Fundação Padre Anchieta

Custeada por dotações orçamentárias legalmente estabelecidas e recursos próprios obtidos junto à iniciativa privada, a Fundação Padre Anchieta mantém uma emissora de televisão de sinal aberto, a TV Cultura; uma emissora de TV a cabo por assinatura, a TV Rá-Tim-Bum; e duas emissoras de rádio: a Cultura AM e a Cultura FM.

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Getty Images Rede evidencia que sociedade é conjunto e não massa

Uma das boas consequências da migração do jornalismo para o ambiente de rede é o aumento da oferta de canais de informação. Restritas a “meia-dúzia” de empresas de mídia até os anos 1990, as notícias poderiam parecer fruto de uma produção corporativista e elitista. Na internet, a criação de conteúdo foi fragmentada em grupos tão diversos quanto numerosos e pôs em xeque o conceito de comunicação de massa.

Com a chegada da TV por assinatura ao país, nos anos 1980, esperava-se uma diversificação de opções informativas. Mas a oferta de canais exclusivo para notícias só aconteceu anos depois e, mesmo assim, controlados pelas mesmas empresas de mídia que já atuavam na TV aberta, por exemplo. Ou seja, o ambiente cresceu em volume de notícias, mas não em diversidade de produção.

Na prática, o que estava a conduzir o modelo do negócio era o aumento da audiência, que geraria anúncios mais rentáveis, dentro da lógica de entender os consumidores como um grande grupo uniforme, com expectativas semelhantes. Assim, foi-se criando um jornalismo nacional meio que padronizado, com critérios de seleção de notícias muito parecidos para atender às massas.

Na concepção dos alemães Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973), a mídia do século 20 não servia apenas para suprir a demanda por lazer e informação dos cidadãos, mas era parte importante e ativa do que os pensadores definiram como indústria cultural: adoção de padrões para formar estética e percepção comuns e voltadas ao consumismo.

Ao quebrar a lógica industrial da produção de conteúdo, permitindo que indivíduos e corporações de fora do meio jornalístico pudessem disputar a audiência dentro do mesmo ecossistema, a internet derrubou o modelo estabelecido, o que redundou em revisão da plástica comunicacional vigente.

Um exemplo disso é a produção em vídeo. Até bem pouco tempo, emissoras de TV não consideravam apresentar em seus telejornais imagens que não tivessem sido produzidas dentro um determinado modelo, com estruturas e enquadramentos pré-concebidos e ensinados em larga escala nas faculdades de jornalismo.

Mesmo os recém-criados sites noticiosos buscavam emular essa matriz no começo do novo milênio. Empresas de conteúdo online formaram equipes de vídeo com habilidades e competências muito próximas às da televisão, gerando um simulacro do que já existia em outra mídia. Foi assim também com a notícia em texto, que passou anos imitando jornais e revistas impressas.

Mas a notícia em vídeo produzida por corporações de mídia tradicionais sofreu um grande revés nas manifestações populares ocorridas no Brasil em 2013, principalmente. Aqueles protestos não tinham liderança nem agenda certa, o que dificultava a preparação de equipes para a cobertura que, em geral, eram compostas por três ou quatro profissionais: repórter, cinegrafista, produtor, motorista etc.

Quando a informação de que haveria uma manifestação chegava às redações, levava-se tempo até que essa estrutura fosse montada. E, mesmo depois de chegar ao local, o padrão era captar imagens e entrevistas, levar para a mesa de edição e, só depois, publicar. O trabalho todo poderia levar horas, sem falar no custo.

Enquanto isso, grupos autônomos estavam nas mesmas manifestações munidos de celulares, captando e transmitindo vídeos e fotos em tempo real na mesma internet que as videorreportagens “profissionais”. Todos os dias daquele mês de junho infligiam uma derrota ao jornalismo industrial. Não pelo conteúdo, mas pelo processo lento e dispendioso.

E de lá para cá essa condição só se agravou. Não são mais os telejornais noturnos nem as capas de revistas semanais que pautam as discussões públicas. São as conversas virtuais de nicho, em pequenos grupos de afinidade, que alimentam e movimentam a audiência. Mesmo as redes sociais - que são frequentadas por quase todo mundo que acessa a internet - não distribuem conteúdo igual para todos os seus usuários.

É fato que o jornalismo em rede está longe de ser democrático em um país de 210 milhões de habitantes, em que apenas pouco mais da metade conta com conexão em casa ou no celular. Também é verdade que a TV chega a muito mais lares do que a internet. Mas a tendência é que o conceito de massa desapareça, como uma estrela que ainda brilha, mas que já morreu.

Ricardo Fotios é jornalista, professor universitário e pesquisador de temáticas relacionadas ao uso de tecnologias no ecossistema da comunicação. É autor de Reportagem Orientada pelo Clique (Appris, 2018) e pesquisador associado ao ESPM MediaLab.