A censura é uma das coisas que não têm lugar na democracia. A Associação Internacional de Cartunistas se manifestou em apoio ao brasileiro Renato Aroeira, após o cartunista entrar na mira do governo por publicar uma charge satirizando o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido).
A imagem foi compartilhada pelo jornalista Ricardo Noblat em seu perfil do Twitter e rodou as redes sociais. O ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, pediu à Polícia Federal (PF) e à Procuradoria-Geral da República (PGR) a abertura de um inquérito, baseado na Lei de Segurança Nacional.
"Os crimes de calúnia e difamação na Lei de Segurança Nacional reclamam que haja a imputação de um fato ao presidente da República, o que não aconteceu neste caso. O que há é uma apropriação artística, que entende de aspiração nazista a política de saúde adotada ou não adotada pelo presidente quando conclama pessoas a invadirem hospitais", explicou Davi Tangerino, professor de Direito Penal da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Cartunista há quase 50 anos, Aroeira já fez charges de diversos presidentes da República, incluindo os da ditadura militar. "Eu fiquei muito assustado, porque eu já tinha sido processado por pessoas. É a primeira vez que eu viro inimigo do Estado. Então, isso tem um peso, isso tira o sono e isso dificulta a digestão", afirmou o chargista. Pela liberdade de expressão e em solidariedade a Aroeira, foi lançado um manifesto, que já colheu mais de 75 mil assinaturas.
Segundo Noblat, a ação do governo tem muito a revelar. "Quando o presidente da República, agora, ao se sentir ofendido, invoca a Lei de Segurança Nacional, depois de tantos anos de democracia, ele revela toda a sua vocação de ditador."
No traço, os chargistas conseguem traduzir com humor os acontecimentos do momento e provocam medo entre as autoridades. "Há um velho provérbio que diz que rindo você castiga muito mais. É o medo do ridículo", alegou Aroeira.
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