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O talentoso diretor, roteirista e ator Taika Waititi vai levar ao cinema um clássico das BDs (quadrinhos europeus): 'Incal'. Mas você conhece esta série? Vale a pena: Alejandro Jodorowsky e Moebius são excelentes autores e formam uma dupla grandiosa.

Waititi é um diretor que capricha no visual (como você pode ver no seu 'Thor: Ragnarok'), além de ótimo narrador (ganhou Oscar de melhor roteiro adaptado por 'Jojo Rabbit', dirigido por ele mesmo). E isso torna sua versão de 'Incal' bem promissora – já vou comentar por que.

'Incal' foi lançada originalmente em capítulos entre 1980 e 85, sempre com roteiros do franco-chileno Alejandro Jodorowsky e arte do ilustre francês Moebius. A série foi reunida em seis volumes, publicados entre 1981 e 88 – a edição brasileira mais recente reúne a história inteira em um único tomo de mais de 300 páginas.

Um resumo simplificado do enredo: em um futuro bem distante, John Difool é um detetive mediano, sem nada demais, mas que acaba envolvido em uma trama cósmica. Tudo na história é de grandes proporções: não há um conflito entre nações, mas entre civilizações planetárias. Não há apenas religiões, mas seitas tecnocratas ancoradas em tecnologia mais poderosas que sistemas solares inteiros. Até um coadjuvante que entra em ação, um assassino, é muito mais do que isso: é quase um deus invencível dos homicídios.


É tudo gigantesco, imenso, superlativo. Menos, claro, o pobre Difool.



A primeira coisa que chama a atenção em 'Incal' é a arte. Moebius é conhecido como um dos grandes nomes dos quadrinhos mundiais, e não “apenas” da Europa. Suas ilustrações são enormes, detalhadas, riquíssimas, coloridas, chamativas. Um parceiro perfeito para o universo idealizado por Jodorowsky, onde cada personagem, cada civilização que aparece dá indícios para ter um enorme contexto por trás (como o assassino citado acima, que ganhou uma série inspirada em sua família, com mais de dez livros).


O conceito em 'Incal' é sempre gigantesco, colorido e detalhado. Todos, coadjuvantes ou não, têm histórias para contar, mesmo que você apenas veja um indício delas, e não as histórias inteiras. Ponto para a escolha de Waititi como diretor da adaptação: é alguém que preza por isso em seus filmes – repare nos coadjuvantes de “Thor” (a grandiosidade de Surtur, a honradez nos poucos minutos do Skurge) ou de 'Jojo Rabbit' (a sutileza dos personagens de Sam Rockwell e Alfie Allen).

Voltando à HQ: a arte de 'Incal' chama a atenção... E aí você começa a ler. Jodorowsky se apresenta como um pouco de tudo: escritor, roteirista, diretor, mímico, titereiro, guru espiritual... Poderíamos reduzir em “contador de histórias” independentemente da mídia, mas ele odiaria esta simplificação.


Como já vimos nos parágrafos acima, Jodorowsky gosta de grandiosidade. Eterno crítico das igrejas (como é possível ver em seu filme 'A Montanha Sagrada', lançado em 1973, sete anos de 'Incal'), ele volta a atacá-la... Mas uma crítica “só” ao fanatismo seria pouco para ele. Que tal misturar seitas fanáticas ao excesso de tecnologia? Surge assim o personagem do Tecnopapa – poderia entrar na descrição, mas o nome já dá a dica.


A riqueza dos planetas, seus enormes mistérios, os personagens de fama universais (“planetárias”, claro, seria pouco...), tudo se junta nesta trama enorme... E o pobre (e cômico) Difool ali no meio. O talento de Waititi como narrador vai ser essencial aqui, para que o filme não vire um amontado de dezenas de personagens visualmente impecáveis, mas desperdiçados com pouco tempo de tela. Dificilmente o diretor conseguirá condensar tantas tramas em um longa só – deve deixar algumas de lado ou, como tem acontecido bastante, pensar já em uma série de filmes.

Um ps sobre 'Incal' nos quadrinhos. A série acabou criando um “Jodoverso”: o roteirista criou várias outras séries ambientadas neste fantástico universo tecnomágico criado por Moebius e ele: 'Antes do Incal' (seis volumes), 'Depois do Incal' + 'Incal Final' (cinco livros) e 'A Casta dos Metabarões' (dez edições). Mérito para Jodorowsky e Moebius por criarem uma mitologia tão incrível.