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A DC Comics preparou para este mês uma enorme programação para celebrar os 80 anos da Mulher-Maravilha. Faz todo o sentido: ela faz parte da trindade sobre a qual a editora se firmou, ao lado de Batman e Superman. Para mim, trata-se da maior super-heroína dos quadrinhos.

Aproveitei a efeméride para escrever sobre a personagem, uma das minhas preferidas. Na coluna passada, conversei com Dani Marino, pesquisadora de HQs e especialista em questões de gênero. No site Hábito de Quadrinhos, primo-irmão desta coluna, apontei curiosidades da personagem (você sabia que Mulher-Maravilha e Diana Prince não são a mesma pessoa?) e elenquei versões diferentes da heroína, como uma alienígena verde (!), uma feita de platina (!!) e até uma coelha (?!?!).

Esta pequena introdução é para dizer que separei as oito melhores histórias da Princesa Diana de Themyscira na minha opinião. Trabalho difícil, dado que são centenas de histórias nestas oito décadas – com altos e baixos, é verdade. Mas do mesmo jeito que eu escolhi oito, um outro fã (você, inclusive!) poderia ter escolhido oito histórias completamente diferentes. Afinal, listas são subjetivas.

1941 - “Introducing Wonder Woman” (“Apresentando a Mulher-Maravilha”, em tradução livre), de William Moulton Marston e Harry G. Peter

Toda a mitologia fantástica inventada pelo psiquiatra Marston tomou forma no traço de Harry Peter já nesta curta história – são apenas nove páginas publicadas sem muito destaque, após uma aventura de 61 páginas da Sociedade da Justiça.

Os múltiplos conceitos apresentados aqui serão retomados em histórias posteriores, mas já estava tudo aqui: a raça de mulheres guerreiras (as amazonas); a ilha habitada apenas por essas mulheres; a chegada de um piloto que sobreviveu a um acidente e mudou o status quo das amazonas; a fundamental presença da mitologia grega na origem da Mulher-Maravilha; o conceito de um torneio disputado pelas amazonas para eleger sua mais hábil guerreira; os nazistas como antagonistas.

1942 - “Wonder Woman and the Cheetah” (“Mulher-Maravilha e a Mulher-Leopardo”), de William Moulton Marston e Harry G. Peter

Super-herói que se preze tem de ter uma boa galeria de supervilões. E uma das primeiras que a heroína amazona mais famosa do mundo enfrentou foi a Mulher-Leopardo (Cheetah, no original).

Esta é a versão original da personagem, uma criminosa chamada Priscilla Rich. Há outras versões, inclusive a que esteve no mais recente filme da heroína (a Mulher-Leopardo chamada Barbara Ann Minerva) e até um Chetaah homem (o argentino Sebastian Ballesteros).

1961 – “The Impossible Day” (“O Dia Impossível”), de Robert Kanigher e Ross Andru

Se nos anos 1940 houve a criação de a consolidação da mitologia da Mulher-Maravilha, os anos 50 e 60 foram de extrapolar esse universo. Em 1959, foi publicada a primeira história da Moça-Maravilha: uma aventura com a Princesa Diana ainda adolescente. No início de 1961, a Criança-Maravilha: a Princesa Diana com aproximadamente 5 anos.

No segundo semestre, a inocência e a criatividade típicos da Era de Prata dos super-heróis (como esse período ficou conhecido) chegou ao seu ápice no universo da Mulher-Maravilha com o surgimento da Família Maravilha: a Rainha Maravilha (Rainha Hipólita, mãe da Diana), a Mulher-Maravilha (Princesa Diana), a Moça-Maravilha (a mesma Diana, mas recriada de maneira “científica” e “mágica” ao mesmo tempo) e a Criança-Maravilha (sim, uma terceira Diana...). Todas ao mesmo tempo!

1975-79 – Seriado da Mulher-Maravilha

No final dos anos 60 e início da década de 70, a guerreira amazona passou por maus momentos nos quadrinhos. A DC chacoalhou tudo, e a Princesa Diana perdeu seus poderes e seu uniforme, passando a agir vestida de branco em histórias que queriam emular os filmes e seriados de espionagem e artes marciais que faziam sucesso. Não deu certo.

O que salvou a Mulher-Maravilha nos anos 70 foi o seriado protagonizado pela carismática Lynda Carter, ex-Miss Estados Unidos. Uniforme, superpoderes, aventuras, nazistas. Um retorno ao básico em grande estilo.

O longa que serviu de piloto foi ao ar em 1975. A ele se seguiram três temporadas, com o último episódio lançado em 1979.

1987 –Deuses e Mortais, de Greg Potter e George Pérez

Em meados dos anos 80, a DC se tocou que sua cronologia estava uma zona e que era difícil acompanhar suas histórias. Em uma mudança radical, resolveu zerar todas as suas revistas! Encerrou os títulos e começou a contar tudo de novo – dessa vez, sem pressa, em um universo teoricamente conectado.

A renovação da Mulher-Maravilha foi um dos melhores exemplos de como, com planejamento e artistas talentosos, é possível manter uma revista mensal de qualidade por muitos anos. As primeiras histórias, escritas por Greg Potter e George Pérez e ilustradas pelo próprio Pérez, resgataram o conceito original da dupla Marston & Peter e os atualizaram para os anos 80: a raça de mulheres guerreiras (as amazonas); a ilha habitada apenas por essas mulheres; a chegada de um piloto que sobreviveu a um acidente e mudou o status quo das amazonas; a fundamental presença da mitologia grega na origem da Mulher-Maravilha; o conceito de um torneio disputado pelas amazonas para eleger sua mais hábil guerreira.

Ficou incrível.

1996 – O Reino do Amanhã, de Mark Waid e Alex Ross

Em um pôster que anunciava a minissérie “O Reino do Amanhã”, uma visão profética e simbólica apontava o confronto entre um morcego e uma águia. A cena se repete no início da história. Fãs entenderam que haveria um conflito (não necessariamente físico) entre Batman e Superman. Não era isso: era entre Batman e a Mulher-Maravilha.

A princesa amazona é uma das protagonistas desta estupenda série. Em um futuro próximo, a geração seguinte de super-heróis tem dificuldade para entender seus limites. Até onde a violência resolve? Quais são suas responsabilidades? Uma história com uniformes, poderes e identidades secretas, mas também com Batman, Superman e Mulher-Maravilha mostrando seus devidos lugares na mitologia da DC Comics.

2001 – “A Bruxa e a Guerreira”, de Phil Jimenez e Brandon Badeaux

A princesa amazona sofreu com a saída de George Pérez do título, em setembro de 1992, após cinco anos e meio de seus roteiros. Exceto a fase comandada pelo incrível John Byrne, as histórias seguintes não foram lá memoráveis.

Isso mudou quando o talentoso roteirista e ilustrador Phil Jimenez (é dele a imagem que abre esta coluna) assumiu o título. Reverente a todos os que vieram antes dele (principalmente a George Pérez), Jimenez criou uma fase cheia de aventuras incríveis.

Em “A Bruxa e a Guerreira” (saga publicada no Brasil nos números 6 a 8 de “Superman”, da Panini, em 2003), a feiticeira Circe, uma das mais formidáveis inimigas da Princesa Diana, transforma milhares de homens em animais – inclusive quase todos os super-heróis homens da DC, Superman e Batman inclusive. Entram em ação dezenas de super-heroínas da editora – das mais famosas como a Supergirl a desconhecidas como Crisálida, passando pela brasileira Fogo – salvar o mundo. Capitaneadas pela Mulher-Maravilha, é claro.

Uma declaração de amor à mitologia da DC Comics em geral, e às suas super-heroínas em particular.

2017 - “Mulher-Maravilha”, de Patty Jenkins

O primeiro longa de Patty Jenkins é, para mim, mais interessante do que qualquer HQ da personagem na década passada. Trata-se de um roteiro divertido e bem filmado, com cenas visualmente bem bonitas de aventura e humor. A sequência não teve a mesma qualidade, mas isso não tira o mérito de um filme que soube reverenciar o tamanho da personagem que o estrelava.

Pedro Cirne é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romanceVenha me ver enquanto estou vivae da graphic novel Púrpura, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.