Fundação Padre Anchieta

Custeada por dotações orçamentárias legalmente estabelecidas e recursos próprios obtidos junto à iniciativa privada, a Fundação Padre Anchieta mantém uma emissora de televisão de sinal aberto, a TV Cultura; uma emissora de TV a cabo por assinatura, a TV Rá-Tim-Bum; e duas emissoras de rádio: a Cultura AM e a Cultura FM.

CENTRO PAULISTA DE RÁDIO E TV EDUCATIVAS

Rua Cenno Sbrighi, 378 - Caixa Postal 66.028 CEP 05036-900
São Paulo/SP - Tel: (11) 2182.3000

Televisão

Rádio

O título desta coluna é um resumo desta frase:

"Quando a mídia chega na África Ocidental, ela nos mostra excessivamente como os africanos morrem, nunca como eles vivem. E, inversamente, o cinema de animação e a literatura focalizam contos e lendas, uma visão folclórica que não coincide com a vida de um africano moderno."

Quem me disse isso foi a escritora Marguerite Abouet, nascida na Costa do Marfim e radicada na França desde os 12 anos. Detalhe: ela me disse isso em 2009, e eu nunca esqueci. Afinal, ela tem razão.

Eu a entrevistei por ocasião do lançamento do primeiro volume de “Aya de Yopougon” no Brasil. Trata-se de uma série escrita por ela e ilustrado por seu marido, o francês Clément Oubrerie.

“Aya” mostra o cotidiano de marfinenses como a personagem-título, que deseja ser médica. São histórias que mostram dramas e conquistas do dia-a-dia – não só dela, obviamente. Há uma riqueza na composição dos personagens, sejam eles protagonistas ou coadjuvantes. Seria como assistir a uma novela, mas sem personagens maquiavélicas ou caricaturais.

O início de “Aya” foi promissor: o primeiro volume venceu na categoria “álbum de estreia” no Festival de Quadrinhos de Angoulême, o mais importante da Europa. Em 2009, quando chegou ao Brasil, a série já tinha quatro números publicados na França – uma boa expectativa para quem gosta de quadrinhos de qualidade.

Marguerite havia me dito que "é muito difícil para os africanos fazer quadrinhos. É uma pena, porque há muitos africanos talentosos que têm coisas a dizer e não têm oportunidade de se fazer conhecer ou de serem editados porque estão em países sem estrutura para isso". Ela é um desses africanos talentos, e o primeiro volume não me decepcionou, pelo contrário. Nem o segundo, lançado por aqui três anos depois. Apenas o terceiro, mas isso não é culpa dela: a série foi interrompida por aqui.

O leitor brasileiro teve acesso apenas aos dois primeiros volumes de “Aya” – na França, já são sete. Ou seja, não tive a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento de tantos personagens e situações interessantes – a razão de seu sucesso, como a própria Marguerite reconhece: “O fato de ‘Aya’ contar sem rodeios a vida diária em países africanos, sem a ladainha habitual midiática sobre as guerras, a fome ou a Aids é a razão de seu sucesso no Ocidente".

Após um hiato de exatos dez anos, Aya de Yopougon volta a sair no Brasil: a L&PM colocou à venda o terceiro volume (tradução de Julia da Rosa Simões). Uma boa oportunidade para quem gosta de boas histórias ou se interessa por outras culturas – a cidade de Abidjan está muito bem retratada por aqui.