção. Ela afirma que se nada for feito, mais casos da doença podem ser registrados nos próximos anos.

Segundo Lívia, o aumento exponencial registrado entre 1990 e 2022 pode ter diversos fatores. A especialista explica que o sedentarismo e a pandemia, com as pessoas usando telas por mais tempo, são fatores importantes e que devem serem levados em consideração.

“A pandemia prejudicou muito, os valores são também reflexos de um contexto de pandemia. As pessoas ficaram confinadas, sem atividade física, mais ansiosas, e isso reflete numa alimentação pior. E muitos desses hábitos persistiram. A obesidade nos adultos é complexa, porque também envolve questões socioeconômicas”, aponta.

Além das razões já citadas, a endocrinologista cita outro fator de atenção, que é o crescimento do consumo de alimentos ultraprocessados. A cultura das comidas mais ‘rápidas’, mais gordurosas e açucaradas impactam diretamente nos casos de obesidade infantil.

Os dados da OMS mostraram que 159 milhões de crianças e adolescentes viviam com obesidade em 2022, enquanto em 1990 o número era de 31 milhões.

“Um dos maiores vilões do crescimento da obesidade infantil são as bebidas açucaradas, como sucos prontos. Existe uma campanha de uma taxação maior desses produtos, eles são baratos e garantem uma oferta calórica muito grande para essa população que já está mais sedentária”, avalia Lívia Lugarinho

Para a especialista, as razões para o aumento da obesidade já são evidentes, no entanto, é difícil contornar os números em uma sociedade com um comportamento sedentário. Além disso, ela ressalta que a estigmatização das pessoas dificulta o avanço do debate.

“As pessoas quando chegam com uma obesidade, elas ouvem muitas vezes ‘fecha a boca e faz exercício’. Como se fosse isso, como se fosse uma coisa muito simples. Ninguém falaria isso para uma pessoa com câncer ou com outra doença, mas com obesidade existe esse estigma. Não é fácil, porque se fosse uma solução tão simplista, a gente não estaria vivendo essa epidemia”, diz.

Tratamento

Hoje, o Brasil conta com poucos tratamentos para a obesidade, o mais comum é a cirurgia bariátrica, que não é indicada para todos os casos. O país ainda tem cinco medicamentos aprovados que os pacientes podem usar, mas nenhum deles está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

Nesse cenário, a endocrinologista afirma que o país carece de políticas públicas para o tratamento de obesidade. Hoje, segundo ela, a maioria das ações está voltada para a prevenção, que não é suficiente para frear o número de casos e enfrentar a epidemia.

“A gente carece de políticas públicas, de taxações mais altas de determinados alimentos e de necessidade de incorporação de tratamento medicamentoso. A incorporação de tratamento medicamentoso para esse grupo é importantíssima, eu acho que isso vai ser o divisor de águas em termos de políticas públicas. Apenas a questão é de orientações dietéticas e a parte física, na grande maioria das vezes, não é suficiente para sustentar a perda de peso da pessoa”, explica.

Uma referência no tratamento da obesidade, de acordo com Lívia Lugarinho, é o Reino Unido. O local distribui os medicamentos no sistema público de saúde, incluindo aqueles que não podem pagar pelo tratamento.

Crescimento até 2035

Caso o Brasil não evolua no combate à obesidade, o Atlas sugere que haverá um aumento anual de 1,9% nos números de adultos brasileiros com obesidade e sobrepeso entre 2020 e 2035. Além disso, o valor pode saltar para 50% (cerca de 20 milhões) de jovens no mesmo período. 

Em nível mundial, o documento diz que, se as tendências atuais continuarem até 2035, 770 milhões de crianças e adolescentes devem viver com sobrepeso e obesidade — um aumento de 22% (em 2020) para mais de 39% até 2035.

“Eu realmente acredito que com a incorporação de tratamento, somado a mudança de estilo de vida, a gente consiga diminuir um pouco esses números. E quando a gente diminui os números da obesidade, também diminui os números de mais de 200 doenças, como câncer de mama, intestino e endométrio. A gente tem uma redução de outras doenças que também gera um custo alto. Então, é necessário que haja um enfrentamento que não envolva somente a prevenção”, avalia a especialista.

O Atlas projeta que quase 3,3 bilhões de adultos serão afetados pela obesidade em 2035, contra 2,2 bilhões em 2020 — um aumento de 42% para mais de 54%.

"A estimativa de crescimento anual de pessoas com IMC mais alto vai ser de 1,9% ao ano. Isso implica em falar que, de menos de 100 milhões de pessoas com excesso de peso ou obesidade em 2020, teremos em 15 anos quase 140 milhões de brasileiros com problemas de saúde relacionados ao excesso de peso", diz o relatório.