Como a China está acabando com protestos contra restrições da covid
Vários manifestantes em Pequim disseram que polícia ligou exigindo informações.
29/11/2022 08h03Os protestos da China contra as medidas anticovid que eclodiram no fim de semana parecem ter diminuído, à medida que as autoridades começam a reprimi-los.
Em várias cidades, foi registrada forte presença policial, e algumas manifestações foram reprimidas ou nem chegaram a ocorrer.
Surgiram relatos de pessoas sendo interrogadas e seus telefones revistados.
Mas os chineses no exterior continuaram protestando, em pelo menos uma dezena de cidades em todo o mundo.
As manifestações do fim de semana passado cresceram depois que um incêndio em um prédio alto em Urumqi, oeste da China, matou 10 pessoas na semana passada.
Acredita-se que os moradores não conseguiram escapar do incêndio devido às restrições da covid, mas as autoridades locais contestaram isso.
Como resultado, milhares foram às ruas por dias, exigindo o fim dos lockdowns — alguns até fazendo raros apelos para que o presidente chinês, Xi Jinping, renuncie.
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Mas na segunda-feira (28/11), os protestos planejados na capital Pequim não aconteceram depois que forças de segurança cercaram o ponto de encontro.
Em Xangai, grandes barreiras foram erguidas ao longo da principal rota de protesto e a polícia efetuou várias prisões.
Na manhã desta terça-feira, policiais eram vistos em ambas as cidades patrulhando áreas onde alguns grupos no aplicativo de mídia social Telegram propuseram novas manifestações.
Um pequeno protesto na cidade de Hangzhou, no sul, na noite de segunda-feira também foi interrompido rapidamente e prisões efetuadas, segundo imagens de mídia social verificadas pela BBC.
Mas em Hong Kong, dezenas de manifestantes reuniram-se no centro da cidade e no campus da Universidade Chinesa de Hong Kong, numa demonstração de solidariedade com os manifestantes da China continental.
Muitos também se aglomeraram do lado de fora das embaixadas chinesas nas principais cidades do mundo, como Londres, Paris e Tóquio, e em universidades nos Estados Unidos e na Europa.
Um especialista sugeriu que os protestos locais provavelmente não cessariam tão cedo.
Mas Drew Thompson, pesquisador sênior visitante da Universidade Nacional de Cingapura, acrescentou que também era importante observar que a polícia chinesa tinha "uma capacidade tremenda... [e] a capacidade da China de controlar esses protestos no futuro... é bem alta".
Segundo a imprensa, a polícia estava parando as pessoas e revistando suas casas para verificar se elas tinham redes virtuais privadas (VPNs) configuradas, bem como aplicativos como Telegram e Twitter, que são proibidos na China.
Uma mulher disse à agência de notícias AFP que ela e cinco de seus amigos que participaram de um protesto em Pequim receberam telefonemas da polícia, exigindo informações sobre seu paradeiro.
Segundo ela, uma policial visitou a casa de uma amiga dela depois que a mulher não atendeu o telefone e perguntou se ela havia participado do protesto, enfatizando que se tratava de uma "reunião ilegal".
Não está claro como a polícia pode ter descoberto as identidades dos presentes.
A polícia também deteve jornalistas que cobriam os protestos nos últimos dias. A agência de notícias Reuters disse que um de seus jornalistas foi brevemente detido no domingo antes de ser libertado.
O jornalista da BBC Ed Lawrence também foi detido por várias horas enquanto cobria um protesto em Xangai na mesma noite. O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, descreveu a prisão como "chocante e inaceitável", acrescentando que a Grã-Bretanha levantaria preocupações com a China sobre sua resposta aos protestos.
A censura aumentou nas plataformas de mídia social chinesas desde os protestos do fim de semana.
Dezenas de milhões de postagens foram filtradas dos resultados da pesquisa. A mídia estatal está reduzindo sua cobertura sobre a covid em favor de histórias otimistas sobre a Copa do Mundo e as conquistas espaciais da China.
É uma cena muito diferente nas plataformas de mídia social ocidentais, que alguns chineses adotaram para compartilhar informações, incluindo conselhos para os manifestantes evitarem a prisão.
Uma conta no Instagram — uma plataforma bloqueada na China e acessível apenas por meio de uma VPN — publicou um "guia de segurança para amigos em Xangai e em todo o país" e incluiu dicas como usar roupas de cores escuras para anonimato e trazer óculos de proteção e água, caso gás lacrimogêneo seja disparado.
O governo chinês não se manifestou formalmente sobre os protestos.
Dilema para o governo de Xi
Análise de Tessa Wong, BBC News, Cingapura
O governo poderia ouvir os manifestantes e relaxar sua política de restrições contra covid?
Fazer isso agora — minimizando mortes e infecções — seria difícil, devido às baixas taxas de vacinação entre os idosos do país, à falta de vacinas domésticas altamente eficazes e à contínua recusa do governo em usar vacinas estrangeiras.
A China recentemente afrouxou um pouco as medidas, reduzindo períodos de quarentena e parando de registrar contatos secundários.
Mas o relaxamento das medidas provoca inevitavelmente um salto de infecções e mortes.
E isso é algo que as autoridades chinesas ainda parecem não querer aceitar.
A China continua sendo a única grande economia com uma política de covid zero, com as autoridades locais reprimindo até mesmo pequenos surtos com testes em massa, quarentenas e confinamentos rápidos.
Embora a China tenha desenvolvido suas próprias vacinas para a covid, elas não são tão boas quanto a tecnologia de mRNA — como as vacinas Pfizer e Moderna — usadas em outros lugares.
Duas doses da vacina Pfizer/BioNTech oferecem 90% de proteção contra doenças graves ou morte, contra 70% com a Sinovac da China.
As vacinas também não foram dadas a um número suficiente de pessoas. Poucos idosos — que têm maior probabilidade de morrer de covid — foram imunizados.
Também há pouca "imunidade natural" de pessoas que sobrevivem a infecções como consequência da interrupção do vírus.
Isso significa que novas variantes se espalham muito mais rapidamente do que o vírus que surgiu há três anos e há um risco constante de ser importado de países que estão deixando o vírus se espalhar.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63793782
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