Fundação Padre Anchieta

Custeada por dotações orçamentárias legalmente estabelecidas e recursos próprios obtidos junto à iniciativa privada, a Fundação Padre Anchieta mantém uma emissora de televisão de sinal aberto, a TV Cultura; uma emissora de TV a cabo por assinatura, a TV Rá-Tim-Bum; e duas emissoras de rádio: a Cultura AM e a Cultura FM.

CENTRO PAULISTA DE RÁDIO E TV EDUCATIVAS

Rua Cenno Sbrighi, 378 - Caixa Postal 66.028 CEP 05036-900
São Paulo/SP - Tel: (11) 2182.3000

Televisão

Rádio

Reprodução
Reprodução

Assisti recentemente ao trailer da cinebiografia de Elvis Presley dirigida por Baz Luhrmann – o filme estreou na semana passada nos EUA e chega aos nossos cinemas na próxima. Logo no início, o “Rei” aparece lendo um gibi do Capitão Marvel Jr. Logo depois, surge usando uma fantasia do personagem. E no meio, há uma cena em que seu empresário diz que Elvis, ao ouvir aquelas palavras, se transformou em um super-herói no palco.

É muita referência de uma vez só para um fã de quadrinhos deixar passar. Aparentemente, o “Rei” era fã do personagem. Mas será que era mesmo?

Esta resposta é fácil: sim, era. O astro colecionou a revista do Capitão Marvel Jr., e este pequeno acervo está até hoje guardado em Graceland, a casa em que Elvis morou e pertenceu a sua irmã. Uma das suas edições favoritas, “Captain Marvel Jr.” nº 51, está separada, dentro da escrivaninha onde era seu quarto. Há alguns boatos que relacionam a carreira de Elvis a seu personagem favorito, mas vou deixar para depois, pois não sei se são verdade. Antes disso, uma pergunta: quem é o Capitão Marvel Jr.? Por acaso seria filho do Capitão Marvel?

Capitão Marvel Jr. não é filho do Capitão Marvel, apesar do nome, da semelhança no uniforme e de ambos estarem relacionados. Ele até é parente de um super-herói, mas de outro, bem menos famoso.

O Capitão Marvel – não o Júnior, o original – foi lançado pela editora Fawcett em 1940. Trata-se de um super-herói voltado para o público infantil. Seu alter ego é um menino de dez anos chamado Billy, que pronuncia uma palavra mágica (Shazam!) e vira um super-herói tão poderoso quanto o Superman.

O sucesso do Capitão Marvel deu origem a uma linhagem de super-heróis - primeiramente veio o Capitão Marvel Jr., criado em 1941, e depois a irmã gêmea do Marvel original, Mary Marvel, de 1942.

Frederick "Freddy" Freeman é uma criança com uma deficiência nas pernas que anda de muletas. Ao dizer uma palavra mágica específica (“Capitão Marvel”), ele se torna o Capitão Marvel Jr., que tem um uniforme idêntico ao de seu parceiro Capitão Marvel, mas azul em vez de vermelho.

(Freddy tem um irmão chamado Christopher Freeman que também é super-herói: o bem menos famoso Kid Eternidade.)

Lançadas nos anos 40, as histórias de Marvel Jr., assim como a do Capitão Marvel original, eram extremamente inocentes e leves. Não importava o problema: basicamente, bastava que dissesse a palavra mágica para deixar o corpo humano e infantil para trás. Transformado em alguém superpoderoso (além de fantasiado e colorido), nenhum desafio é grande demais para essa sua persona de super-herói.

A edição que Elvis guardava com mais carinho traz três histórias. Na primeira, Capitão Marvel Jr. ajuda cientistas que descobrem uma ilha desconhecida e são atacados – primeiro, por um polvo, depois por criaturas que parecem peixes humanizados. O herói nem precisa pensar muito e os derrota na base da força. A segunda envolve um início de revolta entre animais de um zoológico – além da força, Marvel Jr. usa um outro poder: como é superinteligente, codifica, em minutos, a língua dos bichos e consegue conversar com eles. A terceira envolve contato com um pequeno povoado secreto de gnomos mágicos. A última tem um pequeno toque de mistério: um homem sente um medo absurdo da meia-noite, e o herói envolve um psiquiatra para o ajudar. No geral, histórias curtas, extremamente inocentes e com desfechos simples.

Matérias a respeito de Elvis – e talvez isso seja apontado em sua biografia – apontam que o cantor se inspirou no personagem ao desenvolver seu estilo para se apresentar, com capas e topete. Não sei se é verdade – precisaria ler uma boa biografia sobre o Rei do Rock. O logotipo do TCB, a banda que Elvis comandou a partir de 1969, envolve um raio – símbolo que Marvel Jr. ostenta em seu peito. O nome de TCB, aliás, vem de “taking care of business”, frase que também seria associada ao jovem herói.

O carinho de Elvis por Marvel Jr. não passou despercebido pelos quadrinistas da DC Comics, que há algumas décadas detém os direitos do personagem. Na ótima minissérie “Reino do Amanhã”, que imagina os personagens da DC no futuro, o adolescente Marvel Jr. cresceu, virou adulto e trocou de uniforme e codinome. Sua vestimenta agora é uma clara homenagem ao Elvis dos anos 70, e seu nome virou... Rei Marvel, em deferência ao Rei do Rock.

A vida de um super-herói de quadrinhos, seja ele da Marvel ou da DC, é atribulada e envolve invariavelmente uma cronologia confusa – hoje, Freddy é irmão adotivo do Shazam (novo nome do Capitão Marvel). E, em alguns casos, envolve até troca de codinomes. Freddy Freeman, após décadas atendendo por Capitão Marvel Jr., virou CM3 (uma sigla? Que raio de nome heroice é este?), Shazam (quando o original se aposentou) e hoje é o Shazam Jr. Já Elvis nunca trocou de codinome: sempre foi e será sempre o Rei do Rock.

ps - Sei que esta é uma coluna sobre histórias em quadrinhos e o que vou dizer a seguir não tem nada a ver com HQs, mas gostaria de fazer aqui um convite.

No próximo sábado, vou lançar na Bienal do Livro o meu mais recente livro: "Apocalipse.com.br", uma antologia de contos. Abaixo, deixo o serviço (ou, se preferir comprar online, é só clicar aqui).

QUANDO & ONDE

Bienal Internacional do Livro de São Paulo

Sábado (2 de Julho), das 11h00 às 11h50

Onde: Expo Center Norte - estande da editora Chiado Books

Expo Center Norte: Rua José Bernardo Pinto, 333 - Vila Guilherme (próximo aos shoppings Center Norte e Lar Center)


Pedro Cirne
é formado em jornalismo, desenhos e histórias em quadrinhos. É autor do romanceVenha me ver enquanto estou vivae da graphic novel Púrpura, ilustrada por 17 artistas dos 8 países que falam português.