Fundação Padre Anchieta

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Há alguns anos, fiquei sabendo de um movimento que é contra a presença de diversidade nos quadrinhos norte-americanos de super-heróis. Recentemente, descobri que eles ainda existem, e continuam fazendo barulho. Queria abordar esse problema, que para mim se resume a uma pergunta: por que diabos alguém seria contra diversidade nas histórias em quadrinhos?

Descobri que o movimento é mais amplo do que eu pensava e abrange não só HQs, mas também filmes, animações e games. Meu primeiro passo foi tentar entender a motivação deles. Confesso que fracassei. Qual é o problema em haver um Lanterna Verde gay? Uma Pequena Sereia negra? Um Batman islâmico? Uma Mulher-Maravilha brasileira? A resposta curta é: nenhum. A resposta longa, elaborada e cheia de argumentos é: nenhum.

Eu, sinceramente, não achei nenhum argumento digno de reprodução desse movimento (não estou citando o nome de propósito: não quero dar palanque para eles) e similares. Eles atuam e se expressam como racistas e homofóbicos. Como todos racistas e homofóbicos, devem ser combatidos.

Há, obviamente, racismo e homofobia no Brasil. Enquanto houver um racista e um homofóbico no Brasil, eles devem ser combatidos. E denunciados. Li na Cabana do Leitor que um dos maiores roteiristas em atividade no mundo, o britânico Neil Gaiman, também se incomoda com isso. Aliás, incomoda-se com o comportamento homofóbico e racista de... brasileiros.

Gaiman é o criador da fabulosa HQ “Sandman”, lançada pela DC Comics de 1989 a 1996. É um dos responsáveis pela adaptação de “Sandman” para a Netflix – que, espero, vá ao ar no ano que vem. Gaiman tem recebido críticas sobre a presença de trans, negros e gays na série. Segundo a Cabana do Leitor, Gaiman disse o seguinte em uma live que há reclamações sobre a presença de minorias na adaptação – e que isso é coisa de quem não leu a obra original.

Ele tem razão. Óbvio. Quem desfrutou de “Sandman” se deparou com incríveis personagens trans (a doce Wanda, por exemplo), negros (a forte Ruby) e gays (o charmoso casal Foxglove e Hazel). Qual o problema em eles estarem na série de TV? Qual o problema de outros trans, negros e gays estarem em uma série de TV? A resposta curta é: nenhum. A resposta longa, elaborada e cheia de argumentos é: nenhum.

Há dezenas de Lanternas Verdes no multiverso da DC Comics. Um deles é brasileiro (José Hernandez), uma é negra (Jo Mullein), um é islâmico (Simon Baz), duas são latinas (Jessica Cruz e Keli Quintela), um é gay (Alan Scott).

“Mulher-Maravilha” não é uma personagem única – está mais para um título concedido a pessoas especiais. A partir de janeiro, e infelizmente por poucos meses, a DC Comics terá três Mulheres-Maravilhas em suas revistas: uma branca, uma negra e a brasileira Yara Flor. Aliás, Yara nem mesmo estreou e já se anunciou que terá sua própria série televisiva: “Wonder Girl” (que provavelmente será traduzida no Brasil como “Moça-Maravilha”).

Há alguns anos, o ótimo roteirista Grant Morrison criou a Corporação Batman: uma série de aliados do Homem-Morcego espalhados pelo mundo – Japão, Rússia, Congo etc. O representante francês era o Acrobata Noturno. Em sua identidade secreta, ele é Bilal Asselah, um homem negro, islâmico e de origem argelina. Sua criação gerou uma revolta no mundo real. Não sei o tamanho do movimento, mas racistas franceses protestaram contra a DC Comics ter colocado um “Batman” negro, islâmico e com origem argelina.

Eu me entristeço em ver artistas que aderem a um movimento como esse, contra a diversidade. Eu me entristeço em ver leitores que protestam contra a diversidade.

Eu me entristeço em ver seres humanos que protestam contra outros seres humanos por motivos como cor de pele e orientação sexual.

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. Nascido e criado em São Paulo, é filho de um físico luso-angolano e de uma jornalista paulistana.

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