Negra, homossexual, moradora de uma favela do Rio de Janeiro, Marielle Franco se destacou por sua atuação em defesa das minorias. Na noite de 14 de março de 2018, o veículo onde a vereadora estava foi alvejado a tiros quando ela voltava para a casa de um debate no centro do Rio. Marielle e o motorista Anderson Gomes morreram na hora. Uma assessora da parlamentar, que também estava no automóvel, sobreviveu. Até hoje, o crime ainda não foi esclarecido.
O assassinato teve ampla repercussão internacional e o caso tornou-se um símbolo da impunidade para esse tipo de crime no Brasil.Justamente para destacar a impunidade, a Anistia Internacional montou uma intervenção urbana com uma instalação com mais de dois metros de altura, em frente à Câmara dos Vereadores, no Centro do Rio de Janeiro. A instalação simula o processo judicial inconcluso até agora, destacando a falta de acesso das famílias das vítimas e seus advogados às informações.
O objetivo é que os pedestres possam "folhear o processo" e ler mensagens sobre a luta das famílias e das organizações da sociedade civil por justiça.
"Já se passaram quatro anos desde o assassinato. Cinco delegados se revezaram na investigação e até agora não responderam quem mandou matar Marielle, nem julgaram as duas pessoas que foram presas e acusadas de serem os autores do crime", disse diretora-executiva da Anistia Internacional para o Brasil, Jurema Werneck.
Segundo a Anistia Internacional, as decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos garantem aos familiares deste crime o acesso às investigações e sua participação em todas as etapas do processo, algo que as autoridades não cumpriram.
"Respeitar o sigilo não significa falta de transparência. A falta de justiça pela morte de um defensor de direitos humanos gera um efeito ameaçador contra outras pessoas que defendem a dignidade e a vida. E há consequências imediatas e de longo prazo para toda a sociedade", afirmou Werneck.
Nas eleições municipais de 2020, a viúva da vereadora, Mônica Benício,foi eleita para uma vaga na Câmara do Rio de Janeiro. A família de Marielle também lançou um instituto que leva o nome da ex-vereadora.
Cidades como Parise Berlim prestaram homenagens póstumas à vereadora.
Presos ainda não foram julgados
Dois suspeitos de executarem o assassinato foram presos em 2019, mas ainda não foram julgados: o policial reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio de Queiroz, acusados de envolvimento com milícia. A investigação apontou que Lessa teria efetuado os disparos, enquanto Queiroz teria conduzido o veículo que seguiu Marielle.
Os mandantes e motivos do crime seguem sem esclarecimentos. Uma série de políticos do Rio de Janeiro figuraram como suspeitos de terem ordenado o assassinato, como o vereador Marcelo Siciliano (PHS), o ex-vereador Cristiano Girão e o ex-deputado Domingos Brazão, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Todos negam qualquer envolvimento.
Os assassinatos de Marielle e Anderson ainda criaram constrangimento para o presidente Jair Bolsonaro. Além de um de seus vizinhos ter sido apontado como executor da vereadora, a família presidencial tinha ligações com outro nome que figurou entre suspeitos de envolvimento no crime, o ex-PM Adriano Magalhães da Nóbrega, um notório miliciano do Rio.
Segundo o Ministério Público, a família de Adriano participava do esquema de desvio de dinheiro público do filho mais velho de Bolsonaro, o senador Flávio. Adriano foi morto num cerco policial na Bahia em fevereiro de 2020, quando estava foragido.
le/cn (efe, ots)
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