Zelenski alerta para mais atrocidades nos arredores de Kiev



08/04/2022 06h34

Presidente ucraniano afirma que situação na cidade de Borodianka é "muito pior" do que a de Bucha, onde imagens de centenas de corpos pelas ruas e em valas comuns foram reveladas após a retirada de tropas russas.O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, alertou que a situação em Borodianka, a noroeste de Kiev, é "muito pior" do que a de Bucha, onde a retirada de tropas russas deixou um rastro de atrocidades que causou comoção internacional, com centenas de corpos de civis pelas ruas e em valas comuns.

Em mensagem em vídeo divulgada na noite desta quinta-feira (07/04), Zelenski afirmou que os horrores de Bucha podem ser apenas o começo. Em Borodianka, que fica a 30 quilômetros de Bucha e também foi ocupada por tropas russas durante semanas, o presidente alertou para ainda mais vítimas e uma situação "muito mais horrível".

Pouco antes, a procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, anunciou que equipes de resgate encontraram 26 corpos nos escombros de dois edifícios residenciais bombardeados em Borodianka.

"É a cidade mais destruída da região. É difícil prever quantos mortos existirão", escreveu Venediktova no Facebook.

Segundo a procuradora-geral, o alvo do ataque aos edifícios foi "apenas a população civil", uma vez que "não existe qualquer base militar" na localidade recentemente recuperada pelas forças ucranianas, após a retirada das tropas russas da região de Kiev.

Venediktova alegou ainda que os russos usaram bombas de fragmentação e lança-foguetes pesados que "provocam morte e destruição".

"Há provas de crimes de guerra cometidos pelas forças russas em cada esquina. O inimigo bombardeou durante a noite, quando havia o máximo de pessoas em casa", acusou.

A procuradora-geral afirmou que todos os crimes de guerra e contra a humanidade devem ser documentados, e os responsáveis, penalizados. Ela afirmou haver confirmação também de violência sexual ocorrida em Borodianka.

"Número de mortos cresce a cada dia", diz prefeito de Bucha

Também nesta quinta-feira, o prefeito de Bucha, Anatoliy Fedoruk, disse à televisão ucraniana que investigadores encontraram ao menos três locais de fuzilamentos em massa de civis durante a ocupação russa. A maioria dos mortos foi vítima de tiros, e não de bombardeios, e alguns cadáveres com as mãos amarradas foram despejados em valas comuns, relatou.

Em entrevista à DW, o prefeito afirmou que prefeito afirma que mais de 300 corpos de civis já foram encontrados na cidade e que o número de mortos cresce a cada dia.

Uma reportagem da revista alemã Der Spiegel revelou que o Departamento Federal de Investigações da Alemanha (BND), a agência alemã de inteligência, interceptou mensagens de rádio de tropas russas discutindo o assassinato de civis na cidade ucraniana de Bucha. A Rússia alegou falsamente que as cenas em Bucha foram encenadas.

Em resposta às denúncias de atrocidades envolvendo militares russos na Ucrânia, a Assembleia Geral da ONU aprovou nesta quinta-feira uma resolução que suspende a Rússia do Conselho de Direitos Humanos.

Preocupação com Mariupol

Em sua mensagem em vídeo desta quinta-feira, Zelenski também questionou o que acontecerá quando o mundo descobrir o que as forças russas fizeram na cidade sitiada de Mariupol, no sudeste do país.

Segundo o presidente, em Mariupol vê-se "em quase toda rua" o que se viu em Bucha e em outras cidades da região de Kiev após a retirada de tropas russas. "A mesma crueldade. Os mesmos crimes terríveis", afirmou.

Segundo a administração municipal designada por forças pró-Rússia, cerca de 5 mil civis foram mortos até agora e que de 60% a 70% de todas as residências foram destruídas ou danificadas.

O governo ucraniano, por sua vez, estima que 100 mil pessoas ainda estejam na cidade, onde a situação humanitária é catastrófica. As autoridades ucranianas também estimaram o número de vítimas civis em dezenas de milhares e a destruição em 90%.

Mariupol está sitiada pelo Exército russo há semanas e enfrenta uma feroz resistência ucraniana. A captura é de importância estratégica para a Rússia, pois estabeleceria uma ligação terrestre entre a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014, e a região controlada pelos separatistas no leste da Ucrânia.

Aguardada ofensiva no leste

Na guerra iniciada há seis semanas, as forças russas não conseguiram tomar rapidamente a capital Kiev e não conseguiram cumprir o que países ocidentais disseram ser o objetivo inicial do presidente russo, Vladimir Putin: derrubar o governo ucraniano.

Em meio a reveses, a Rússia mudou seu foco para Donbass, região industrial no leste da Ucrânia onde a maioria fala russo e separatistas apoiados por Moscou vêm combatendo forças ucranianas há oito anos.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reconheceu nesta quinta-feira que a Rússia sofreu grandes perdas durante sua operação militar. "Sim, tivemos perdas significativas de tropas, e é uma enorme tragédia para nós", disse.

Peskov também insinuou que os combates poderiam terminar "num futuro próximo", afirmando que as tropas russas estavam "dando o melhor de si para pôr um fim a essa operação".

O Ministro do Exterior da Ucrânia, Dmytro Kuleba, advertiu, no entanto, que apesar do recuo parcial da Rússia, o país continua vulnerável.

Em meio às denúncias de atrocidades cometidas por forças russas, a Otan concordou em aumentar seu fornecimento de armas à Ucrânia depois de Kiev ter feito um apelo por mais apoio militar da aliança e de outros países para ajudar a enfrentar uma aguardada ofensiva russa no leste.

lf (ARD, AP, AFP)

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