Fundação Padre Anchieta

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Arquivo pessoal
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Por que a expressão “dono de casa” ainda causa tanta estranheza?

Quando uma mulher não trabalha fora, costumam dizer que ela é dona de casa. Mas quando um homem não trabalha fora, e cuida da casa e dos filhos, dificilmente ele é chamado de dono de casa. Normalmente ele é chamado de desempregado.

O fato é que a sociedade ainda estranha quando a mãe é quem sai para trabalhar e o pai fica em casa cuidando dos filhos, sem ter uma profissão ou um serviço remunerado.

No Papo de Mãe, nós já abordamos algumas vezes este tema.

Para falar sobre o assunto, recebemos no nosso estúdio o Claudio Henrique dos Santos, autor do livro “Macho do Século XXI”. Claudio atualmente é escritor e palestrante, mas já foi “apenas” um dono de casa.

Conheci Claudio quando ele lançou o livro, em 2013. Nos tornamos amigos e parceiros de trabalho. Sempre que possível, ele colabora com o nosso Papo de Mãe, trazendo também a visão do pai. Ele costuma dizer que já foi machista, mas nem percebia. Vejam que interessante este relato que Claudio me enviou aqui para esta coluna:

“Cuidar da casa (e dos filhos) não tem gênero. Não deveria ter, mas tem muita gente que ainda pensa assim...
Numa “vida passada” eu também achava que cuidar da casa era uma tarefa quase que exclusivamente feminina. Quando muito, eu dava uma “ajudinha” com a louça no final de semana. Até os 38 anos de idade eu nunca havia fritado um ovo. Aí virei dono de casa, fui cuidar da minha filha, e descobri que todos os conceitos que eu tinha sobre o que era “papel do homem” não serviam mais para mim. Nem para nenhum homem bacana no século 21.
Precisei me livrar de todos os meus pré-conceitos e paradigmas – literalmente, fiz uma faxina mental – para perceber que o cuidado, não somente com a casa, mas também com todos que dividem o mesmo teto conosco, deveria ser também um atributo masculino. O grande barato do macho do século 21 é compartilhar as tarefas domésticas com suas companheiras, para que elas também possam brilhar.
Precisei virar dono de casa para enxergar a desigualdade de gênero, que estava na frente do meu nariz, mas que não conseguia ver por conta do machismo. Hoje, tenho o maior prazer de compartilhar minhas histórias e aprendizados por aí.”

Claudio Henrique dos Santos está nas redes sociais e tem um canal no Youtube. Lá ele trata de temas como equidade de gênero, machismo, paternidade e diversidade. O foco principal é o engajamento masculino para a questão da equidade. Ele também é um dos apoiadores da campanha “ElesporElas” (“HeforShe”) da ONU Mulheres.

Após uma carreira bem-sucedida de executivo na área de Comunicação, em 2011 saiu do emprego para apoiar a esposa, que havia recebido um convite para morar em Singapura. Ela foi a trabalho e ele assumiu as tarefas da casa e os cuidados com a filha, Luiza.

Todos os donos de casa já entrevistados pelo Papo de Mãe concordam que só assumindo este papel eles passaram a valorizar mais as mulheres e aprenderam também o quanto se envolver com as tarefas domésticas promove um vínculo bem maior com os filhos. E se eles voltam para o mercado de trabalho, passam a encarar a dupla jornada de outra maneira: continuam cuidando da casa e dos filhos, dividindo as obrigações com as mães para que as mulheres não fiquem tão sobrecarregadas.

O machismo existente na nossa sociedade não atinge apenas as mulheres. Os homens donos de casa, por exemplo, também sofrem com isso – viram piada nas rodinhas dos machistas de plantão. Isso ainda acontece em outras situações, como quando o homem tem um salário menor do que o da mulher.

Eu levantei aqui alguns dados curiosos de pesquisas realizadas na última década: segundo levantamento do Instituto Data Popular, para 44% dos homens entrevistados, o marido que larga o emprego para cuidar da casa deve ter vergonha. E 78% afirmam respeitar uma mulher que troca a carreira pela casa.

Ainda de acordo com o estudo do Data Popular, 50% dos homens brasileiros acham que o cuidado da casa é exclusivamente da mulher. Na opinião de boa parte deles, aquele homem que passa a cuidar exclusivamente do lar e dos filhos é um tipo "boa vida".

Há homens que também querem ser livres para fazer suas escolhas sem julgamentos ou culpa. Tem pai que abandona a carreira profissional pra ter mais tempo com os filhos, tem pai autônomo, que trabalha em casa e se vira como pode para dar conta dos compromissos com as crianças. E tem os que ficam desempregados enquanto a mulher está muito bem na profissão e assumem a rotina da casa.

Assim, cada família vai se organizando e se reorganizando como pode e como quer – vencendo preconceitos e quebrando tabus.

Para saber mais sobre Claudio Henrique dos Santos siga o Instagram dele.

Assista aqui ao Papo de Mãe sobre donos de casa, com a participação de Claudio Henrique dos Santos:

Mariana Kotscho é jornalista e trabalha em televisão há 28 anos. Foi repórter da Rede Globo por 12 anos. Com passagens também pelo SBT e Record TV. Desde 2009, é apresentadora do programa Papo de Mãe, da TV Cultura.

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