Fundação Padre Anchieta

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Então é Natal, e pedidos diversos se espalham pela rede. Envolto pelo espírito natalino, também tenho três desejos bem simples, mas não são para o Papai Noel, não. Minhas solicitações são direcionadas às tecnologias, do passado e do presente. E, na verdade, objetivam que três serviços falhem, nem que seja apenas por um tempinho, durante o período de festas de fim de ano.

“Fogos Caramuru, os únicos que não dão chabu”, diz o famoso slogan da centenária empresa paulista de fogos de artifício. Pois nestes feriados desejo o oposto: que falhem miseravelmente. Os Caramuru e os de todas as outras marcas. Além de hábito arcaico e incivilizado, essas bombas barulhentas atormentam animais de estimação, crianças, idosos, enfermos. Assim como balões juninos, os fogos deveriam cair em desgraça para sempre, mas já me darei por feliz se acontecer somente nesta semana de festas.

Felizmente, muitas cidades suspenderam a “tradicional” queima de fogos por causa da pandemia de coronavírus. Ótima iniciativa! Mas sempre tem gente disposta a gastar dinheiro com a prática inventada na China há mais de 2000 anos. Beleza, que comprem, organizem, montem o circo todo. Na hora de acender o pavio, desejo que venha chabu em vez de estrondos. Que nem um mísero barulhinho seja ouvido.

Meu segundo pedido de Natal também favorece os ouvidos e a paz, mas trata de uma tecnologia bem mais recente. Desejo que toda e qualquer caixa de som portátil pare de funcionar sozinha quando utilizada em local público e com volume alto. Individuais ou instaladas em automóveis, que simplesmente desliguem ao primeiro som inconveniente, daqueles que nos impedem de ouvir o barulho do mar, o canto dos pássaros ou de conversar com os amigos sem precisar gritar.

Se forem duas ou mais caixas dispostas em distância inferior a um quilômetro, que desliguem todas, independentemente do volume ou local em que estiverem. Nenhum brasileiro deve ser obrigado a participar involuntariamente de competição sonora boçal e de má qualidade. Em geral, o cidadão que se acha no direito de ligar som alto em local público não prima por bom gosto mesmo. Portanto, ninguém vai perder nada caso esse pequeno pedido seja atendido.

Finalmente, desejo que o WhatsApp bloqueie animações produzidas por e para o público do hemisfério Norte. Se alguém tentar compartilhar no Brasil vídeos com renas, neve, roupas pesadas e musiquinha natalina vulgar, o aplicativo pode simplesmente não entregar. E nem precisa avisar, só ignorar. Como o compartilhamento é feito por spam, para vários destinatários de uma só vez, o remetente não vai se ligar se ninguém vir a obra.

Pensando bem, talvez seja legal avisar, sim, que o vídeo não será enviado por falta de originalidade e inadequação ao contexto. E ainda poderá sugerir o envio de mensagem personalizada ao remetente, mesmo que seja em texto simples. Com certeza, algo criado especialmente para a pessoa querida agradará mais do que bonecos de neve passando pela tela debaixo de trinta e poucos graus centígrados.

Fosse professo, rogaria a Ogum ou a São Jorge, respectivamente considerados orixá e santo padroeiros das tecnologias, por esses três singelos pedidos. Em não sendo, peço em textão pela internet mesmo. Quem sabe meus desejos façam eco com outros similares e uma corrente eletromagnética de gentileza se forme na rede, ainda que temporariamente. Boas Festas!

Ricardo Fotios é jornalista, professor universitário e pesquisador de temáticas relacionadas ao uso de tecnologias no ecossistema da comunicação e da cibercultura. É autor de Reportagem Orientada pelo Clique (Appris, 2018).