No estudo empregou-se um método de testes antes inusual: os participantes gargarejavam durante um minuto uma solução salina especial e depois a cuspiam num tubo de ensaio. Assim poupou-se às crianças o desconforto da usual coleta de muco com um cotonete na garganta.
Testes de reação em cadeia da polimerase (PCR) mostraram que os mais jovens também contraem covid-19 com uma frequência muitas vezes maior do que os adultos, apesar de raramente apresentarem sintomas.
Esse fato problematiza a questão da testagem, como explicou Wagner no canal alemão de TV ARD: "Se só olho as crianças infectadas e aí pergunto se há ainda outras infecções comprovadas nas escolas, sem ter testado também as assintomáticas, não posso fazer nenhuma afirmativa sobre a origem do vírus."
"Ou seja, se o Franz está contaminado, testou-se toda a classe ou apenas se disse que há outros comprovadamente contaminados na classe dele? Só posso fazer uma afirmação se tiver testado pelo menos toda a classe dos alunos infectados, e isso mais de uma vez."
Infecções silenciosas
Até agora, a maior parte dos cientistas partia do princípio de que as crianças em geral não tinham grande relevância na propagação do vírus Sars-Cov-2. Uma pesquisa do Centro Helmholtz de Munique, envolvendo testes de anticorpos, contudo, chegou a outra conclusão.
Entre janeiro e junho de 2020, testou-se a presença do coronavírus no sangue de quase 12 mil indivíduos da Baviera, entre 1 e 18 anos de idade. Como relata a pesquisadora-chefe Annette-Gabriele Ziegler, o número dos contagiados era mais de seis vezes superior ao que se supunha. Entre os que viviam com um familiar que tivera teste de covid-19 positivo, cerca de um terço apresentava anticorpos.
Os anticorpos do Sars-Cov-2 só são detectáveis de uma a quatro semanas após o contágio. Uma vez que quase a metade das crianças infectadas não desenvolve sintomas, a infecção se desenvolve despercebida, favorecendo a disseminação do vírus.
A microbióloga e imunóloga Donna Faber, da Universidade Columbia, explicou à DW que isso se deve a um tipo de linfócito: as células T "virgens" ou "ingênuas". Em suas pesquisas sobre a diferença entre as reações imunológicas de crianças e adultos, ela examinou as assim chamadas "reações não treinadas" e sua relevância para a eliminação do novo coronavírus.
O segredo das células T ingênuas
"As células T jovens reagem a novos patógenos de modo bem diferente: as crianças as produzem constantemente, têm todo um arsenal delas", relata Faber. "Os adultos, por sua vez, perdem no decorrer da vida a capacidade de produzir novas células T virgens."
Estas circulam entre os vasos sanguíneos e os órgãos linfáticos periféricos. Ao entrar em contato com um antígeno, recebem sinal para se multiplicar, reagindo de forma adaptativa. Em contrapartida, as células T dos adultos são treinadas para combater agentes infecciosos com que já se confrontaram, por exemplo, os vírus da gripe.
No caso de ameaças conhecidas, a reação imunológica adulta é bem mais eficaz, mas quando se trata de um novo patógeno, como o novo coronavírus, as células T infantis defendem melhor o organismo.
No combate à pandemia, até o momento tem-se subestimado o perigo de que crianças possam ser contagiosas: apesar de perfeitamente capazes de transmitir o vírus sem que se note, elas são testadas com muito menor frequência, ou nunca.
Como forma de conter o Sars-Cov-2, a cientista Ziegler pleiteia medidas de precaução bem mais severas, em especial nos jardins de infância e escolas, como manter distância, ventilar regularmente os ambientes, seguir as regras de higiene e manter os grupos de crianças e adolescentes num número menor possível. Além disso, seria aconselhável testá-los com frequência, mesmo na ausência de sintomas óbvios.
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