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Getty Images Metodologia das pesquisas é tão importante quanto seus resultados

Para determinar o prazo de validade de um alimento, fabricantes podem utilizar métodos de pesquisa em que o produto passa por testes em tempo real, ficando exposto a condições específicas por um período de tempo, ou podem optar pelo método acelerado quimicamente, que encurta o tempo do estudo e, consequentemente, seu custo. Em geral, essas duas alternativas também podem ser aplicadas a pesquisas de medicamentos, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Para pesquisas de opinião também há vários métodos aceitáveis, sendo o mais tradicional aquele em que um entrevistador aborda pessoas nas ruas ou nos domicílios. Mesmo antes da pandemia do coronavírus, as pesquisas por telefone ou por internet já vinham crescendo em número, por conta do custo e da agilidade, como já identificou a Abep Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa), que reúne e regulamenta o trabalho dos principais institutos nacionais.

Em comum, estudos sobre alimentos, medicamentos e opinião têm a variedade de métodos para se chegar a um determinado entendimento. Não é razoável imaginar que o cidadão médio tenha condições de aferir a pertinência científica deste ou daquele modelo utilizado em uma pesquisa, por isso os resultados ganham destaque: prazo de validade nas embalagens, bulas com indicações e contraindicações, popularidade de um político e assim por diante.

No entanto, há algumas informações um pouco mais avançadas sobre esses estudos que podem ser facilmente assimiladas pelos consumidores. Um exemplo é a validade do produto após aberto, que costuma ser reduzido em relação ao prazo do produto fechado e vem descrito em letras menores nas embalagens. Mas o público pode encontrar a informação, pois a regulamentação prevê essa discriminação.

Algo semelhante acontece com pesquisas eleitorais, cuja legislação específica obriga a divulgação de alguns dados da metodologia juntamente com os resultados, tais como abrangência, data das entrevistas, margem de erro e registro no TSE (Tribunal Superior eleitoral). Como no caso do produto aberto, essas informações também são menos destacadas que as conclusões quando da divulgação dos estudos. Mas, diferentemente dos alimentos, o público não tem o hábito de procurar por elas, que aparecem em notas de rodapé.

Assim como a Anvisa é - ou deveria ser - o filtro de confiança dos brasileiros para validar as metodologias que estabelecem as indicações de um remédio ou alimento, a imprensa e a academia são - ou deveriam ser - os guardiães dos procedimentos metodológicos de pesquisas de opinião, eleitorais ou não. E num caso como no outro, poderia haver mais destaque para as principais informações sobre como se chegou àquele resultado.

Dados demográficos, por exemplo, raramente aparecem na divulgação de pesquisas e são de alto impacto nos resultados. Imagine hipoteticamente uma investigação por amostragem em uma determinada região sem levar em conta a formação populacional da localidade, a representatividade de gênero, idade, escolaridade. Certamente, o estudo teria grande discrepância em relação à realidade.

Da mesma forma, o ambiente em que se conduz a investigação - presencialmente, pelo telefone ou pela internet - pode alterar a consistência dos dados para determinados temas e é uma informação relevante na hora da interpretação dos resultados. Mais do que isso, ambiente inadequado ou com baixa representatividade da população a ser estudada pode até invalidar o trabalho.

Para os casos de pesquisas envolvendo testes em seres humanos, existe a regulamentação adicional da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), do Ministério da Saúde. A comissão foi a responsável pela suspensão recente de estudos sobre tratamento da Covid-19 realizados em ambiente hospitalar com grupo de pacientes pouco diverso em relação à população da cidade de São Paulo, por exemplo, entre outras imprecisões metodológicas.

Felizmente, essas variáveis são levadas em conta pelos institutos estatísticos sérios e regulamentados, mas raramente são explicitadas na divulgação dos resultados. É evidente que jornalistas e professores dedicarão mais tempo à análises das conclusões das pesquisas do que a seus métodos. Mas faz parte da função desses dois importantes mediadores sociais identificar pontos sensíveis na metodologia e comunicar ao público - ou simplesmente ignorar o estudo, se julgarem a metodologia equivocada, imprecisa ou sem detalhamentos suficientes.

Não se trata de burocratizar a divulgação nem de dificultar o entendimento do estudo por parte da maioria, mas de dar a possibilidade de se ir além na interpretação de resultados, como já se faz com informações dos alimentos ou remédios, sem subestimar a capacidade de compreensão das pessoas. Serviria como um incentivo para avaliações mais rigorosas do que se consome, seja notícia, aula ou pão de forma.

Ricardo Fotios é jornalista, professor universitário e pesquisador de temáticas relacionadas ao uso de tecnologias no ecossistema da comunicação. É autor de Reportagem Orientada pelo Clique (Appris, 2018) e pesquisador associado ao ESPM MediaLab.