Fundação Padre Anchieta

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O contato compulsório que estudantes tiveram com o ensino remoto durante a pandemia acabou por reduzir a resistência à modalidade a distância entre os jovens, o que fez a quantidade de alunos matriculados neste tipo de curso saltar de 5%, em 2020, para 19% na última sondagem. O registro é da pesquisa nacional “Juventudes e a Pandemia”, conduzida pelo Conselho Nacional de Juventude (Conjuve).

O acesso recorrente a plataformas digitais de educação também produziu uma mudança na percepção sobre conteúdos que estudantes consideram relevantes. A maioria dos participantes do estudo (55%) entende como mais importantes as disciplinas do currículo escolar. No ano passado, o jovem estava mais preocupado com estratégias para ajudar a organizar o tempo e os estudos (49%).

Mesmo com a melhor aceitação e crescente utilização do formato remoto, apenas 39% dos alunos afirmaram estar conseguindo realizar boa parte das atividades propostas pela escola ou faculdade. Nesta questão, 43% dos entrevistados concordaram mais ou menos com essa afirmação, e 15% declararam não estar conseguindo realizar as tarefas.

A nova realidade imposta para a educação também provocou mudanças importantes de comportamento e até do ambiente familiar: 37% disseram ter tido que mudar móveis da casa para favorecer os estudos, além de ter que ficar pedindo silêncio para poder acompanhar as aulas.

A pesquisa também mostrou que o déficit tecnológico da educação brasileira - seja por parte da oferta de recursos por parte das escolas ou pela inabilidade dos jovens – ainda é preocupante. Apenas 35% dos participantes do estudo acreditam que o uso das tecnologias digitais está melhor desde o início da pandemia, já 48% disseram concordar em partes com essa afirmação e outros 14% discordam totalmente.

Um dos entraves para o avanço do EAD no país é o acesso restrito a equipamentos e conexões adequados e isso fica claro também neste estudo. Quase que a totalidade dos estudantes (99%) utiliza celular para aulas e tarefas escolares, sendo que nem todas as plataformas são amigáveis para uso em smartphones, como editores de texto, planilhas etc. Mesmo entre os que têm computador em casa (72%), muitos precisam compartilhar a máquina com outras pessoas na casa (31%).

Essa limitação tem impacto direto no trabalho escolar em grupo, tanto os de alunos quanto os temáticos das redes de comunicação. Somente 27% dos estudantes disseram ter aprendido a se organizar melhor no WhatsApp e a lidar com todos os grupos de conversas. E na relação com os colegas, o resultado é ainda pior: apenas 19% afirmaram estar conseguindo trabalhar melhor em grupo.

A pesquisa do Conjuve envolveu 89 mil jovens em todos os estados brasileiros, entre 22 de março e 16 de abril de 2021. Os participantes responderam a um questionário online com 77 perguntas, divididas em cinco blocos temáticos: perfil sociodemográfico, saúde, educação, trabalho e renda, e vida pública. O resultado completo da sondagem está disponível no Atlas das Juventudes.

Ricardo Fotios - @rfotios - é jornalista, professor universitário e pesquisador de temáticas relacionadas ao uso de tecnologias no ecossistema da comunicação e da cibercultura. É autor de "Reportagem Orientada pelo Clique" (Appris, 2018).