Há quatro dias que o povoado ucraniano de Vrubivka, perto da linha de contato e 50 quilômetros a oeste de Lugansk, enfrenta repetidos ataques. Quatro dias que ela passou basicamente no porão baixo e sem piso. Um pequeno forno elétrico sopra, um tanto impotente, contra o frio úmido. Os moradores carregaram uma cama para baixo.
Há uma idosa que se enterra debaixo dos cobertores e um menino segurando seu celular enquanto dorme. Olena rapidamente pega um saco plástico e sobe para o apartamento. Sua filha está fazendo as malas: ela quer ir buscar um pouco mais de segurança numa cidade vizinha, por alguns dias.
"Eu preferia que ela fosse para os Cárpatos com os meus netos, por umas semanas", comenta, se referindo aos montes situados mais de mil quilômetros a oeste. "Até lá, deve esta mais claro como vai ficar a situação por aqui." Ela se mostra perplexa ao saber do reconhecimento das autoproclamadas repúblicas no outro lado. "Não sei o que isso significa para nós. Nem sei o que fazer agora."
Mais explosões, menos observadores
Há cinco dias, a escalada ao longo de toda a linha de contato vem aumentando. Centenas de projéteis já caíram no lado ucraniano. Não há informações confiáveis sobre como as coisas estão do outro lado. A liderança ucraniana acredita que os rebeldes do outro lado querem provocar uma reação das tropas estatais, e deram ordens para reagir com extrema cautela.
Só deve haver reação se a segurança das tropas for ameaçada. Mas como os soldados reagem no terreno é algo que dificilmente pode ser verificado. A Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que deveria monitorar as violações do cessar-fogo, mal consegue documentar as muitas escaramuças – também porque vários países retiraram seus observadores.
Vrubivka sob bombardeio
Vrubivka está a alguma distância da linha de contato. São 15 quilômetros do povoado até as primeiras posições inimigas – mais ou menos o alcance de um obuseiro. Nos arredores, é o único lugar que vem sendo tão fortemente bombardeado. As janelas na parte de trás do bloco de apartamentos de Olena estão estilhaçadas.
Uma granada explodiu na rua que atravessa o vilarejo. Bem ao lado, no pátio da escola, uma bomba abriu uma cratera logo atrás do gol da quadra de futebol. O serviço de emergência de gás acaba de passar numa van amarela, de estilo soviético. Um funcionário solda a canalização de gás acima do solo, que é frequentemente danificada pela explosão de granadas.
Eles já estiveram no local no dia anterior, conta o trabalhador, acrescentando que foram atacados e tiveram que se esconder sob seu veículo. "Estamos com muito medo", diz uma professora ao lado deles. Ela não quer falar com a reportagem, pois receia desmaiar durante a entrevista.
Vrubivka foi relativamente poupada durante os violentos combates de 2014 e 2015 – apesar de sua localização entre várias grandes cidades que estavam sendo disputadas na época. Agora, o povoado está sob fogo constante, enquanto as cidades vizinhas estão relativamente tranquilas.
"Sempre tem gente que liga para nós e pergunta por que estamos sendo atacados com tanta força", diz Olena Makarenko, que administra o centro cultural local em tempos mais pacíficos. "Mas o que posso dizer? Eu também não sei." Ela acena brevemente para os vizinhos do outro lado do pátio, que estão carregando seus pertences numa van amarela. E sobe as escadas, para ajudar a filha a fazer as malas.
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