Nesta segunda-feira (21/03), representantes de países do bloco discutiram em Bruxelas novas medidas e também deram sinal verde para dobrar o pacote de ajuda financeira à Ucrânia para a compra de armamentos. O valor do novo pacote seria de 1 bilhão de euros.
Uma decisão concreta em relação a um novo capítulo de sanções, no entanto, não ocorreu, uma vez que há divergências entre as nações europeias, representadas nesta segunda por seus ministros do Exterior e da Defesa.
"Hoje não foi um dia para tomar decisões nesta área, portanto, nenhuma decisão foi tomada. O que precisamos é garantir uma resposta eficaz que não leve a um custo incalculável", disse o chefe de política externa da UE, Josep Borrell.
Alguns países, como os bálticos e a Irlanda, pressionam para atingir as exportações de petróleo da Rússia na nova rodada de sanções. Já a Alemanha e outros países que dependem dos combustíveis russos, têm sido relutantes nas sanções a esse setor.
O debate na UE sobre novas sanções à Rússia ocorre principalmente devido à situação em Mariupol, no sudeste da Ucrânia. Sitiada por forças russas, a cidade portuária vive uma crise humanitária, com falta de mantimentos, água, energia e aquecimento.
"O que está acontecendo neste momento em Mariupol é um enorme crime de guerra, onde se destrói tudo e se bombardeia tudo, matando todos", disse Borrell, que também acusou a Rússia de instigar os ucranianos a fugir do país, argumentando que a destruição que ocorre nas cidades não é percebida na infraestrutura de transporte, o que, segundo ele, só serve para amedrontar os civis.
A ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, destacou o aumento dos ataques russos a locais que abrigam civis, como hospitais e teatros.
Os "cortes terão de decidir, mas para mim [essas ações] são claramente crimes de guerra", disse Baerbock.
Até o momento, a ONU estima que em torno de 3,5 milhões de pessoas já deixaram a Ucrânia, e 13 milhões precisam de ajuda humanitária no país. A maioria, mais de 2 milhões de pessoas, fugiram em direção à Polônia.
Irlanda pode deixar neutralidade militar para trás
O ministro do Exterior da Irlanda, Simon Coveney, comentou que a energia é o setor "mais óbvio para concentrar forças para que as sanções realmente façam efeito". Ele também destacou que colocar esse tipo de sanção em prática "não é tão simples assim pelo fato de que vários países da UE têm uma dependência significativa do petróleo e do gás da Rússia".
Coveney afirmou, no entanto, que o encontro desta segunda pode ter pavimentado o caminho para que líderes da UE decidam sobre esse tema em uma cúpula marcada para ocorrer até o final desta semana.
O ministro irlandês também comentou a possibilidade de o seu país se envolver em uma ação militar com outros países da UE, quebrando, assim, a tradicional neutralidade da Irlanda.
"Quanto a uma força de ação imediata, sim, eu acho que há uma boa chance de estarmos envolvidos nisso", afirmou Coveney, ao ser questionado sobre as forças de resposta imediata da União Europeia, devido às novas estratégias de defesa do bloco desde a invasão russa à Ucrânia, em 24 de fevereiro.
Em conversa nesta segunda, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e líderes da Alemanha, França, Itália e Reino Unido discutiram a invasão da Ucrânia pela Rússia e uma consequente resposta coordenada do Ocidente às ações russas no país do Leste Europeu.
A reunião ocorreu poucos dias antes da viagem de Biden para Europa. A partir do final desta semana, ele se reunirá com aliados da Otan, além de líderes do G7 e da União Europeia.
Para o Pentágono, há "provas claras" de crimes de guerra
Os Estados Unidos acusaram a Rússia de cometer crimes de guerra na Ucrânia. Além disso, o Pentágono também informou que trabalha para reunir provas desses crimes.
"Vemos provas claras de que as forças russas estão cometendo crimes de guerra, e estamos ajudando na coleta de provas disso. Há processos de investigação que devem continuar, e vamos deixar isso seguir em frente", disse o porta-voz do Pentágono, John Kirby, durante uma entrevista coletiva de imprensa.
Oleksandra Matviichuk, advogada ucraniana de direitos humanos e chefe do Centro de Liberdades Civis, disse à Deutsche Welle que a organização tem documentado um grande número de violações por parte das tropas russas.
"O Tribunal Penal Internacional terá muito trabalho aqui", disse ela, referindo-se à investigação sobre supostos crimes de guerra na Ucrânia.
Algumas das violações registradas pelo Centro de Liberdades Civis incluem "bombardeio deliberado" de alvos civis, ataques a corredores humanitários, "ataques deliberados" a pessoal médico, o uso de munições de fragmentação e "transferência forçada da população de partes ocupadas para a Rússia", acrescentou Matviichuk.
gb (AFP, Reuters, AP, DW)
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