Fundação Padre Anchieta

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A moça foi modelo na juventude e ambicionava ser famosa, viajar pelo mundo participando de desfiles de moda e produzir editoriais para revistas chiques. Não tinha nem 19 anos de idade, mas já sabia que o mercado era concorrido e planejou vencer pelo excesso de exposição. Todo convite que recebia para trabalhos que pudessem lhe dar alguma visibilidade ela aceitava, de feiras de móveis a concursos de beleza na internet.

Uma de suas aparições mais populares foi quando tirou meia dúzia de fotos para um site de esportes em trajes mínimos, simulando jogar futebol. Fez pose com luva de goleiro, sentada na bola no centro do campo e a tradicional foto enrolada na rede do gol. Essa última foi muito compartilhada, provavelmente, por trazer a moça sem a parte de cima do biquíni, embora não estive totalmente de frente.

Isso tudo ficou no passado, há uns 15 anos de distância. A ex-futura top model abandonou a carreira para se casar com um promissor político de pouco mais de 40 anos de idade.

O noivo também teve uma juventude agitada. Não foi modelo, mas era muito popular entre amigos e, especialmente, entre as amigas. Amante das baladas, o rapaz era figura certa nas chamadas raves, festas de música eletrônica sensação da galera na virada do milênio.

Muito namorador, até artista de novela tinha na sua lista de “ficantes” – termo utilizado para definir relações efêmeras. Sua casa vivia cheia e abrigava os melhores “esquentas” da cidade, do tipo boca-livre. O cara estava sempre alto, chapadão, mas sabia como receber bem os convidados.

Naquele tempo, havia mais sites de coberturas de festas do que estrelas no céu. Era uma explosão de liberdade nunca antes experimentada, tanto para quem gostava de brincar de colunista social quanto para quem objetivasse aparecer para o mundo. Como sempre foi bonitão e fotogênico, o agora noivo sempre emplacou poses suas nesses sites, muitas delas sem camisa e chupando um pirulito, algo trivial na cultura clubber de então.

O encontro entre os dois se deu há cerca de dois anos, em um evento beneficente da cidade. Ela era uma das recepcionistas e ele, um dos patrocinadores. A atração mútua foi instantânea e muito explícita, a ponto de o fotógrafo da festa fazer vários cliques dos dois conversando. Parte das imagens também foi parar na internet, no site institucional da ação de caridade.

A vida de ambos continua movimentada, mas por outros motivos. Além de toda a preparação para o casamento, tem a campanha do rapaz para uma vaga na câmara de vereadores. Mas um detalhe tem tirado o sossego da dupla: toda vez que alguém coloca o nome dos noivos na busca da internet, as imagens que aparecem primeiro são aquelas de maior popularidade, ou seja, a moça de topless e o rapaz de pirulito na boca.

Eles reconhecem aqueles momentos como verdadeiros, mas os consideram privados e antigos demais para protagonizarem a lista de resultados no Google, ignorando a maneira pela qual os algoritmos funcionam na rede.

Seus advogados bem que tentaram ajudar. Escreveram e-mails extraoficiais solicitando a remoção do conteúdo dos sites que mantêm as fotos – e algumas declarações – inconvenientes dos noivos. A justificativa seria a irrelevância e a idade dos fatos, que poderiam prejudicar a imagem familiar que buscam exibir.

A maioria dos veículos que se deram ao trabalho de responder argumentou que não iria atender ao pedido, pois se tratava de registro histórico e de cobertura jornalística de eventos. No caso das fotos no campo de futebol da garota, enviaram cópia da autorização de uso de imagem assinado por ela.

Em entrevista recente para um jornal local, o agora candidato foi questionado se tinha algum projeto em mente para beneficiar o setor de entretenimento noturno, dada a sua aparente familiaridade com assuntos de festas e clubes. Visivelmente alterado, o entrevistado não respondeu. Levantou-se, pegou a noiva pelo braço e saiu da sala vociferando termos críticos e chulos contra a mídia.

A cena do piti foi gravada por um celular e já está circulando nas redes sociais. O casal pretende escalar o caso na Justiça, pois confia na intervenção do poder público, apesar de sustentar que os eventos do passado eram privados. Já que o conteúdo resiste, a ideia é tentar tirar os links do Google.

Os personagens acima são ficcionais, mas a história é factível. Com um ajuste ou outro, dá para reconhecer casos reais nela, e que atire a primeira pedra quem não tem vexame no currículo. Moralismos e arrependimentos à parte, soa imprudente deixar a decisão do que é de interesse público ou não para uma autoridade estatal.

Ricardo Fotios é jornalista, professor universitário e pesquisador de temáticas relacionadas ao uso de tecnologias no ecossistema da comunicação e cibercultura. É autor de Reportagem Orientada pelo Clique (Appris, 2018) e pesquisador associado ao ESPM MediaLab.