Fundação Padre Anchieta

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Reprodução/Palmeiras
Reprodução/Palmeiras

Começa mais um dia de treino na Vila Belmiro. É uma terça-feira de sol intenso. O time santista nem deu as caras. Mas repórteres, cinegrafistas e fotógrafos já estão ali à beira do gramado, esperando o treino começar. Divididos em pequenos grupos falam um pouco de tudo. Mas a troca de impressões a respeito do time é o tema principal. Minutos depois os jogadores e a comissão saem do túnel, sem pressa. Alguns vão além dos cumprimentos, param brevemente. O momento é a primeira deixa para se engatilhar um pedido posterior de entrevista, sentir se a pauta, o tema pensado, vai dar pé. Enfim, ali à disposição da imprensa estão todas as faces de um time profissional. Um olhar atento, treinado também, vai ser capaz de extrair dele todos os detalhes, desvendá-lo. O semblante do artilheiro que vive uma incômoda seca de gols, a petulância do jovem meia recém-chegado do interior quando a bola rola, as preocupações e os pedidos que vão sendo externados pelo treinador. Está tudo aos olhos dos presentes. E não irá demorar muito todas as descobertas estarão estampadas nas páginas dos Cadernos de Esporte, estarão sendo contadas nos programas radiofônicos da hora do almoço ou do final da tarde. Nos programas esportivos da TV.

Existia, claro, um tema, um acontecimento que se impunha, mas ao mesmo tempo cada repórter que aportava ali trazia consigo uma ideia, uma possibilidade. Cinegrafistas e fotógrafos, por sua vez, tinham liberdade para escolher o ponto do qual acreditavam seria possível extrair daquele ambiente a melhor imagem. Fosse da beira do campo, da arquibancada, atrás do gol. Não estavam confinados em pequenos espaços como hoje. Via-se e mostrava-se tudo, ou quase. Do bom dia na chegada até a água jogada sobre a cabeça depois do treino para dar uma esfriada no corpo. Notava-se, obviamente, na esteira disso tudo o tipo de relação que jogadores e afins tinham entre si. E no fim, quando voltavam a se encaminhar para o ponto de onde tinham saído, os repórteres de microfone em punho iam se aproximando a esse ou aquele, barrando-lhes o caminho em nome do ofício. Pra quem cobria futebol existia uma graça em descobrir um personagem que, de algum modo, fosse só seu, alguém de quem se havia conseguido colher um fato, uma passagem interessante. Driblar de certo modo a celebridade, o homem-gol da hora, enriquecia a cobertura e ajudava a colocar os tais em seu devido lugar.

E não era uma bagunça, nada disso. A coisa tinha seus ritos, suas distâncias a serem respeitadas. Um modus operandi que vinha sendo lapidado desde que o futebol tinha caído nas graças da grande mídia. Nem tudo era possível, não se enganem. Mas cobrir futebol de maneira mais ampla e fiel, ah isso era. O que me motivou a escrever sobre o tema foram as lamúrias de Vanderlei Luxemburgo. E o que vai aqui não é coisa que se deu há meio século, não. É cena tirada dos anos noventa, quando Luxa reinava e tirava também bom aproveito dessa maneira de se fazer as coisas. Sempre foi astuto para lidar com a imprensa. Notadamente sempre se preocupou em entender como ela age. A pandemia certamente acentuou esse abismo. Mas bem antes disso os homens do futebol já tinham se encarregado de tornar a relação asséptica, quase estéril. E partir daí iremos buscar informações em que lugar? Nas mídias digitais? Onde homens e instituições sempre podem se mostrar mais como gostariam de ser, e não exatamente como são? Olha, é inocente que o ônus dos cercadinhos nos CTs, os treinos fechados, a blindagem pesada, essa falta de vontade de falar com os jornalistas, fosse ter como vítima apenas a imprensa.

Vladir Lemos é jornalista, apresentador Revista do Esporte e diretor de Esporte da TV Cultura.