Retirada russa revela mortes civis em massa na Ucrânia



03/04/2022 06h57

Imagens de cadáveres pelas ruas e em valas comuns geram indignação. Zelenski alerta que invasores russos teriam minado cidades liberadas. Moscou interpreta retirada como gesto de boa vontade para negociações de paz.À medida que as forças militares ucranianas gradativamente retomam àreas em torno de Kiev até então ocupadas por tropas russas, cenas chocantes vão se revelando. No subúrbio de Bucha, 37 quilômetros a sudoeste da capital, numerosos cadáveres de civis e de soldados russos ladeiam as ruas.

Jornalistas da agência de notícias francesa AFP contaram pelo menos 20 corpos em apenas uma rua. "Todos esses foram fuzilados", comentou o prefeito Anatoly Fedoruk, acrescentando que 300 residentes foram mortos em um mês de ocupação russa, estando pelo menos 280 enterrados em valas comuns em outros pontos da cidade.

Repórteres da Reuters viram mãos e pés de vítimas despontando de uma vala ainda aberta no terreno de uma igreja. Seus colegas da Associated Press (AP) também registraram vítimas civis ao longo de uma estrada e no quintal de uma casa. "Eles estavam simplesmente caminhando, e aí atiraram neles sem razão", comentou um residente de Bucha, acusando as tropas russas em retirada dos homicídios indiscriminados.

"Esses filhos da mãe!", exclamou à agência Reuters Vasily, de 66 anos, chorando de cólera enquanto contemplava mais de uma dezena de cadáveres na estrada onde fica sua casa. "Desculpem. O tanque de guerra estava disparando. Cachorros!"

As imagens se propagaram rapidamente pelas redes sociais, desencadeando indignação, também entre autoridades estrangeiras. A secretária de Estado britânica para Relações Exteriores, Liz Truss, declarou-se horrorizada com as atrocidades em Bucha e reforçou o apelo ao Tribunal Penal Internacional para que investigue potenciais crimes de guerra na Ucrânia. Moscou nega estar alvejando civis e rechaça toda alegação de crimes de guerra.

Armadilhas explosivas em cidades liberadas

Autoridades ucranianas informaram neste sábado (02/04) que o exército nacional já liberou mais de 30 cidades e lugarejos em torno de Kiev, tendo assumido ter completo controle sobre a região, pela primeira vez nas mais de cinco semanas desde que o presidente russo Vladimir Putin ordenou a invasão.

A vice-ministra da Defesa Ganna Maliar anunciou no Facebook: "Irpin, Bucha, Gostomel e toda a região de Kiev foram liberadas do invasor." Entretanto as localidades mencionadas se encontram devastadas ou seriamente danificadas pelos combates.

Numa mensagem de vídeo, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, alertou: "Eles estão minando todo esse território. As casas estão minadas, os equipamentos, até mesmo os cadáveres das vítimas." Segundo o mandatário, a intenção seria deixar para trás uma situação "catastrófica".

O serviço de emergência do país afirma ter encontrado mais de 1.500 explosivos em apenas um dia, durante buscas na localidade de Dmytrivka, a oeste de Kiev.

Kremlin: retirada como "gesto de boa vontade"

À medida que se retiram de algumas áreas no norte, nas quais sofreram baixas pesadas, as tropas de Putin aparentemente se concentram no leste e sul da Ucrânia, onde já ocupam amplos territórios.

"A Rússia está priorizando uma tática diferente: recuar para o leste e sul", avaliou nas redes sociais o consultor presidencial Mykhaylo Podolyak, completando: "Sem armamento pesado, não vamos conseguir expulsá-los."

Por sua vez, a Rússia interpreta a retirada da área de Kiev como um gesto de boa vontade no sentido de negociações de paz. Ambos os lados descreveram como "difíceis" as mais recentes conferências, no fim de março, na cidade turca de Istambul e por vídeo.

O porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov comentou que "o importante é as conversações continuarem, em Istambul ou em outro lugar". Uma nova rodada não foi anunciada, porém o negociador ucraniano David Arakhamia afirmou neste sábado que já se fez suficiente progresso para permitir um diálogo direto entre os presidentes Zelenski e Putin. O Kremlin não se pronunciou sobre essa possibilidade.

av (Reuters,AP,AFP,Lusa,ots)

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Carregando...